PAISAGEM URBANA

Ipês retomam ritmo e já enfeitam Belo Horizonte

Primeiras da fila, árvores com flores roxas dão espaço às de cor rosa a partir deste mês. Em 2024, florada foi prejudicada pelo clima, que ainda é risco

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 Entre maio e outubro, graças à florada dos ipês nas ruas, avenidas e praças de Belo Horizonte, quem circula pela cidade pode notar um festival de cores, que muda ao longo dos meses. O espetáculo conta com os tons dos ipês roxo, rosa, branco, verde, amarelo. Mais do que beleza, esse fenômeno também reflete como as árvores respondem às transformações do clima na cidade.


De acordo com o inventário mais recente da prefeitura, publicado no portal PBH em junho de 2022, há quase 29 mil ipês na cidade. Este ano, já é possível apreciar as flores do ipê-roxo por todo lado. São 2.678 dessa espécie, que costuma florir de maio a julho, com o espetáculo durando de 7 a 10 dias. “Muita gente confunde esse ipê com o rosa, cuja florada começa em julho. Os tons são parecidos”, conta Fernanda Raggi, bióloga e professora do curso de engenharia ambiental do Centro Universitário UniBH.


Fernanda explica que os paisagistas pensam na estética da urbanização e procuram essas espécies para planejar os plantios e tentar fazer com que a cidade fique florida o ano inteiro. “Ano passado, muita gente reclamou por termos ficado um período com árvores feias e sem flor”, lembra, ao explicar que o cenário foi resultado das mudanças climáticas. “O ciclo dessas árvores fica desregulado e elas florescem ainda com folhas, que tampam a beleza (da florada)”, diz a professora.

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De acordo com Fernanda Raggi, por ora, as árvores estão florescendo no tempo este ano, mas é preciso observar o que ocorrerá a partir de agora. Se o ciclo continuar regulado, o esperado é que os ipês-rosas se encham de flor de julho a setembro. Sua floração dura de 15 a 30 dias, e a cidade conta com 9.768 árvores da espécie.


Depois do rosa, quem enfeita a cidade é o ipê-branco, cuja floração é mais breve, podendo ocorrer entre agosto e outubro, com duração de apenas 3 a 7 dias. Atualmente, Belo Horizonte tem 2.493 ipês-brancos, que segundo Fernanda Raggi, costumam atrair muitos olhares justamente por ficarem em flor por um curto período. Na sequência vem o ipê-verde, incomum no ambiente urbano, com apenas 24 exemplares registrados em BH. A floração, entre junho e setembro, dura cerca de 20 dias em cada árvore.


Fechando o ciclo, entre setembro e outubro chega o ipê-amarelo, “É um dos mais esperados, pela beleza da cor dourada e por marcar a chegada da primavera”, conta Fernanda. A florada de cada espécime dura de 10 a 15 dias, podendo se estender em condições de calor intenso e baixa umidade. Atualmente, há 4.034 ipês-amarelos espalhados pela cidade. Mas a capital também conta com outras espécies que têm flores na mesma coloração, como o ipê-mirim, com cerca de 2,5 mil unidades, e o ipê-do-cerrado, com menos de 150.


“Essas árvores são do cerrado e estão muito adaptadas a períodos secos e temperaturas amenas. Quando passam por estresse, como aumento das chuvas e variação de temperatura, isso estimula a perda das folhas e faz com que concentrem energia na produção de flores, garantindo sua reprodução”, explica a bióloga.


FUNÇÃO ECOLÓGICA E RISCOS

A bióloga chama atenção para a função ecológica dos ipês. As flores além de muito coloridas, atraem os insetos, por ter um néctar saboroso e grãos de pólen muito atrativos. “A função dele é exatamente atrair os insetos mesmo em um ambiente urbano, para que a gente tenha constante polinização garantindo a sobrevivência dessas espécies pela multiplicação dos brotos e flores e também para manter a presença desses insetos na cidade”, explica.


Em julho de 2024, os ipês não floresceram, e as árvores secas chamaram a atenção dos moradores da capital. Na época, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente informou que a causa para a demora eram as altas temperaturas que Belo Horizonte enfrentava desde o começo do ano.


Segundo Fernanda, o descontrole climático nas grandes cidades tem sido cada vez mais intenso e isso tende a alterar os ciclos das árvores, como a polinização e a floração. Esse fenômeno tem impacto não só na estética urbana, mas também na saúde das árvores e na biodiversidade.


“Hoje, o ideal para evitar essas desregulações seria monitorar a variabilidade ao longo de um ano, considerando tanto o período seco quanto o chuvoso”, explica Fernanda. Segundo ela, acompanhar de perto o comportamento das espécies e os eventos climáticos ajuda a entender os impactos que essas árvores estão sofrendo.


Essas informações são fundamentais para serem incorporadas aos planos de arborização urbana, evitando, por exemplo, o plantio futuro de espécies que já se mostram mais vulneráveis às mudanças climáticas. “É um trabalho de readequação, de reorganizar o paisagismo, investindo nas espécies que estão respondendo melhor. Mas não basta olhar só para a espécie, é preciso considerar também a fisiologia e a ecologia de cada árvore, entender como ela interage com o ambiente urbano”, completa a bióloga. 

*Estagiária sob supervisão da subeditora Rachel Botelho

Espécie

Número de árvores


Amarelo    4.034
Branco      2.493
Cerrado       147
Mirim        2.491
Rosa         9.768
Roxo         2.678
Sete folhas   906
Tabaco      6.054
Verde            24
Fonte: PBH

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