Cartas de meninas de sistema socioeducativo ampliam diálogo com Judiciário
Conselho Nacional de Justiça (CNJ) promoveu ação para gravar cartas feitas por adolescentes e lidas por jovens na mesma situação
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Siga noJovens do Sistema Socioeducativo de Minas Gerais e do Paraná se reuniram para ler e gravar cartas escritas por adolescentes na mesma situação. O evento ocorreu em unidades socioeducativas femininas, no dia 14 de maio. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ), responsável pela organização, tem como objetivo criar canais de escuta entre o Poder Judiciário e os adolescentes, além de promover debates sobre a política socioeducativa do país.
A iniciativa surgiu a partir da ação intitulada “Encontros Regionais da Justiça Juvenil e do Sistema Socioeducativo”, realizada em Brasília, em julho de 2023. Quatrocentas e cinquenta e três cartas foram escritas por jovens de todo o Brasil em cumprimento de medidas de internação e semiliberdade.
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O Programa Fazendo Justiça do CNJ, em parceria com o PNUD e o Sinase, elaborou a iniciativa, coordenada pelo Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e Socioeducativo (DMF).
Os encontros deram voz aos adolescentes e ajudaram a qualificar profissionais para reconhecer seus direitos.
O CNJ prepara uma publicação com cartas de jovens de Minas e Paraná, incluindo áudios com trechos lidos, acessíveis por QR Codes.
Em Minas, participaram um Centro Socioeducativo e uma Casa de Semiliberdade femininos.
O TJMG afirma que a identidade das adolescentes, autoras e leitoras, foi preservada com nomes fictícios.
Relatos
Algumas adolescentes mineiras em cumprimento de medida de internação relataram suas experiências. Júlia foi uma das jovens que se identificou enquanto narrava o texto da carta. “Para mim, ler a carta foi muito difícil. Eu me identifiquei muito com a moça da carta, porque tudo o que ela estava falando eu já passei, já aconteceu comigo. Tudo que ela falou me identificou bastante: a vida do crime, a adrenalina.”
Amanda, outra participante, conta que decidiu escrever ao juiz da Vara de Execução. “Eu pensei que também poderia ter a oportunidade de escrever uma carta assim para chegar ao juiz. Agora eu fiz isso, tomei providência”, disse.
Como foi a preparação para o evento
Equipes técnicas das unidades socioeducativas auxiliaram as adolescentes. Elas acompanharam as jovens durante todo o processo, auxiliando na leitura e gravação das cartas, acolhendo-as e promovendo diálogos significativos.
Uma das técnicas, Keila Lucindo, disse que a preparação foi feita por meio de oficinas. Ela contou que o primeiro encontro foi bastante marcante e cheio de emoção. Muitas adolescentes se identificaram com os relatos das cartas.
Em seguida, outras oficinas foram realizadas, incluindo momentos de leitura ao ar livre e cafés literários. A experiência despertou nelas o desejo de escrever suas próprias cartas para o Judiciário. “Percebi como é transformador colocar nossa história no papel. Escrever muda a forma como pensamos e sentimos”.
A diretora-geral da Casa de Semiliberdade, Martha Florença, compartilhou sua experiência sobre a etapa de gravação das cartas. Ela contou que o grupo foi ao estúdio do Centro de Referência das Juventudes para registrar os áudios.
Segundo ela, foi um momento especial, pois as adolescentes puderam ocupar um espaço profissional. No início, estavam tímidas, mas logo se empolgaram com a ideia de continuar gravando poesias e músicas que criaram.
“Foi comovente, pois, mesmo lendo cartas que não escreveram, elas se viam naquelas histórias. Uma carta escrita por uma menina trans foi lida por outra adolescente trans. Foi lindo vê-las se reconhecendo e ganhando voz”, destaca.
O juiz auxiliar da Vara Infracional da Infância e da Juventude de Belo Horizonte, Afrânio José Fonseca Nardy, que faz parte do Grupo de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e Socioeducativo (GMF) e da Coordenadoria da Infância e da Juventude (Coinj) do TJMG, acompanhou a iniciativa.
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