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Até amanhã, a moda brasileira assiste à celebração de 30 anos do São Paulo Fashion Week, com a 60ª edição do evento de moda mais importante do país. João Pimenta, Gloria Coelho e Ronaldo Fraga, todos mineiros, de São Sebastião do Paraíso, Pedra Azul e Belo Horizonte, respectivamente, foram os nomes que abriram o calendário de desfiles na capital paulista.
“Sou do mundo,
sou Minas Gerais”
Dentre tantos brasis, Ronaldo Fraga quis retratar, em sua nova coleção, o Brasil profundo. O estilista mineiro retornou à São Paulo Fashion Week após seis anos de hiato com um desfile que celebra a vida de seu grande ídolo, Milton Nascimento, carioca de nascimento mas mineiro de coração.
“O Milton para mim é um farol, não me deixa perder de mim mesmo. Sinto uma completa devoção”, declara Ronaldo, que relembra o icônico figurino que fez para o cantor e compositor em sua turnê de despedida, em 2022. “Quando fiz esse figurino, falei que era mais difícil do que fazer uma coleção inteira. Um artista como ele precisa de uma coleção toda que o homenageie”.
Depois de três anos, Ronaldo conseguiu realizar esse desejo. Com o trabalho de bordadeiras e rendeiras de Barra Longa (MG), com o linho, o tafetá e o jeans, o crochê e as letras das canções do ídolo bordadas, o estilista trouxe a essência do Brasil de Milton, o Brasil profundo, das Minas Gerais. “Ele deu voz às montanhas de Minas. Para mim, se Minas não chamasse Minas, deveria se chamar Milton”. Não por acaso, a recém-lançada coleção de Fraga é intitulada “Minas Nascimento”.
Vanguarda saudosista
“Eu acho que falar de Milton para minha geração é quase como chover no molhado, mas é importante falar para as novas, que ainda não têm dimensão de que o maior artista do mundo é de alma mineira”, conta Ronaldo, que destaca ter escolhido a infância do artista como inspiração, quando ainda poderia optar por se inspirar em tantos outros momentos, versões ou facetas do ícone da música brasileira. Por isso, inclusive, tantas crianças passaram pela passarela, que simulava um trilho de trem.
O que mais emocionou o público que assistiu ao espetáculo de Ronaldo Fraga foi a atmosfera como um todo, composta por muito mais que as próprias roupas. O espaço escolhido para receber o desfile foi o Museu da Língua Portuguesa, que, não custa lembrar, foi atingido por um incêndio avassalador há dez anos.
“Desde o início eu falava que se eu fosse fazer um desfile com o Milton, gostaria que fosse no Museu da Língua Portuguesa. O que ele compôs ao lado de Fernando Brant são as letras mais lindas da música brasileira”, comenta o estilista.
Alfaiataria do Brasil
A tradicional alfaiataria de João Pimenta ganhou cara nova nesta edição do São Paulo Fashion Week. “Sempre trabalhamos com sobreposições, além de tecidos mais quentes e estruturados. Desta vez, quis pensar no nosso consumidor final brasileiro”, conta o estilista.
Por isso, a busca por uma alfaiataria tropical foi traduzida em peças com tecidos leves, muita pele à mostra, transparência, modelagem ampla e tons vibrantes. “A gente percebeu que não tínhamos uma identidade de alfaiataria brasileira”, destaca João.
Em uma edição que celebra os 30 anos de um evento que luta, justamente, pela valorização e desenvolvimento da moda brasileira, essa busca por roupas feitas por e para brasileiros se mostra ainda mais pertinente e urgente.
E ao trazer a brasilidade em sua forma mais moderna nas peças, João trouxe um contraponto com a locação do desfile. A Biblioteca Mário de Andrade foi palco da coleção “Tropicalizando”. O espaço traz o clássico, o silêncio e uma outra imagem de Brasil.
Democratização
O uso do jeans na coleção (ainda em alfaiataria) simboliza uma democratização da marca. A parceria com a marca 2DNM vai render uma linha mais comercial, com peças produzidas em escala industrial. No próximo dia 20, as peças da nova coleção começam a ser vendidas.
Em movimento
Gloria Coelho foi outra mineira que expôs sua coleção no primeiro dia de São Paulo Fashion Week. Suas peças foram desfiladas dentro de um trem, espaço recorrente para tantos brasileiros e simbólico da vida urbana paulista, mas tão pouco explorado ou visitado no mundo da moda.
Os looks transitaram entre tons de vermelho, bordô, rosa, preto, marinho, etc. Os corsets, a alfaiataria, a transparência e o volume foram algumas das tendências que apareceram nessa coleção diversa que vagou do minimalismo à extravagância.
*Estagiária sob supervisão da jornalista Isabela Teixeira da Costa