IMAGINAÇÃO É O LIMITE

O futuro chegou: impressão 3D abre mundo de possibilidades na moda

A tecnologia nos trouxe a impressão 3D e, com ela, a possibilidade de materializar projetos e desenhos complexos e antes impensáveis de serem produzidos

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Até alguns anos, impressão 3D parecia algo de uma realidade utópica ou futurista. Em pouco tempo, no entanto, essa tecnologia chegou e se estabeleceu como um novo nicho do mercado e, de repente, se tornou possível imaginar objetos e mandar fazê-los de forma personalizada.


O 3D também chegou de forma abrupta na vida de Nelson Rico, que hoje é mais conhecido como Rico 3D. Nascido em São Paulo, é designer de formação, mas trabalhava na área digital, com a criação de sites, antes de mergulhar de cabeça no universo tridimensional.


Como sempre foi criativo e gostou muito de artesanato, ele já não se sentia mais tão pertencente àquele mercado digital onde atuava. Ao mesmo tempo em que se frustrava com a vida profissional, Rico se apaixonava por uma tecnologia que havia levado para casa: a impressão 3D. “Ela entrou na minha vida como um hobby até que, por eu frequentar muitos shows de drag queens com o meu marido, começaram a chegar pedidos delas para que eu fizesse acessórios que não eram facilmente encontrados”, explica.

Rico 3D é o designer responsável pela produção das peças feitas com impressão 3D
Rico 3D é o designer responsável pela produção das peças feitas com impressão 3D Rico 3d/Divulgação


Um dos primeiros e mais marcantes pedidos foi de Vera Ronzella, que solicitou um microfone da Xuxa. “Naquele momento comecei a chamar a atenção do público drag e também de fãs da Xuxa”, comenta Rico.


E assim, cada vez mais, ele recebia pedidos, e ainda cobrava pouco ou quase nada pela produção das peças até que, enfim, criou um Instagram para divulgar esse trabalho. “Fiquei dois anos conciliando o ofício com a impressão 3D e o meu antigo emprego. Faz pouco mais de um ano que deixei aquele trabalho para focar 100% no 3D”, explica o designer.


Ao assumir o 3D como a única profissão, Rico precisou contar com uma máquina que otimizasse o seu tempo. “Em 2023 comprei a minha primeira máquina da marca Bambu Lab, e isso me ajudou a produzir mais peças em menos tempo”, explica. Hoje, ele utiliza o modelo X1C Combo da marca, à venda na Amazon por R$ 16.222.


Materializando sonhos

Vera Ronzella com colar e brincos produzidos por Rico 3D
Vera Ronzella com colar e brincos produzidos por Rico 3D Rico 3d/Divulgação

Atualmente, com alguns anos explorando materiais e técnicas, Rico consegue transformar muitos desenhos, às vezes até imagéticos, em realidade. “Consigo materializar quase tudo que as drags imaginam, acho que é por isso que elas me procuram, além de eu ser também uma pessoa que valoriza e respeita a profissão delas”.


Além de acessórios e peças como coroas e cajados para figurinos ou produção de fotos de grandes artistas como Pabllo Vittar, o designer vem apostando cada vez mais em unir a impressão 3D à moda. “Estudei e ainda estudo muito formas de misturar o 3D com tecidos”, diz.

Hoje, um material que já é utilizado por ele é o tule. Por ter uma trama larga, o material plástico do 3D consegue passar pelo tecido e ficar firme. A impressão, nesse caso, funciona como um sanduíche: há duas camadas de 3D e, no meio, o tule. Assim, ele consegue colocar detalhes em retalhos do pano como spikes ou outras texturas e relevos.

Roupa de Gaby Amarantos tem anjos feitos por Rico 3D
Roupa de Gaby Amarantos tem anjos feitos por Rico 3D Rodolfo Magalhães/Divulgação


Uma das pessoas que vem valorizando e utilizando o trabalho de Rico no mundo da moda é o estilista Walério Araújo. Reconhecido pelo trabalho com diversas celebridades e pessoas notórias do país, ele usou o trabalho do designer, por exemplo, em detalhes do look usado por Gaby Amarantos na celebração dos 50 anos da Vogue Brasil. Em um vestido que até parece um bolo vintage, foram aplicados anjinhos brancos feitos em impressora 3D por Rico.

Efeito vitral

O uso do LED destacou o efeito vitral do look em impressão 3D de Mercedez Vulcão
O uso do LED destacou o efeito vitral do look em impressão 3D de Mercedez Vulcão Renan Simões/Divulgação

No último mês, foi divulgado um dos mais impressionantes trabalhos de Rico ao lado das drags Mercedez Vulcão e Malonna, que desenhou a peça: um vestido totalmente feito em impressão 3D. O look foi criado para Mercedes levar à segunda temporada do programa Drag Race Brasil, mais especificamente para a passarela com o tema “coração de vidro”, que estava na programação do que seria gravado e, portanto, no radar de Mercedez e Malonna, que a ajudou muito com o estilo e preparação dos looks.

Uma das inspirações para o vestido criado com Rico foi o clássico abajur Tiffany, desenvolvido por Louis Comfort Tiffany, um designer norte-americano. A peça se tornou um ícone da estética Art Nouveau, e é composta por vitrais coloridos que formam desenhos com flores e libélulas.

A outra referência trazida por Malonna foi a coleção “12 Unwearable Dresses In Contemporary Materials”, ou, em português, “12 vestidos inutilizáveis em materiais contemporâneos”, de Paco Rabanne. Esse foi o primeiro desfile do estilista, em 1966, quando ele criou peças com materiais como plásticos e chapas metálicas ligadas por elos também em metal.

“O objetivo do programa era que as drags usassem, nessa passarela, roupas que de fato parecessem ter sido feitas de vidro. Logo, lembrei da coleção de Rabanne que usava materiais improváveis e, depois, de uma vez que eu tinha trabalhado com o Rico na produção de peças com uma espécie de plástico translúcido para a produção de uma ópera, onde trabalho com visagismo e figurinismo”, conta Malonna, que é de BH e tem formação em moda pela UFMG.


Produção

A partir da ideia, se iniciou a produção do figurino, que não foi nada fácil. “O processo de criação foi feito por nós três, cada um contribuindo com o que entendia melhor”, destaca Mercedez.
Malonna foi responsável pelos moldes em papel e, posteriormente, Rico pelos moldes 3D. “Fizemos três protótipos em tamanho real de papelão para testarmos o caimento e as cores, foi só depois disso que as peças passaram para a impressão”, conta.

Rico produziu, em material levemente translúcido, para dar um efeito de vitral, 56 peças ao todo (sem contar a parte dos acessórios como o chapéu) se uniam por elos metálicos. A estrutura da roupa é um corpete com sutiã em forma de cone e uma saia abaulada, que remete a um abajur. “Minha parceria com estilistas e com quem faz desenhos de moda é muito importante, até porque minha formação não é nessa área”, ressalta o designer.

Malonna e Mercedez também desenvolveram um chapéu casquete para compor o look e trazer ainda mais a referência do abajur, afinal, ele tem uma libélula aplicada. Apesar de ser menor, essa peça é uma das mais sensíveis e complexas de ser transportada. “Foi o que deu mais trabalho para guardar e também para o Rico montar”, explica Malonna.


Iluminação

Figurino de Mercedez Vulcão é 100% feito de impressão 3D
Figurino de Mercedez Vulcão é 100% feito de impressão 3D Renan Simões/Divulgação

Como se não bastasse a dificuldade em montar manualmente o vestido, ainda era preciso pensar em como encaixar os leds na peça, para destacar o efeito vitral. Malonna e Mercedez passaram uma noite inteira montando o vestido e, depois de ver ele pronto, sentiram que o led seria essencial na saia, além do corpete e do coração (removível) da peça, conforme tinham combinado.

Assim, em pouco tempo, Malonna conseguiu uma espécie de anágua que ficaria posicionada no interior da saia, onde seriam conectados e armazenados os fios, sem que aparecessem.


Rico também destaca que a parte da iluminação foi uma das mais desafiadoras, e que chegou até a ligar para o seu pai para que o ajudasse, mesmo que por videochamada, a criar o sistema elétrico perfeito para a peça.


Transporte

Outra grande dificuldade com o look foi a logística, o transporte dele. Mercedez precisou levar a roupa para a gravação do reality show em uma mala, com bastante plástico bolha. “Eu cheguei na gravação e a primeira coisa que fiz foi abrir e ver se estava tudo certo com a roupa”, conta a drag.

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Felizmente, a peça chegou em perfeito estado no destino, e a drag conseguiu desmontá-la em três partes para facilitar na viagem. Infelizmente, ela não conseguiu usar o look no programa, pois foi eliminada antes do episódio da passarela com o tema “coração de vidro”. “Com certeza era o look que ela mais queria ter mostrado, tinha certeza que seria impactante e incrível”, conta Mercedez, que aproveitou para usá-lo em uma “watch party”, festa onde as pessoas se reúnem para assistir ao programa.

*Estagiária sob supervisão de Isabela Teixeira da Costa

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