Homenagem ao autoral: designer Mary Arantes convida para evento em BH
Entre moda, arte e design feitos em pequena escala, primeira Quermesse da Mary em setembro valoriza produtos com propósito, que refletem experiências diversas
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Siga noAvessa a tendências e à produção e consumo em massa, a moda autoral é sinal de identidade, bagagem e singularidade. Carrega traços inegáveis do criador, que participa de todo o processo, da seleção de materiais à entrega ao cliente. A pequena escala está na ordem do dia. Esse é um modelo que prioriza a pesquisa de matérias-primas, enaltece o artesanato e o feito à mão e, muitas vezes, se envolve com o contexto social e a sustentabilidade.
As coleções são manifestações da visão e da história de quem faz, indo além do que é momentâneo. Ao contrário da moda comercial, engessada em padrões, é um produto de valor imaterial, com propósito e exclusividade, que reconhece e reflete experiências culturais diversas.
É para celebrar esse universo que a designer Mary Arantes convida para a próxima Quermesse da Mary, na primeira edição em setembro - o espaço na Serra recebe o evento entre os dias 12, 13 e 14. "A palavra autoral já é conhecida do evento, mas o foco dessa edição, além do design e das artes em geral, é dar visibilidade à moda autoral. Criadores incríveis com pequenas produções, cada vez mais conscientes, em resposta a um mundo fashion em que o excesso parece ter vindo para ficar. Mostrar esses talentos é a nossa intenção", convoca Mary.
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A designer reforça que a proposta vem de encontro ao momento crítico que a moda mundial experimenta - montanhas de roupas descartadas, produzidas em massa pelas grandes cadeias do fast fashion, vendidas a preços baixos, feitas por mão de obra escrava.
No time do evento, novos criadores preocupados com toda a cadeia produtiva. Artistas conscientes que produzem em menores quantidades, que reusam tecidos ou madeiras que seriam descartadas, praticam o upcycling (reaproveitamento de materiais já existentes) e o zero waste (desperdício zero).
"E que, assim, só poderiam criar o diferente, o exclusivo, o único. Esses novos talentos deixam de lado a condição de colonizados, seguidores de tendências internacionais, lançamentos com datas impostas pelo mercado, e se arriscam a inovar, a fazer o desigual. Frequentemente, suas coleções dialogam com histórias locais, artesanato, memória e contextos sociais", diz Mary.
Identidade
A ARQVO exibe joias que lembram um objeto fossilizado da época dos gabinetes de curiosidade, espaços onde se guardavam fragmentos de fauna e flora, além de achados exóticos descobertos em grandes explorações. A paulista Camila Alves é a designer por trás da marca, que busca em pequenos pedaços da natureza sua personalidade e beleza. Montagens inusitadas, peças atemporais e sofisticadas, que ao mesmo tempo são divertidas e podem misturar-se, caracterizam a etiqueta, que explora a assimetria.
A designer tem como referência estudos biológicos e naturais, lembra do universo vintage, artístico e do cotidiano simples - usa apenas elementos naturais, como conchas, pérolas, pedras, ossos, madeiras e vidro, respeitando o que cada material tem de único, muitas vezes trabalhados em sua forma bruta.
Com um portfólio diversificado, Blade Tailor participa da Quermesse com criações em alfaiataria, camisetas, acessórios e itens de pronta entrega, um verdadeiro panorama de tradição, criatividade e estilo atemporal. Um conceito de vestir que honra a memória da família Durães, com mais de seis décadas de tradição na moda masculina, e projeta novos caminhos para a moda contemporânea, agora sob a batuta do designer, artista e empreendedor Marcelo Durães.
No guarda-chuva, diferentes vertentes criativas, com ternos, paletós e coletes de alta alfaiataria, camisetas premium em algodão egípcio, pensadas para executivos, artistas e políticos que buscam elegância em ocasiões menos formais. Também peças autorais como coletes de avental e dólmãs, que unem moda e gastronomia em desenho funcional, e acessórios independentes como bonés, cartolas e criações especiais.
Estilo livre
Liberdade, presença e simplicidade são algumas palavras que definem o estilo Camila Romero. São acessórios em acrílico para que diversos tipos de mulheres e looks se façam notar. Com inspirações provocadas por emoções, desejo, leveza e a ousadia de mostrar sua identidade, nascem designs icônicos, que brincam com volumes e combinações de cores, de maneira intuitiva e fluida.
As peças ressaltam olhar criativo e consciência ambiental - muitas partem de resíduos da própria produção, e também de outras fontes. Pequenos retalhos são transformados em itens cheios de significado. A estilista não segue coleções ou temporadas - para ela, mais que um detalhe, o acessório é uma história que se reveste em beleza e propósito, e acompanha quem escolhe. Cada item brota em seu tempo.
Da infância
A Cocoon surge em 2010 de uma metamorfose de cores e texturas. Um caminho que principia antes, com a Chiton Brasil, nome inspirado na chita, tecido que é referência da brasilidade para a fundadora, Lucia Bosco. Formada em estilismo pela Belas Artes em 1993, Lucia vive em Lagoa Santa e traz na bagagem lembranças lúdicas que se tornaram o seu modo de vida.
Tudo começou com as bonecas de Nilcea Moraleida, que desenhava peças com roupas específicas para cada ocasião. Lucia, ainda criança, fazia desfiles na mureta da sua casa para mostrar as bonecas às irmãs e amigas. Uma simples brincadeira de criança, que se tornou uma grande paixão e inspirou a criação de sua própria marca. A Cocoon é a materialização desse universo criativo, cheio de cores, uma ode à infância e à arte.
Como um voo coletivo, um movimento de valorização da infância, da produção artesanal e do empreendedorismo feminino, o Criando Asas celebra o ser criança com leveza, criatividade e significado. O coletivo, nascido em 2024, reúne marcas autorais mineiras lideradas por mulheres, e acredita que brincar e vestir podem ser experiências que despertam afeto. O nome traduz o espírito: dar asas à imaginação.
Enquanto as criadoras alcançam novos horizontes, os pequenos encontram em cada roupa e brinquedo um convite para explorar o mundo de forma lúdica e livre. À frente do coletivo está Olga, mãe e entusiasta do universo infantil, que conecta criadoras e famílias, imprimindo identidade e propósito ao movimento.
Joias
A mineira Bárbara Teles é psicóloga de formação, mas encontrou no design sua verdadeira paixão. Babi desenvolve acessórios atemporais, versáteis e de qualidade - assim é a Copella, marca que tem como foco a produção de joias em prata 925, algumas em banho de ouro, que vão do clássico ao contemporâneo, das formas geométricas às orgânicas. Além da prata, são utilizados outros materiais como pedras naturais, pérolas e cristais austríacos. Produzidos em Minas, com mão de obra de ourivesaria, os itens transcendem tendências - primam pela elegância e design duradouros.
A joalheria autoral de Gabriella Santos se afirma como referência em design ecologicamente responsável e experimentação de materiais não convencionais, com especial domínio de técnicas em papel. Cada peça nasce do encontro entre artesanato de precisão e narrativa estética, transformando elementos simples em joias de alto impacto visual e simbólico.
Com produção totalmente artesanal e foco na responsabilidade ambiental, Gabriella desenvolve coleções que dialogam com arte, cultura e ancestralidade, explorando texturas, volumes e formas arquitetônicas. O papel, material central de sua pesquisa, é tratado com técnicas que garantem resistência, durabilidade e acabamento de joalheria fina, desafiando percepções sobre luxo e sustentabilidade.
Professora e doutora em artes e cultura visual, Gabriella sabe que uma marca ou estilista é considerado autoral quando cada coleção carrega narrativa própria, combinando história, valores e estética, com identidade visual consistente.
Com as criações de Domingos Sávio Gariglio, a Gariglio Design ancora-se na concepção de uma joalheria mais artística. O nome tem origem familiar, na ascendência italiana do designer, que imprime um toque de sofisticação no trabalho. Trata-se de uma joalheria de autor, longe das peças seriadas, em itens únicos, personalizados e exclusivos.
Feitas para quem busca produtos que provocam, valorizando a liberdade criativa com ousadia, são joias artesanais, com design atemporal, que fogem aos ditames da moda. Domingos imprime originalidade nas formas, combinando materiais pouco convencionais, colocando ao lado de prata e ouro pedras lapidadas e brutas, ressignificando materiais às vezes considerados descarte - como um cabo de garfo em marfim, que se torna um lindo pingente.
Petiá é o nome de uma madeira nobre encontrada na Amazônia e na Mata Atlântica. Também é como se chama a marca das irmãs Adriana e Martha Espírito Santo. São joias artesanais, feitas em baixa escala, explorando, como elementos principais, madeira de reuso e prata.
Amantes dos trabalhos manuais, as duas deixaram a atuação como contadoras para investir no que lhes dá prazer de verdade. A partir dos resíduos da escola de marcenaria do pai, surgiu a ideia da criação da Petiá. Cada peça é feita a mão e carrega a simplicidade da natureza. O resultado são joias minimalistas, com traços modernos e alma antiga, celebrando o cuidado com os materiais e o fazer consciente, cheio de afeto.
Arte em manifesto
Na interseção entre a pintura e a costura sustentável, com uma abordagem que explora a memória, a vestimenta e a apropriação, a artista visual Cristina Rovesse faz do que muitos consideram lixo obras de arte. Frequenta espaços de economia circular como bazares e sebos, e coleta tecidos e materiais rejeitados para desconfigurá-los e reinventá-los.
Uma prática não apenas como opção estética, mas um manifesto artístico contra a cultura do descartável. Ao dar nova vida a esses fragmentos, a artista questiona o valor dos objetos e o impacto do consumo. Cada peça chama o espectador a enxergar mais de perto, descobrir os vestígios de história por trás dos retalhos, e testemunhar a força de uma rede que une o que parecia irremediavelmente separado.
A De Araque é uma marca independente de camisetas bordadas à mão. Criada em São Paulo por Bruno Aranha, mistura humor e crítica social com estética handmade. Com traços simples e frases originais, traduz dilemas cotidianos, tensões políticas e absurdos da vida digital. Mais que o produto, a De Araque constrói narrativas visuais.
Cada estampa é uma crônica urbana que ganha o tecido, com ironia e afeto, transformando expressões populares e críticas contemporâneas em moda. A marca dialoga com quem busca se expressar, rir de si mesmo e questionar o mundo, sem perder a leveza.
Fora da caixa
Artista visual e educadora, Duda Salim desenvolve uma pesquisa centrada nas poéticas do bem-querer, com ênfase nas experiências cotidianas que se configuram ao redor da mesa e das refeições compartilhadas. Sua prática artística investiga as relações interpessoais e os vínculos de amizade, compreendendo-os como formas sensíveis de resistência e produção de sentido. A produção abrange pintura, murais e trabalhos editoriais, marcada por uma abordagem sensível, em que os gestos ordinários tornam-se matéria visual.
Higor e Yan são as mentes e mãos que formam o Estúdio Libero, com suas obras inusitada e fora da caixinha. As peças carregam referências lúdicas e surrealistas, que transitam entre esculturas, utilitários e joias. Fundado em 2019 pelo artista e ceramista Higor Serpa, o projeto surgiu com a proposta de reunir e divulgar suas criações e experimentações artísticas na cerâmica. Em 2024, o estúdio recebe o também artista Yan Dias.
O nome vem do italiano e significa “livre”, traduzindo a intenção de ser um espaço aberto para desenvolver ideias com diferentes mentes e materiais. É no desejo de ousar nesse espaço criativo sem amarras que a dupla desenvolve peças curiosas, empregando variadas técnicas de modelagem cerâmica e diferentes tipos de queimas, como Raku, a lenha e a gás, por exemplo.
Dizeres
Conhecida por cunhar frases interessantes, a multiartista e escritora paulistana Ida Feldman faz de tudo um pouco. É artista plástica, faz fotos, arte colagem, é curadora e produtora da Feirinha da Ida, e algumas de suas sentenças estão em produtos de lojas conceituadas. Sua relação com as artes plásticas e o cinema vem da infância. Seu pai, o cineasta Aron Feldman, e seu irmão, o escritor Cláudio, a inspiraram a construir sua identidade criativa e a edificar o universo lúdico que lhe é peculiar.
Ida Feldman dá o nome de um prêmio que existe, desde 1998, no Mix Brasil, o maior festival latino americano LGBTQIAP+. Tem passagem por diversos eventos e iniciativas ligadas ao design e intervenções urbanas e criou um tarot com referências do tarot de Marseille, explorando suas experiências energéticas e colagens autorais, que ganhou uma linha de copos. Para a Quermesse, traz azulejos antigos e pratos comprados em antiquários para escrever, com ironia, suas frases, além de figas, livro e o tarô.
Com a Imanto, a produtora de moda e artista Thais Mol está no time da Quermesse. São vestíveis que reverberam como verdadeiros mantos, confeccionados com retalhos de tecido que seriam descartados pela indústria têxtil ou incinerados. O manto é um objeto tradicionalmente usado como forma de proteção, de retorno ao lar, ao universo interno e subjetivo.
A artista propõe o uso dessas peças como uma sobreposição. Não há look pronto - a individualidade é o que se manifesta. O Imanto também é atração, o magnetismo que a roupa e as aparências podem gerar. Na Quermesse, Thais apresenta os vestíveis, uma série de acessórios e mantos unissex e sem numeração.
Responsabilidade
O Instituto Fred tem 27 anos de atuação promovendo oficinas de tapeçaria, na técnica trama sem nó, em presídios e comunidades de Contagem e outros municípios mineiros e fora do estado. Nasceu pela experiência de Andréa Ambrósio com a passagem do irmão, Frederico, pelo sistema prisional. As aulas surgem para ajudar na ressocialização de outras pessoas nas mesmas condições.
Os tapetes são feitos com reaproveitamento de retalhos de malha descartados pela indústria têxtil, em um trabalho de pintura pontilhista ou mosaicos, colorindo desenhos desenvolvidos pelo artista Rodrigo Mogiz, junto com as alunas/artesãs.
Neste ano, os tapetes recebem figuras que remetem à mineiridade, estampados com azulejos, xícaras de café, sagrados corações, casas do interior e expressões do mineirês. Além dos tapetes, o instituto apresenta bolsas, mochilas, jogos americanos e almofadas, também feitos aproveitando sobras de tecidos diversos em composições geométricas, abstratas e de cores marcantes. O instituto é o convidado especial dessa edição da Quermesse que, como de praxe, apoia uma instituição beneficente.
Memória
A mineira Jabú propõe vestir histórias. Inspirada na jabuticabeira da bisavó de Natalia Carolina de Oliveira Costa, sua criadora, a marca surge enraizada em afetos e memórias coletivas. Natalia é artista com formação em teatro e foco em dramaturgias autobiográficas. Suas criações, tanto em cena quanto no tecido, vêm do mesmo lugar: o desejo de contar histórias e criar conexões de afeto.
As peças nascem primeiro na escrita, através de poesias visuais que misturam natureza, vivências, relações, e resultam em brincadeiras como bicho do mato, filhote de onça, corpo de rio. As ilustrações são feitas por artistas convidados.
A produção é autoral, em tiragens limitadas, no equilíbrio entre o simples e o ousado. São itens amplos, com grade inclusiva, feitos em algodão sustentável, no diálogo entre o cuidado estético e a consciência ambiental. A Jabú se posiciona como um espaço onde cada detalhe celebra o que já foi vivido e o que ainda está por acontecer.
Ser criança
Molu é uma marca para crianças, de moda lúdica e educativa inspirada no Nordeste. Com o propósito de educar além do vestir, Luciana Aragão cria coleções com estampas que revisitam clássicos infantis, em roupas com cultura e personalidade. Incentivar o resgate de ancestralidade e pertencimento de maneira divertida é a missão.
De 2022, a coleção A gente é Nordeste traz patrimônios culturais de cada um dos nove estados nordestinos, inspirando o design das modelagens. Do ano seguinte, a linha Xilo encantado reconta clássicos infantis em cápsulas.
Aí aparecem um João que vende um bumba meu boi em troca de feijões mágicos e um pequeno Príncipe que deixa seu planeta Nordeste com sua flor de mandacaru para viver novas experiências. Surge a cesta da vovozinha, recheada de quitutes tipicamente nordestinos para a Chapeuzinho vermelho se deliciar. Entre asas, batuques e um sapo bem sapeca, nasce o pré-lançamento da coleção Festa no céu. Tudo que emoldura uma identidade cheia de poesia e brasilidade.
A My Little Doll é o encontro entre a psicologia, a arte e a magia da infância. A criadora, Talita Miranda, é psicóloga e consteladora familiar, apaixonada por arte e desenho. Em 2021, inspirada pela vivência de sua filha em uma escola Waldorf, criou seu primeiro presépio de PegDolls, em uma maleta artesanal, para o tradicional bazar de fim de ano. O sucesso foi imediato.
Os produtos são feitos com materiais naturais, sustentáveis e duradouros, pintados à mão. A marca nasceu no Natal e até hoje essa é uma de suas coleções mais encantadoras. Agora a criação ganha outros cenários, como contos de fadas, presépio, casinhas, histórias clássicas. Pegdolls individuais lembram artistas, celebridades e personagens icônicos, em caixinhas de madeira ou cúpulas de vidro.
Moda conceito
Na NotEqual, toda a pegada transgressora do estilista Fabio Costa, nome que desponta na moda feita em Minas. Ele aproveita muito de sua experiência vivendo em Nova York para compor uma roupa corajosa. Uma moda conceito, de vanguarda, que demonstra o que o criador acredita e toma como sua identidade.
A produção baseia-se em uma tiragem limitada, com poucas peças de cada modelo, o que faz da roupa praticamente exclusiva para quem compra. Não se trata de tendência. É muito antes um caminho pelo o que é verdadeiro para Fabio. Para o encontro de Mary Arantes, novidades e peças com valores promocionais.
Sandra Oliveira Cruz faz roupa sem gênero, atemporal, fora de temporadas e tendências. Faz roupa para durar, para ser roupa novamente. Com a Salu, cada peça da estilista carrega uma história tecida com fios de memórias e emoções. A maioria é feita a partir de tecidos antigos, que já fizeram parte da vida de muitas pessoas, adornando mesas em grandes festas, ou no cobertor feito por vó, como Sandra imagina.
Ela vê recordações em cada detalhe - nos bordados, pinturas, nos tipos de tecido. Até mesmo em manchas e furinhos - em tudo há beleza. O desejo é que as peças levem essas histórias e se tornem parte de novas vidas, criando memórias com novos donos. Que sejam um elo entre passado e presente, e que as histórias continuem a ser tecidas com amor e cuidado.
A marca Paty Assunção nasceu da vontade de transformar o simples em algo desejável. Com mãos que expressam sentimentos, toda a produção é artesanal. Pela primeira vez no time da Quermesse, Paty apresenta bolsas e sandálias bordadas, incluindo o último lançamento, uma sandália com acabamento em crochê. Detalhe de sofisticação e estilo, os calçados também recebem aplicações de broches. No diálogo entre intensidade e drama, surgem peças únicas, que expressam a personalidade da criadora.
Uma mulher livre, exuberante, independente, divertida, colorida. Uma mulher solar, culta, sem medo de ser feliz. Sem idade, um manifesto à liberdade, forte, à frente de seu tempo, com vontade insaciável de viver. Assim é Gilda, a persona que empresta a identidade para a marca de moda criada pelas artistas plásticas Eula Teixeira e Érica Lorentz.
Com a proposta slow fashion, Eula e Érica criam uma linha de vestíveis e acessórios, sem tempo, desvinculada a tendências, conjugando moda e arte: o corpo como suporte (ou tela), para a obra, ressignifica o conceito de arte vestível.
As peças em Gilda são instrumentos de individuação, inéditas e originais, que não podem ser repetidas. Além de roupas, como os quimonos, são bolsas, colares, bonecas, sacoches (bolsas pequenas), pins, nécessaires, telas e quadros. Itens que são verdadeiras declarações de quem se atreve a viver sem padrões, apenas com a autenticidade de ser. Mostram que a estética não se limita à moldura ou à parede: pode ocupar outros formatos e ganhar movimento ao ser uma peça de roupa.
A Portanto pensa as roupas como casas, espaços de recordação, de se guardar o sensível, abrigo em movimento, trama que envolve a pele. Para João Marcos Lisboa, o criador, vestir é uma constante afirmação do ato de viver.
Para o estilista, o corpo é lugar do inconsciente a ser desperto, embrulho delicado de tamanhos e formas tão únicos e especiais - portanto, homenagear o corpo é vesti-lo. É o que chama poesia vestível. João faz o que se pode considerar alta costura. Tudo é elaborado com materiais orgânicos, como seda pura e algodão, construindo experiências têxteis. Roupas que se parecem casulo, lugar de transformação, roupa como proteção.
A partir da textura de tecidos, cortes e volumes que a sua união permite, Teresa, de Jonas Samudio, procura desenhar um outro corpo sobre o corpo. Costura peças, no encontro entre a tessitura das superfícies têxteis e a da pele, retirando o mínimo dos tecidos, muitas vezes retalhos, já em estado de mancha, de imperfeição.
Faz enxertos, desenhando dobras e silhuetas, aproxima diferentes texturas, cores e matizes, em um fazer alinhado à proposta de modelagem zero waste. Afirma que o tecido, no retalho, está pronto para se tornar veste - basta dar-lhe nascimento, reconhecer-lhe poesia, e vesti-lo.
Teresa Texto Tecido propõe, a partir de Santa Teresa, que os nomeia, e de seus textos, um traço que singulariza o vestuário, razão pela qual todas as peças são únicas, assim pensadas e elaboradas. Irrepetíveis, tal como um poema que se escreve sobre o corpo, assim como usufruir de tal vestuário é uma experiência singular.
De Três Corações, a Uai Soul, dos irmãos Felipe, Camila e Paula Ferreira, contribui para a preservação e evolução da identidade cultural de Minas Gerais. A marca faz isso com elegância, enaltecendo o jeito mineiro de falar, quase uma cantoria. Criadas pelos sócios e por artistas mineiros, as estampas são inspiradas em histórias vividas, culturas, arquiteturas e riquezas.
Em roupas que são um estado de espírito, a Uai Soul tem a alma em inglês com mineirês, para que Minas e o mundo compreendam a mineiridade. Entre camisetas, ecobags e necessaires, citando apenas alguns, os produtos são a materialização do afeto, têm cara de casa de vó, o aroma de aconchego do café passado na hora, o retrato da simpatia e da hospitalidade do interior.
Com aproveitamento total de retalhos de tecidos para criar roupas em pequena escala, o zero waste e o upcycling são o mote do trabalho da Valezero, da estilista uruguaia Valéria Ferré, em um fazer consciente, avesso a grandes produções, ao fast fashion. Em seu DNA criativo, ela tem predileção por texturas e cores, refletida através de modelagens não convencionais. É um exemplo do que a Quermesse de setembro pretende evidenciar.
Da madeira e a raridade
Concebida pelo violonista encantado por madeiras, Gustavo Souza, que sempre esteve entre gente que trabalha com as mãos, a Tamborete.Brasil é uma marca jovem. Uma vivência cotidiana que, somada à trajetória artística do criador, dá origem a uma etiqueta dedicada à fabricação e ao garimpo de objetos em madeiras nobres, trabalhadas em desenhos singelos.
O nome Tamborete foi escolhido pela franqueza do objeto: trivial e indispensável, feito para durar. Ele traduz a essência da marca. Às vezes a Tamborete cria, às vezes encontra. Desse movimento nascem coleções que revelam a força da madeira.
Pedro Eustáquio Crivellari tem expertise na atuação com arte e antiguidade, há mais de duas décadas. Mora em BH há um ano e meio, onde segue o trabalho com a galeria e o antiquário que mantinha em Ponte Nova, sua terra natal.
Entre mobiliário, obras de arte, prataria, joias, itens sacros e outras preciosidades, seu processo de busca por objetos parte em sua maioria pelo inventário de acervos de famílias - é chamado por parentes de pessoas falecidas para catalogar peças e coleções e proceder com a venda, quando de interesse. Também garimpa itens diversos e raros em feiras de antiguidades, brechós, bazares e onde mais seu olhar apurado aponta.
Para a primeira participação na Quermesse da Mary, leva porcelanas, xícaras, bibelôs, miniaturas e toda sorte de miudezas. Tem entre as relíquias exemplares da porcelana inglesa borrão, louça azul e branca produzida na Inglaterra, principalmente na era vitoriana. Um caminho que casa com a proposta do evento, já que o antiquário também é um espaço de reuso, de dar novas direções a elementos que vão carregando memórias por onde passam.
Doces, salgados, comes e bebes
No Jardim da Quermesse, a área verde convoca a passar o dia entre plantas, arte, comes e bebes. O espaço está repleto das delícias da gastronomia, com marcas de diferentes tipos de produtos, tudo escolhido com esmero - Mary Arantes prova antes cada receita, e convida toda a família, inclusive os bichinhos de estimação, para desfrutar o lugar de encontro.
De Graziela e Flávia Ferreira, a Dama de Empadas traz para a Quermesse empadas artesanais, preparadas com ingredientes frescos e selecionados. Com os clássicos sabores com frango, camarão, carne seca, até combinações da mesa mineira, como a empada de queijo com goiabada, agrada todos os paladares. Também oferece quibes, para fritar e assados, entre opções vegetarianas e veganas.
André Gabrich é o padeiro por trás dos pães e folhados de fermentação natural produzidos semanalmente para a Dédé Pães Artesanais. Há sempre opções de pães clássicos e versáteis para qualquer tipo de acompanhamento, como o pão 100% integral ou a baguete e pães rústicos, enriquecidos com farinhas de centeio ou fubá de milho crioulo e harmonizados com recheios como castanhas, frutas secas, queijos e ervas frescas.
Para os amantes de pão doce fofinho e amanteigado, tem o clássico brioche. Os folhados também estão entre as fornadas da semana. Do croissant e pain au chocolat ou folhados recheados, como o pain suisse e o croissant aux amandes, são muitas delícias.
A cada mordida, a Dona Torta, uma doninha atrevida e simpática que surgiu em meio ao caos para dar doçura à vida, com receitas simples, muitas de família, traz lembranças e sorrisos, conta histórias e celebra momentos, sempre em boa companhia.
Entre preparações apetitosas, como versão crocante com pistache e caramelo e o pudim de leite condensado digno de cinema, as tortas de Dudu Pônzio são mais que sabor - são experiências.
A Zoraida Cozinha Milënar, de Zoraida Ione Santos Monadjemi, surge na Quermesse com os gostos ancestrais unidos a sabores de ervas, especiarias, alimentos e tudo que envolve o nutrir. Em uma relação de amor com o alimento, Zoraida traz vivências do berço da civilização, com pratos persas, árabes e as raízes mineiras tribais e afrodescendentes. A riqueza da alquimia leva a uma experiência sensorial que nutre corpo e alma.
Em um mercado tradicionalmente dominado por marcas masculinas, está a Cafem, uma etiqueta de café criada e idealizada por mulheres, com o objetivo de dar visibilidade a pequenas produtoras e celebrar suas histórias a cada xícara.
Laura e Luiza são duas irmãs de uma família de produtores de café que, após um reencontro com as raízes familiares na Itália e a experiência de provar cafés em viagens pelo mundo, desejaram criar um café que refletisse sua essência: feminino, autêntico e transformador.
Entre os sabores dos cafés especiais, milka e chocoavelã, que podem ser incrementados com doce de leite e chantilly, como sugerem. Elas também oferecem kits personalizados e lembranças para casamentos, eventos, datas comemorativas e outras festividades.
A Julieta Biscoito Artesanal, de Ana Laura Costa Faria, comparece com seus biscoitos artesanais, produzidos com carinho e afeto, um abraço para se reunir em torno da mesa e, a cada mordida, degustar bons momentos.
Designer de formação e confeiteira por paixão, curiosa e inquieta, Ana Laura vai fundo nas receitas de família, aquelas que abraçam e provocam suspiros. Encontrou no biscoito o sabor de infância. Os quitutes resgatam origens, trazem lembranças, são pedacinhos de Minas, um despertar da simplicidade em agradar.
O premiado queijo artesanal da Queijo Juá é um tesouro mantido pela quinta geração da família dos produtores, os irmãos Cássio Fonseca e Paulo Henrique, feito na fazenda Frutuoso Limoeiro, em Alvorada de Minas.
São diferentes maturações com o mesmo queijo feito a partir de leite cru, coalho, pingo e sal, seguindo o processo de fabricação e maturação tradicional do local de onde a receita foi trazida pelos colonizadores portugueses, a Serra da Estrela, em Portugal, mantida há 300 anos na região.
Antes de sair para a comercialização, o queijo fica cerca de 30 dias em um ambiente úmido e frio, o que proporciona uma cobertura rugosa, deixando a casca firme e crocante com uma massa branquinha e macia por dentro. De sabor marcante, tem acidez equilibrada e, com mais tempo de maturação, fica levemente adocicado e mais picante.
A Sabor com Amor é uma empresa de alimentação focada em comida de verdade. Janaíma Araujo oferece refeições artesanais saudáveis congeladas, mel orgânico e favo de mel (certificados, direto da fazenda própria), extrato de própolis verde, alecrim do campo (também da fazenda), antepastos e kits para presentear. Um encanto que vem do viver gastronômico.
Confeiteira e chocolatier especializada em chocolates poéticos, Carol Mesquita concebe verdadeiras obras sensoriais que unem sabor, delicadeza e arte. Inspirada pela natureza, a chef transforma flores comestíveis em protagonistas de suas criações.
Entre doces finos, mesas de sobremesas, brunchs e cafés temáticos na lista de suas produções, as delícias são desenvolvidas em microlotes autorais, sempre em datas específicas, com exclusividade e cuidado em cada detalhe. Mais do que confeitaria, o trabalho é uma experiência artesanal, em que o tempo, a sutileza e a criatividade se unem para dar vida aos chocolates.
A De La Flor Alfajores é uma marca artesanal criada em Belo Horizonte por imigrantes peruanos apaixonados pela confeitaria afetiva. Tudo começa com a matriarca da família, guardiã de receitas que atravessam gerações e que hoje florescem nas mãos dos irmãos Magali e Andres. O alfajor do Peru carrega, além de sabor, valor simbólico: representa encontros, carinhos, vínculos.
Produzidos com ingredientes selecionados, os legítimos alfajores peruanos são reconhecidos pela textura delicada, equilíbrio dos sabores e apresentação cuidadosa. Mais do que lembranças para ocasiões especiais, são experiências sensoriais, feitas para emocionar.
Nascida em São Paulo e com formação em hotelaria, Gilka Valadares traz para a Quermesse sua expertise trabalhando com cattering em eventos sociais e corporativos, sempre com preparações sob demanda, conforme o pedido do cliente. Também dona da elogiada cesta de café da manhã, ela participa do evento pela segunda vez.
Faz questão de dizer que tem raízes mineiras (passou bons momentos da infância em Minas e mora em BH desde 2019), e tem em seus produtos o gostinho mineiro de bem receber. A pegada é uma comida feita na hora, com ingredientes e fornecedores locais, valorizando preparações saudáveis - o industrializado está fora do menu. No evento de Mary Arantes, está imbuída de oferecer refeições - terá sanduíches, pratos individuais, tortas e pastéis, incluindo opções veganas e vegetarianas, além de uma feijoada no domingo.
O Sagrado Queijo entra para o time da Quermesse. A marca nasceu em Formiga, em 2022, no fim da pandemia, com a vontade de Anaisa Alves de Oliveira e Claudio Thennyson em ter um negócio próprio. Eles adquiriram uma fábrica de provolone desidratado que estava prestes a fechar as portas, bem perto da matriz Sagrado Coração de Jesus, no bairro de mesmo nome - e assim surgiu o mote para batizar a nova empresa.
Feito com menos sódio, crocante, saboroso e delicado, o provolone do Sagrado Queijo mostra a diferença na primeira mordida. O casal foi aos poucos aprimorando o preparo, e agora os dois são especializados em provolone desidratado.
Premiada, a versão Romeu e Julieta, recheada com goiabada, é uma festa para os sentidos. Outras opções são os temperados com alho, chimichurri, ervas finas e lemon pepper. É o que levam para a Quermesse, além do provolone puro, tradicional, a mussarela em trança temperada com alho e orégano, ou em nó defumada, o requeijão em barra com raspas, e queijo coalho desidratado com goiabada.
"Da moda ou de outro campo de criação, são esses os criadores que estarão presentes nesta edição. Muitos deles ainda não são conhecidos no mercado, e por isso um evento como esse se faz necessário", convida a designer.
Expositores
ARQVO_/ @arqvo_
Blade Tailor/@bladetailor
Camila Romero/@camila_romerooficial
Cocoon/ @maria_lucia_bosco
Copella /@copellaacessorios
Criando Asas/@criandoasas_coletivo
Cris Rovesse/@cristinarovesse
De Araque/ @de_araque
Duda/@adudasalim
Estúdio Libero/@estudiolibero
Gabriella Santos/@gabriella.santosjoias
Gariglio/@gariglio_design
Gilda/@gilda_ateliebh
Ida Feldman/ @idafeldman
Imanto/ @_imanto
Instituto Fred/@institutofred
Jabu/@use.jabu
Molu/@usemolu
Mylittledoll/@my_little_doll7
NotEqual/@notequal
Paty Assumpção/@patyassuncaom
Pedro Eustaquio Crivellari/@crivellaripedroeustaquio
Petiá/@petiabrasil
Portanto/@portantovisto
Salu/@salu.couture
Tamborete Brasil/ @tamborete.brasil
TTeresa /@teresatextotecido
Uai Soul/@uaisoul
Valezero/@valezero_
Gastronomia
Dama de Empadas/@damadermpadas/ Flávia Ferreira
Dédé Pães Artesanais/@dede.paes.artesanais
De La Flor Alfajores/ @delaflor.alfajor
Dona Torta/@donatortabh
Chef Carol Mesquita/@crefcarolmesquita
Cafem/@cafembrasil
Gilka/@g_i_l_k_a
Julieta Biscoito Artesanal/@julietabiscoito
Queijo Juá/@serro.queijojua
Sabor com Amor/ @saborcomamorbh
Sagrado Queijo/ @sagradoqueijo/Anaisa Alves de Oliveira
Zoraida Cozinha Milenar/@zoraidacozinhamilenar
Quermesse da Mary
12,13 e 14 de setembro de 2025
Dias 12 e 13, sexta e sábado, das 10h às 19 h
Dia 14, domingo, das 10h às 17h
Rua Ivaí 25, Serra - Belo Horizonte
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