Marcas de luxo brasileiras conquistam o mundo
Bolsas nacionais de alto luxo e beleza são desconhecidas pela maioria dos brasileiros
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Siga noO que a baiana tem... A tão conhecida música de Dorival Caymmi descreve toda a beleza da roupa e todos os enfeites de ouro que sua conterrânea tem, com toda a ginga e charme, e tornou essa figura conhecida e desejada. Acho que estamos precisando de outro poeta para destacar as belezas das bolsas que algumas marcas nacionais estão fazendo com primor. Peças de altíssimo luxo, excelente qualidade, belo design e que não deixam a desejar para nenhuma marca de alto luxo do mundo afora. E para não dizer que somos bairristas, vamos citar duas internacionais.
A primeira, e na nossa opinião a que está em primeiro lugar no ranking, é prata da casa: a mineiríssima Elisa Atheniense, que já ganhou o mundo. A prova disso é que, há algumas semanas, em conversa com uma amiga – que pode ter qualquer bolsa que desejar – ouvi o seguinte: “fui na Chanel para comprar uma bolsa nova, mas desisti, preferi comprar uma Elisa Atheniense, as bolsas são ótimas e os tresses dela estão lindos”.
Elisa Atheniense abriu sua marca homônima em 1987, e tem suas raízes na sua paixão por técnicas artesanais e pelo couro, especialmente o tressê manual, que se tornou uma marca registrada. Suas coleções sempre apresentam uma combinação da linha de bolsas permanentes, que sempre trazem algum detalhe novo, e a linha de lançamento, que apresenta novos designs com um toque artesanal. Elisa começou autodidata e depois se formou em estilismo e modelagem de acessórios em Florença, Itália, onde aprendeu técnicas de transformação do couro. A marca se destaca pelo desenvolvimento de produtos em outros materiais, além do couro, como o pirarucu e o tecido tecnológico. Elisa é a única estilista da marca, e busca trazer as novidades pensando no estilo, beleza e leveza da bolsa.
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Serpui
Serpui Marie é filha de armênios, nascida e criada no Brasil. Na marca que leva seu nome, fundada em 1984, ela traduz um pouco do que viveu no quintal da casa de seu avô, em Londrina, posteriormente foi herdada pelo seu pai. O quintal era cheio de bichos e a mãe era apaixonada por pedras brasileiras e pela cestaria. “Minha casa era rica em pedras. Minha mãe tinha uma alucinação com topázio, ágatas. Até hoje uso ágatas nas alças, das minhas bolsas”, conta Serpui.
Todas as peças são feitas por manualmente, com a pesquisa e design da fundadora da marca. Ela se inspira nos trançados das cestas e nos animais tropicais. “Cresci ouvindo minha mãe falar que o Brasil é o país mais lindo do mundo”. Por isso, em sua arte, Serpui traduz o que entende por brasilidade, o que fez parte de sua criação e, assim, conquista tanta gente.
Juliana Mendes
Foi a inquietação que levou a pernambucana Juliana Mendes, designer e artesã de bolsas, para o universo da moda. Ela trabalhava em uma empresa de produtos para construção, e depois de se sentir desvalorizada, saiu do emprego. “Mesmo não sendo religiosa, comecei a orar por uma nova oportunidade”, conta.
Um dia, comprou uma bolsa e resolveu descobrir como tinha sido produzida. “Comecei a pesquisar, desmanchei a bolsa inteira, vi todas as estruturas e camadas”. Depois de um ano estudando a peça, Juliana começou, em 2014, a fabricar bolsas. Na pandemia, passou a fazer vídeos falando sobre seu “artesanato de luxo” e mostrando a produção das peças no Kwai. “Fiquei assustada. Abri a conta no aplicativo e tinha 30 mil seguidores”.
“Demoro cerca de 30 dias para produzir uma bolsa. Tudo é manual. Até o corte e a costura são feitos por mim ou pela minha mãe, que me auxilia na produção”, explica Juliana que não pode pegar mais nenhum pedido para este ano.
Zanir Furtado
“Do Pantanal para o Mundo”, esse é o lema da Zanir Furtado, marca do Mato Grosso do Sul. A fundadora e designer da marca homônima é natural do estado, mas foi empreender em Brasília. “Quando pensei em investir em outra coisa, quis voltar para Rio Negro. Sabia o tanto de gente talentosa que tinha lá”, explica.
Além de investir nas pessoas, ela também queria utilizar produtos da região. Por isso, o couro do gado sustentável pantaneiro é a matéria-prima de praticamente todos os itens comercializados. “Prezamos pela qualidade”, conta. A marca produz peças em couro de jacaré e, começará a fabricação de itens em couro de avestruz.
São 12 artesãos, e cada bolsa demora de duas semanas a dois meses para ficar pronta. Ela cria o design visando traduzir um pouco da essência pantaneira. “É um desafio criar peças atemporais que traduzam a beleza do Pantanal, quero criar peças que a mulher não perca a vontade de usar, que transcenda gerações e tendências”.
Ryzí
Luiza Mallmann, diretora-criativa e fundadora da marca Ryzí, estudou design e fotografia de moda na Inglaterra. Quando voltou ao Brasil, entrou na fábrica de couro de sua família, no Rio Grande do Sul, onde forneciam materiais para outras marcas, e criou uma marca da família, em 2019, a Ryzí.
“Queria tudo com estilo 3D. Me acharam doida”, conta Luiza. Mesmo assim, ela investiu nessa ideia focada em formas geométricas e ilusão de ótica. “Queria uma marca que fosse reconhecida mesmo sem uma logo”.
A família comprou a ideia, e ela conta com uma equipe que mergulha de cabeça naquele “mundinho”. “Brincamos que a Ryzí veio de outro planeta. Hoje, todos estão na mesma energia. É muito bacana ver como a identidade da marca é forte”.
As bolsas que mais se parecem origamis em couro são um dos carros-chefe da marca. “Muita gente me pergunta de onde veio a inspiração. No meu primeiro curso na Inglaterra, tinham 40 japoneses na minha turma, e eu ficava encantada com dobraduras incríveis que eles faziam que viravam obras de arte. Muito do que pensei para a marca veio daí”, conta.
A marca já fez collabs com nomes como Alexandre Herchcovitch, Turma da Mônica e Chocolat du Jour.
Lis Fiaschi
A marca Lis Fiaschi, de Elisangela Fiaschi, belo-horizontina que viveu na Itália, onde estudou moda e hoje mora no nordeste brasileiro, nasceu em 2013 com a produção de bijuterias. “Com um tempo de marca, eu comecei a sentir falta de bolsas manuais no Brasil, sentia que não tínhamos bolsas de praia com design mais especial como eu via lá fora”, conta a fundadora.
Assim, decidiu investir nesse novo segmento que se tornou o foco da marca: bolsas praianas com design. As peças são artesanais e produzidas no Brasil com material sustentável. “Usamos muita palha brasileira, de milho, taboa, etc. A única palha de fora é a rattan, que oferece muita flexibilidade e um acabamento mais luxuoso”, conta a designer.
Além da estrutura em palha, as bolsas de Lis se destacam pelas aplicações em pedrarias e bordados. A marca já trabalha com o mercado internacional, com os melhores resorts e hotéis espalhados pelo mundo.
Ares
Outra marca fundada por uma belo-horizontina é a Ares, que foi criada em 2021 por Bruna Mansur, que já trabalhava há 16 anos no comércio de moda. Ela já tinha tentando empreender em uma tentativa falha e resolveu “dar a cara a tapa” mais uma vez. “Comecei sozinha, somente com o dinheiro que tinha guardado do meu trabalho e com uma história pessoal que me motivava a trabalhar com o couro: meu pai teve uma confecção e vendeu bolsas em uma loja de bairro e na feira Hippie”.
Foi o pai de Bruna que fez a primeira bolsa de sua marca. “Desenhei o modelo, ele executou, e assim nasceu a primeira bolsa da Ares”. A própria fundadora criou um site, disponibilizou o modelo e começou a receber pedidos de encomendas. Por muito tempo, ela cuidou das vendas, do atendimento, das entregas, da criação e, seu pai, da produção.
A demanda cresceu, eles se mudaram para o Rio de Janeiro e Bruna precisou aprender também a se virar na produção. A Ares é fruto de um trabalho manual. O estilo abraçado pela marca é um grande diferencial. “Quis trazer o que eu gostava de usar e não encontrava, um design ousado e disruptivo”, explica ela, que aposta em couros texturizados, tachas, spikes e até espécies de “piercings” nos acessórios.
Internacionais, queridinhas do momento
Francesa Polène foi fundada em 2016 pelos irmãos Antoine, Mathieu e Elsa Mothay. A marca é conhecida por seus designs minimalistas e esculturais, com inspiração no trabalho de Madeleine Vionnet, Madam Grès e Mariano Fortuny conhecidos pelo uso de dobras e drapeados. As bolsas são confeccionadas em Ubrique, Espanha, utilizando couro de bezerro italiano e espanhol, com foco na produção artesanal. A proposta dos fundadores era criar bolsas elegantes e atemporais que misturassem sofisticação com praticidade cotidiana. Em setembro de 2024, a Louis Vuitton adquiriu uma participação na Polène por reconhecer seu valor e seu know-how na vanguarda da criatividade.
Jaquemus
A Jacquemus foi fundada em 2009, por Simon Porte Jacquemus, com apenas 19 anos. A marca é uma homenagem à sua mãe e suas coleções de prêt-à-porter e acessórios combinam uma estética minimalista com designs lúdicos, muitas vezes surreais, inspirados na paisagem do sul da França. Simon aproveitou as mídias sociais, especialmente o Instagram, para construir uma forte identidade de marca, que é conhecida por suas peças exclusivas, silhuetas divertidas, muitas vezes exageradas.
Sua modéstia, misturada a uma ingenuidade infantil e sinceridade genuína, talvez seja a chave do sucesso da marca homônima. Aos 31 anos, ele passou de um "designer promissor" a uma das pessoas mais influentes da indústria da moda, segundo a Business of Fashion. Os "três pilares" da marca: assimetria, geometria e experimentos com tamanhos – como o enorme chapéu La Bomba e a bolsa Le Petit Chiquito. Ambos se tornaram sucessos e esgotaram instantaneamente. As peças da Jacquemus são adoradas pelas principais it-girls e influenciadoras.
Le Chiquito se tornou o acessório mais fotografado nas mídias sociais. Depois do ícone viral vieram: Le Bambino, Le Turismo, Les Ronds Carrés, o revival de Baguette: Le Bisou, La Bambola, o envelope oversized: Le Calino, La Spiaggia, clássico para mercado: Cesta Soli, e a embreagem arquitetônica: Le Salon. Uma bolsa Jacquemus se torna não apenas uma primeira compra de luxo, mas uma peça preciosa em uma coleção de bolsas.