entrevista Lorena Nunes -Médica Pediatra, pneumologista, broncoscopista, alergista e imunologista pediátrica

Perigos da bronquiolite

Especialista destaca avanços no tratamento e importância de procura médica quando surgem primeiros sintomas de doenças respiratórias em crianças

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A pediatra dra. Lorena Nunes é uma craque em doenças pulmonares infantis. E o crescente número de internações de crianças com bronquiolite chamou atenção, e por isso procuramos a especialista para esclarecer dúvidas sobre a doença e o porquê da gravidade dessa doença.


Para validar ainda mais a entrevista vamos apresentar a profissional. Dra. Lorena se formou jovem e estudou mais cinco anos e meio para se tornar a especialista que é hoje. Ela é pneumologista, broncoscopista, alergista e imunologista pediátrica. Além de atender no consultório particular, é pneumologista da Rede Mater Dei de Saúde atendendo em todos os seus hospitais. E não para por aí. É professora na pós-graduação de Cuidados Paliativos e de Bases da Saúde Integrativa do Hospital Albert Einstein e também na pós-graduação de Pediatria da Afya Educação Médica, que capacita médicos nas capitais e cidades do interior de Minas Gerais e dos estados do Norte e Nordeste do país. Por sinal, vale destacar esse importante papel que a Afya tem feito.


Com a chegada do outono e do inverno chegam também as doenças respiratórias, mas o que estamos vendo é o grande aumento de internações de crianças e adultos com bronquiolite e/ou pneumonia.

Esse aumento de casos de bronquiolite e demais doenças respiratórias é atípico?
Esta é uma época em que as doenças respiratórias apresentam maior transmissibilidade, é nítido o aumento das hospitalizações na região sudeste e em Minas Gerais, sem sombra de dúvidas. Temos algumas hipóteses, que podem explicar o fato. A primeira dela é que no pós-pandemia aumentamos o acesso à exames de detecção viral, através dos testes rápidos e painéis respiratórios (PCR), permitindo também o isolamento do vírus sincicial respiratório, o principal causador da bronquiolite, o que por consequência aumenta o número de diagnósticos. Outro fator indireto que creditamos ao crescimento de casos é a queda nas taxas de vacinação de um modo geral. A queda na cobertura vacinal nos expõe à circulação de outros vírus, que também podem causar quadros respiratórios graves, levando à maior susceptibilidade a coinfecções virais associadas, incluindo a bronquiolite.

Por que a bronquiolite leva a tantas internações?
Bronquiolite é muito comum. Mais de 80% das crianças até 2 anos vão se infectar pelo vírus sincicial respiratório. E os casos mais graves são, geralmente, em crianças abaixo dos 6 meses. A doença começa como um resfriado comum: secreção nasal, tosse, febre. Do terceiro ao quinto dia é o período de maior vulnerabilidade para agravamento do quadro, podendo evoluir para nítida piora da tosse, desconforto respiratório, falta de ar, prostração e dificuldade para amamentar e/ou amamentar. Se alguns desses sintomas de gravidade aparecerem é preciso que os pais procurem avaliação médica de urgência, uma vez que os sintomas da bronquiolite são muito variáveis nos primeiros dias da doença, podendo evoluir com piora em curto período de tempo.

Pode ocorrer de chegar no hospital e o caso já estar grave?
Sim. Em algumas situações o paciente já pode chegar ao serviço de urgância precisando de cuiddos intensivos, com necessidade de suplementação de oxigênio e em casos mais graves, inclusive necessidade de internação em UTI pediátrica com indicação de intubação para suporte ventilatório. É importante estar atento às coinfecções bacterianas associadas, que podem aumentar a gravidade do quadro, inicialmente apenas viral. Outro cenário de preocupação é a intubação prolongada no paciente que não pode desmamar da ventilação mecânica, que pode evoluir para lesões na via aérea causadas pelo tubo e, em casos mais graves, precisar de traqueostomia. Essas são as complicações tardias da bronquiolite, que levam a um grau maior de complexidade no cuidado médico e multidisciplinar. É disso que eu cuido, como broncoscopista. Em cenário de maior gravidade a doença pode levar a óbito. Por isso a vacina e a imunização são tão importantes, porque apesar de não impedirem o paciente de se infectar, a doença tende a ser mais leve, com baixo risco de complicações e gravidade.

Você disse que teve um grande avanço. Qual foi?
Na verdade são dois. Foi aprovada este ano a vacina Abrysio, contra o vírus da bronquiolite. É uma vacina para gestantes, uma vez a mãe imunizada, há transmissão de anticorpos de defesa contra o vírus para o bebê, via pacentária, protegendo-o do nascimento até os seis meses de vida, período de maior risco para quadros graves. A sociedade Brasileira de Imunologia orienta a aplicação da vacina entre 32 e 36 semanas de gestação, mas em casos especiais e a critério médico ela pode ser aplicada entre 28 e 32 semanas. Esse é um avanço muito esperado dentro da pediatria, porque antes não tínhamos como prevenir a evolução de casos graves. Essa vacina foi incorporada ao SUS em fevereiro e em breve estará disponível para a população. Até o momento está disponível na rede privada. Lembrando que idosos a partir dos 70 anos também podem receber a vacina, uma vez que esse vírus é uma causa frequente de pneumonia nessa faixa etária.

E qual foi o outro avanço?
Saiu uma segunda frente de proteção, a aplicação do imunológico Nirsevimabe (Beyfortus), que é o anticorpo monoclonal contra o vírus sincicial respiratório. Nesse caso, o bebê já recebe o anticorpo pronto contra o vírus. Indicado para todos os bebês, inclusive os saudáveis, a partir do nascimento, gerando proteção de cerca de 70 a 80% para bronquiolite grave, nos primeiros seis meses pós aplicação. A orientação é aplicar um mês antes da sazonalidade do vírus, ou seja, de março a julho. Se a mãe tiver tomado a vacina que falamos anteriormente, o bebê só precina receber o anticorpo se for prematuro ou tiver comorbidade. Outra situação é se a criança nascer com menos de 15 dias da mãe ter sido vacinada, pois não teve tempo necessário para a transmissão placentária de anticorpos produzidos pela mãe. A aplicação do anticorpo monoclonal já está disponível na rede privada. Os pais já podem levar os filhos para receberem a imunização. Na rede pública a liberação está sendo gradual, inicialmente para bebês prematuros ou com comorbidades.

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