CRISE HABITACIONAL

Arquitetura com Urbanismo

Projeto assinado pela mineira BCMF Arquitetura ganha destaque em concurso internacional

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As crises habitacionais não são um problema exclusivamente brasileiro. Na realidade, muitos países precisam pensar em maneiras de enfrentar esse problema da melhor forma, e, claro, de maneira acessível. Pensando nisso, os arquitetos Bruno Campos, Marcelo Fontes e Silvio Todeschi, sócios da BCMF Arquitetura, desenvolveram um projeto para o concurso internacional “Microhome”, patrocinado pela empresa irlandesa Kingspan.

O concurso atraiu um público global de profissionais e estudantes de mais de 115 países, que criaram diferentes projetos que se adequassem ao tema: casa. A ideia do trio era participar da última edição do concurso, realizada em 2024, mas acabaram não conseguindo se preparar a tempo e adiaram a participação para esta, que foi a 9ª edição.

O resultado do concurso rendeu aos arquitetos uma menção honrosa que simboliza a dedicação não só dos três, mas de todo o time que virou noites trabalhando para que conseguissem se inscrever a tempo. Wallison Caetano, Caio Nepomuceno, Lucas Andrade e Sofia Shcherbak, que trabalham na BCMF, estiveram também na linha de frente dessa missão.

Silvio Todeschi destaca que além do suor e do talento dos envolvidos, o projeto foi regado com muita adrenalina. “De quando decidimos participar até o momento da inscrição, teve um período de cerca de um mês, e foi dentro dele que desenvolvemos tudo. O projeto foi enviado quando faltavam 11 segundos para o fim das inscrições”, destaca.

O projeto

Batizado de Habita+, o projeto criado pelos mineiros se baseou, principalmente, na crise habitacional brasileira, levantando também questões quanto às soluções apresentadas para o seu combate. Programas governamentais de iniciativa habitacional em larga escala, por exemplo, apresentam muitas vezes abordagens muito padronizadas e sem personalidade.

Os arquitetos destacam que muitos desses conjuntos habitacionais são construídos em áreas afastadas da infraestrutura urbana e de muitas oportunidades de emprego. O desafio de Bruno, Silvio e Marcelo era justamente pensar em habitações acessíveis e flexíveis, que se adaptassem a famílias com diferentes necessidades. As casas criadas pelos sócios são uma opção sustentável e de longa vida útil, afinal, por serem pré-fabricadas, podem inclusive ser transportadas para outro terreno caso haja necessidade de mudança.

O projeto é totalmente personalizável. É composto por módulos que se adaptam de acordo com a necessidade de cada família. De maneira simplificada, os módulos funcionam como peças de Lego, que se encaixam umas nas outras. As casas podem, portanto, ter mais ou menos módulos e assim, ser maiores ou menores, a depender do número de moradores, por exemplo.

A disposição dos módulos também pode variar. Eles podem ser agrupados em uma linha reta, em forma de “L”, de “U”, de “T”, entre outras tantas possibilidades. Cômodos da casa também podem ser variáveis. Os próprios arquitetos já sugeriram no projeto módulos de banheiro diferentes, sendo um lavabo, um banheiro convencional e um banheiro grande com banheira. O mesmo pode valer para a cozinha, por exemplo.

Para o modelo base da casa, que tem um formato semelhante a um container, são usados sete módulos, totalizando uma área de 24,64 m2. O edifício conta com um quarto que se comunica com a sala e a cozinha, um banheiro e um espaço de depósito. Algumas paredes podem se abrir, caso o proprietário deseje, e formar decks que se integram ao ambiente onde está a casa.

O projeto foi feito para se conectar com o ambiente em que se insere. Por isso, os revestimentos podem variar. Toda a estrutura dos módulos é feita em três camadas: um perfil metálico, preenchimento termoacústico e uma camada de acabamento, que pode ser feita com gesso, madeira, etc.

Isso é interessante até mesmo para a universalização do projeto, já que ele pode se adaptar a climas amenos, mas também ao frio ou calor extremos. O preenchimento termoacústico da envoltória do edifício, por exemplo, vai variar de acordo com o clima do local.

O telhado também pode – e deve – ser configurado para melhor atender o morador. Ele pode ser, por exemplo, montado para captar água da chuva, evitar acúmulo de neve, melhorar a ventilação ou fornecer mais sombra. Além disso, ele comporta painéis solares, caixas d’água e sistemas de comunicação. Tudo isso corrobora com a redução da dependência de recursos externos como energia e água e eficiência da casa, pensando que ela pode ser implementada em conjunto – como idealmente seria – ou isolada.

A casa desenvolvida também se adapta bem para diferentes terrenos e necessidades. Com apenas quatro pilares estruturais, ela se adequada para inclinações ou espaços sujeitos a enchentes. Marcelo Fontes destaca ainda a possibilidade de posicionar as casas no topo de prédios e outras construções, ou até mesmo erguer uma nova estrutura que suporte diversas casas. “É possível fazer um esqueleto metálico ou de concreto e inserir as casas prontas lá também”, destaca.

 

modulos podem ser agrupados em formatos variados, conforme a necessidade da família
modulos podem ser agrupados em formatos variados, conforme a necessidade da família divulgação


Produção e implantação

Os arquitetos defendem que, apesar de não ser o modo mais barato de produzir moradias, as casas do Habita+ seriam uma oportunidade para qualificar mais trabalhadores na área da construção civil. Além disso, com a fabricação em massa, o custo de produção desses edifícios poderia diminuir significativamente.

A produção em módulos é essencial para um simples processo de implantação e transporte das moradias. Os mineiros afirmam ter pensado na escolha da casa na própria fábrica para que ela fosse transportada já montada, mas que é possível pensar em alternativas como a montagem diretamente no local onde seria situada.

Por ser compacta, permite um transporte por diferentes meios. Caminhão, trem e barco são capazes de deslocar essa estrutura, que poderia, inclusive, ser convertida em um motorhome caso o proprietário optasse.

 

Os sócios Bruno Campos Marcelo Fontes e Silvio Todeschi
Os sócios Bruno Campos Marcelo Fontes e Silvio Todeschi Bárbara Dutra/Divulgação


Além da solução

 Bruno Campos afirma que, apesar do projeto ter sido desenvolvido visando as crises habitacionais, ele também pode suprir as necessidades de qualquer pessoa. “Achamos que isso é uma unidade que pode ser flexibilizada, replicada, adaptada e customizada para responder vários problemas habitacionais e pode até se tornar algo luxuoso, não precisa dizer respeito somente à habitação popular”, explica.

O arquiteto ressalta ainda a possibilidade dos modelos serem usados em empreendimentos, afinal, possuem uma estrutura completa. “É possível criar um bairro de uso misto com esses módulos, que podem se tornar casas, escritórios, lojinhas, etc”, completa.

Da faculdade para a sociedade

Bruno Campos , Marcelo Fontes e Silvio Todeschi se conheceram na UFMG, onde todos cursaram arquitetura e urbanismo. Apesar de não terem sido colegas de sala (Marcelo se formou em 1995, Bruno em 1994 e Silvio em 1992), eles sempre trabalharam em conjunto na faculdade.

Oficialmente, Bruno começou a empresa no ano em que se formou, em 1995. Entretanto, logo saiu do país para um mestrado em Londres e, posteriormente, passou um tempo trabalhando em um escritório em Nova York. Na ausência de Bruno, Marcelo assumiu os projetos, e assim, quando o arquiteto retornou ao país, se uniu oficialmente com o colega na fundação da empresa, em 2000.

Enquanto isso, Silvio Todeschi tinha seu próprio escritório. Mas não por isso, os três deixaram de trabalhar juntos como nos tempos da faculdade. Sempre que tinham projetos de grande porte, por exemplo, Bruno e Marcelo chamavam Silvio para participar.

Em 2010, após a realização de projetos simbólicos e de peso em trio, Silvio finalmente ingressou na BCMF, se tornando de fato um sócio.

 

A estrutura permite adptação para diferentes climas e relevos
A estrutura permite adptação para diferentes climas e relevos Divulgação


Grandes projetos

O primeiro grande projeto do trio foi o Complexo Esportivo de Deodoro, que é um centro de tiro esportivo, hipismo, hóquei sobre grama e pentatlo moderno, criado para os Jogos Pan-americanos Rio 2007. Ele foi, inclusive, responsável por abrir muitas portas para os arquitetos, que já haviam trabalhado na arquitetura esportiva antes, mas em projetos menores.

O trio também foi responsável pela renovação do estádio Mineirão para a Copa do Mundo de 2014, sediada no Brasil. Nesse projeto, a fachada do estádio, simbólica e tombada, foi preservada. O seu interior foi palco de muitas transformações que visavam, por exemplo, melhorar a visibilidade do público sobre o campo. A esplanada também foi pensada para funcionar como uma praça pública. Aliando sustentabilidade aos projetos, eles criaram uma usina fotovoltaica com capacidade de 1.600 MW/h no topo do estádio.

Se não bastassem dois megas eventos esportivos, eles também foram responsáveis pelo Masterplan Oficial da candidatura das Olimpíadas de 2016, realizadas no Rio de Janeiro. A BCMF desenvolveu os projetos das regiões de Copacabana, Barra e Deodoro e, com isso, se tornaram responsáveis pela arquitetura de 17 instalações permanentes e complementação e adaptação de outras três que já existiam.

Um dos projetos de responsabilidade da BCMF, inclusive, foi o Parque Olímpico do COI, uma das principais instalações olímpicas que abriga 13 modalidades diferentes e, em 2016, esteve situado na Barra. Nesse espaço, eles foram responsáveis pela arquitetura e pelo paisagismo.

Apesar da força no segmento esportivo, com o passar dos anos, Bruno, Marcelo e Silvio foram diversificando seus portfólios. A atuação no setor corporativo tem sido destacada pelos arquitetos, assim como no campo educacional, principalmente com grandes projetos para o grupo Bernoulli. A Google também é um importante cliente do trio, que assina espaços do centro de engenharia da empresa de tecnologia em Belo Horizonte e também um espaço de eventos da empresa na sede em São Paulo.


* Estagiária sob supervisão da jornalista Isabela Teixeira da Costa

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