Novo CNU traz avanços, mas não avalia soft skills de candidatos, dizem especialistas
Para técnicos, seleção continua priorizando a avaliação do conhecimento técnico, sem identificar se o candidato tem outras habilidades necessárias ao cargo
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Siga noBRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A segunda edição do CNU (Concurso Nacional Unificado) traz avanços ao criar regra para equiparação de gênero e estabelecer em alguns cargos novas modalidades de avaliação, incluindo a prova oral.
Mas, segundo especialistas, a seleção continua priorizando a avaliação sobretudo do conhecimento técnico, sem identificar se o candidato tem outras habilidades necessárias para atuar no setor, como proatividade e capacidade de trabalho em equipe.
Para analistas, a melhor forma de atrair perfis mais vocacionados seria prever, para mais cargos, a prova oral e defesa de memorial (em que o candidato explica sobre sua trajetória acadêmica e profissional), além de incluir etapa de exames práticos que ajudam a entender como o inscrito se comportaria em uma situação real de trabalho como servidor público.
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Para algumas carreiras do bloco 1, de saúde e seguridade social, haverá prova oral e defesa de memorial. Essas modalidades valerão apenas para parte dos cargos de pesquisador do Ministério da Saúde com especialidade em áreas como genética de câncer e terapia celular.
Esse instrumento já é comum em certames na área de pesquisa e ensino superior, segundo Cibele Franzese, professora de administração pública da FGV (Fundação Getulio Vargas). Para os demais cargos, o CNU não traz mudanças da nova lei de concursos públicos, sancionada em setembro do ano passado.
Para Cibele, a prova de títulos não é suficiente para avaliar a trajetória de carreira ou se o candidato tem vocação para atuar no setor. Ela diz que apenas a defesa de memorial e a prova oral seriam capazes de entender a qualidade da experiência profissional de cada inscrito e se ele compartilha de valores necessários para atuar no setor público.
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Isso inclui, por exemplo, a capacidade de resolver problemas complexos, além de habilidades socioemocionais, como resiliência, empatia e tolerância, de acordo com a professora.
"Muito difícil as provas [objetivas e discursivas] avaliarem isso. Não sabemos que tipo de experiência [os candidatos] têm, o valor que essas experiências agregam ao setor público ou se eles são vocacionados."
Para o professor de administração pública da USP (Universidade de São Paulo) Fernando Coelho, outra etapa que ajudaria a identificar o perfil do candidato é a prova prática. Essa modalidade poderia ser aplicada em carreiras como engenharia e arquitetura, por exemplo.
"O CNU continua sendo um concurso tradicional, tirando carreiras específicas que vão ter prova oral e análise de memorial. Mas é importante colocar a pessoa em uma situação concreta de trabalho."
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Na falta dessa etapa prática, Coelho defende que as questões discursivas não explorem apenas conhecimento teórico, mas também situações práticas que se aproximem do dia a dia de trabalho.
O certame aumentou o número de questões discursivas, de uma para duas, no caso dos cargos de ensino superior. Além disso, o CNU foi dividido em duas fases, algo que também é apoiado por especialistas por facilitar a vida dos candidatos.
As inscrições para o CNU 2025 começam nesta quarta (2), com taxa de R$ 70 para todos os cargos. O certame terá 3.652 vagas em 36 órgãos públicos, com salários iniciais de até R$ 16 mil.