Empresas da B3 atenuam falas sobre ESG diante de movimento de Trump
Companhias brasileiras recuam na comunicação de práticas ambientais e sociais para não melindrar investidores estrangeiros
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Siga noExecutivos de companhias listadas no Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da B3, que reúne 83 companhias de capital aberto, relatam que vêm adotando um tom mais contido ao falar de suas práticas ESG. Nos bastidores, diretores admitem apreensão com o endurecimento do movimento anti-ESG de Donald Trump nos Estados Unidos, onde muitas empresas mantêm operações ou têm parte relevante de seus acionistas.
A mudança é perceptível até na forma como se redigem relatórios anuais. Termos que remetem diretamente à “transição energética” vêm sendo substituídos por expressões como “eficiência de recursos”. O objetivo é reduzir o risco de associar as companhias a uma agenda ideológica, em meio ao avanço de lideranças conservadoras que têm tratado o ESG como inimigo político.
A retração não se limita à semântica. Empresas relatam que negócios com clientes e investidores americanos só avançam se conduzidos por representantes locais. Executivos brasileiros têm sentido “um pé atrás” ao se apresentarem como porta-vozes da agenda climática — receio que se acentuou após a volta de Trump à Casa Branca.
Mesmo assim, as companhias continuam trabalhando internamente em seus programas ambientais e sociais. O receio maior é o de publicidade excessiva.
“Hoje, muitas fazem, mas não falam”, resume um diretor de sustentabilidade de uma grande empresa brasileira ouvido pela coluna.