Alckmin sobre tarifaço: ‘Lula orientou que a negociação começa hoje’
Em entrevista ao Mais Você, Alckmin detalha impacto do tarifaço dos EUA, defende Alexandre de Moraes e reforça que o Brasil seguirá negociando
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Siga noEm entrevista ao Mais Você, da TV Globo, nesta quinta-feira (31/7), o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, explicou qual é o impacto do tarifaço de 50% imposto pelo governo dos Estados Unidos contra produtos brasileiros. Ele também apontou quais são os caminhos que o Brasil pretende seguir para mitigar os efeitos da medida.
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Alckmin foi claro: o governo não considera a decisão de Donald Trump como definitiva, e as tratativas continuam em curso. “O presidente Lula orientou: a negociação não terminou hoje, ela começa hoje”, afirmou.
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Em linguagem simples, o vice-presidente explicou o que representa a tarifa de 50%. “Se eu produzo um sapato no Brasil e vendo por R$ 100 para os Estados Unidos, com a nova tarifa, ele passa a entrar lá por R$ 150. Ou seja, o consumidor americano vai pagar mais caro, e o exportador brasileiro perde competitividade”, exemplificou.
Ele ainda disse que, com o novo imposto, o café e a carne do Brasil também vão sair mais caros para os americanos. “Vão pagar mais caro pelo café, pela fruta, pela carne, pelo pão, pelo peixe, pelo calçado... É um perde-perde. Encarece os produtos lá fora e prejudica a nossa economia aqui”, ressaltou.
Apesar da taxa de 50% sobre as exportações brasileiras, Alckmin destacou que a equipe econômica conseguiu negociar a retirada de 45% da pauta exportadora da cobrança extra. Entram nessa lista aviões, motores, suco de laranja, celulose, produtos do açougue e outros bens industriais.
Além disso, outros 20% das exportações (como aço, alumínio, automóveis e autopeças) mantiveram a mesma taxação anterior, pois já eram tarifados há anos. Ou seja, apenas cerca de 35% dos produtos brasileiros sofrerão de fato com a nova medida. Alckmin também destacou que produtos que já estavam em trânsito até o dia 6 de agosto não serão tarifados, o que oferece fôlego imediato ao setor exportador.
Entre os produtos que ficaram de fora das isenções e que o governo tenta remover da lista de tarifas, estão o café e a manga. O vice explicou que o café brasileiro, especialmente o tipo arábica, é essencial para a indústria dos EUA.
“Eles não produzem esse tipo de café e precisam misturá-lo no blend. Vamos continuar tentando excluir o café, como fizemos com o suco de laranja — que foi uma grande vitória, já que São Paulo tem o maior pomar cítrico do mundo”, prometeu.
Por fim, Alckmin comentou que, apesar do cenário externo desafiador, há boas notícias para o consumidor brasileiro. Ele afirmou que os preços de alimentos começaram a cair graças à combinação de câmbio mais estável e clima favorável, com previsão de safra 10% maior em 2025. “O preço do ovo caiu 12%, o arroz 12%, o feijão preto 24%. Agora só falta cair o café”, disse, sorrindo.
“É injusto, eles vendem mais para nós do que nós para eles”
Em tom crítico, o vice-presidente chamou a atenção para o desequilíbrio comercial entre os dois países. “Os Estados Unidos vendem muito mais para a gente do que a gente para eles. Dos dez produtos que eles mais exportam para o Brasil, oito entram aqui com tarifa zero. A gente abre o mercado, mas eles nos fecham as portas. Isso é injusto”, declarou.
Ele lembrou ainda que o Brasil é um dos três países com os quais os EUA mantêm superávit comercial significativo, ao lado de Austrália e Reino Unido. “Eles têm déficit com a maioria dos países, mas conosco têm lucro. Por isso, essa retaliação não se sustenta nem do ponto de vista econômico”, acrescentou.
Defesa do Judiciário brasileiro e crítica à Lei Magnitsky
Alckmin também comentou o episódio em que o ministro Alexandre de Moraes, do STF, foi alvo da Lei Magnitsky, aplicada pelos EUA com a justificativa de que teria cometido violações de direitos humanos. “Não existe relação entre a política comercial e decisões do Judiciário. O Brasil é uma democracia, e os poderes são independentes. Não se pode punir um juiz por cumprir seu dever. A Justiça só age quando provocada, e age com base na lei”, defendeu.
Ele reforçou a solidariedade do governo brasileiro a Moraes, e disse que se os papéis estivessem invertidos — com o Brasil reagindo a uma decisão da Suprema Corte dos EUA com medidas econômicas — isso soaria igualmente absurdo.
Apesar do clima tenso com os Estados Unidos, Alckmin deixou claro que o Brasil está disposto ao diálogo. Segundo ele, Lula já iniciou conversas com lideranças internacionais e está aberto a uma eventual conversa direta com Trump — mas ressaltou que esse tipo de encontro precisa ser preparado com responsabilidade e conteúdo concreto.
“Nós não criamos o problema, mas estamos trabalhando para resolver. A conversa com os EUA precisa ser bem preparada. O presidente Lula está aberto ao diálogo.”
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Alckmin também relatou que o governo brasileiro segue em contato com o Departamento de Comércio dos EUA, além de big techs americanas, o secretário do Tesouro, o Itamaraty e o Ministério da Fazenda.