Jornada da alma: honrando a ancestralidade e o sagrado em Vespasiano
Premiação em cidade mineira reforça o respeito aos cultos da religião de matriz africana
compartilhe
Siga noNo coração de Vespasiano, cidade pulsante próxima a Belo Horizonte, uma luz espiritual brilha com força renovada. Quando o Babalawo Ifá Yemi Awo Duni, sacerdote da Casa Ile Ifá Asé Obatalá, subir ao palco para receber o Prêmio Cidade de Vespasiano, não será apenas um troféu que ele erguerá, mas o peso de uma missão sagrada: preservar a sabedoria ancestral das religiões de matriz africana e tecer laços de respeito e unidade na comunidade. Este reconhecimento, concedido anualmente a pessoas e entidades que transformam o município mineiro, é um espelho da conexão profunda entre o humano e o divino, refletindo a força de uma fé que transcende o tempo.
- Cortejo para Iemanjá espera celebrar a ‘Rainha das Águas’ em Lagoa Santa
- No chão sagrado em Lagoa Santa, ancestralidade abraça o Congado e a Umbanda
- Iemanjá, a divindade africana que ganhou feição branca no Brasil
“Receber este prêmio é como ouvir o sussurro dos ancestrais, confirmando que o caminho que trilhamos está alinhado com o propósito maior”, compartilha o Babalawo, com a voz carregada de emoção. “Não é apenas sobre mim, mas sobre a força da nossa tradição, que pulsa viva em Vespasiano. É um chamado para honrar nossas raízes, promover a união e cultivar o respeito pelo sagrado que vive em todos nós. Sou grato a cada alma que caminha conosco, pois é na comunhão que encontramos sentido e esperança.”
Um caminho iluminado pelo sagrado
Ver essa foto no Instagram
A jornada de Ifá Yemi Awo Duni é um testemunho da dança misteriosa entre o destino e a alma. Desde a infância, ele sentia o chamado do sagrado, como se os Orixás sussurrassem em seu coração. Criado em uma família imersa na Umbanda e no Candomblé, com a avó paterna devota de celebrações católicas, ele cresceu entrelaçado por diferentes expressões de fé. Essa convivência teceu nele um respeito profundo pela diversidade espiritual, uma semente que floresceria em sua vocação.
Anos mais tarde, ele encontrou seu lar espiritual no culto tradicional Yorubá, onde passou cinco anos como Abian, mergulhando na sabedoria de Ifá. Durante sua iniciação, guiado pelo Odu de destino e sob a tutela de Obatalá, o Orixá da criação e da pureza, ele recebeu uma revelação inesperada: o sagrado o guiaria para abrir um templo. “Eu não imaginava isso para mim”, reflete. “Achava que levaria décadas, mas o divino tem seus próprios planos. Ele nos surpreende, nos molda e nos guia para além do que sonhamos.”
Essa entrega ao fluxo do destino o levou a fundar o Ile Ifá Asé Obatalá, um espaço sagrado em Vespasiano onde a espiritualidade ganha vida. Lá, ele conduz reuniões mensais abertas ao público e oferece consultas com o oráculo de Ifá, o Opele Ifá, guiando aqueles que buscam respostas e amparo. “Cada passo nessa jornada é uma lição de humildade e conexão. O sagrado não é algo distante; ele vive nos gestos, nas intenções e na coragem de seguir o chamado da alma.”
Leia Mais
Legado de luz e cultura
O Prêmio Cidade de Vespasiano, na categoria Destaque Cultural “Cultura de Matriz Africana”, com o Troféu Nizete Fonseca Lima, celebra a trajetória de Ifá Yemi Awo Duni como um guardião da ancestralidade e um construtor de pontes entre o passado e o futuro. A cerimônia, marcada às 19 horas no Teatro do Palácio das Artes Nair Fonseca Lisboa, no Centro de Vespasiano, será mais do que uma entrega de troféu — será um momento de reconhecimento da força espiritual que une a comunidade.
A história do Babalawo nos lembra que a espiritualidade é um rio que corre através de gerações, carregando a sabedoria dos que vieram antes e regando as sementes do porvir. Em cada oração, em cada consulta ao oráculo, em cada reunião no templo, Ifá Yemi Awo Duni não apenas preserva uma tradição milenar, mas reacende a chama da conexão humana com o divino. Que sua jornada inspire outros a ouvir o chamado de suas próprias almas, honrando o sagrado que pulsa em todos nós.