Desembargador vítima de homofobia fala sobre caso: 'Mais amor, menos ódio'
João Marcos Buch, desembargador do TJSC, vítima de homofobia nas redes, torna caso público em seu Instagram: "faço o que muitos não podem"
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Siga noO desembargador do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, João Marcos Buch, foi alvo de ataques homofóbicos nas redes sociais após participar de uma entrevista pública nas plataformas digitais. O episódio gerou grande repercussão, alcançando mais de 1 milhão de acessos entre Instagram, TikTok e X (ex-Twitter), com um misto de elogios e manifestações de ódio. A ofensiva, que inclui diversos comentários preconceituosos, levou o magistrado a registrar um boletim de ocorrência e buscar providências legais para identificar os responsáveis pelos ataques.
A entrevista, concedida no início de junho a um perfil de Instagram que realiza perguntas rápidas sobre a vida profissional das pessoas, abordou temas como a carreira de João Marcos, sua trajetória até o cargo de desembargador e questões sobre sua remuneração. No entanto, a exposição nas redes sociais gerou também uma onda de hostilidade, com usuários de diversas plataformas criticando, de forma preconceituosa, sua orientação sexual e sua postura enquanto figura pública.
No dia 17 de junho, ele registrou um boletim de ocorrência e, na última semana, compareceu à Delegacia de Polícia, onde o delegado instaurou um inquérito para apurar quem foram os responsáveis pelos crimes de ódio. Além disso, foi solicitada a quebra de sigilo das identidades dos agressores, com o intuito de garantir que os infratores sejam responsabilizados legalmente.
Em suas redes sociais, o desembargador compartilhou o inquérito para seus seguidores e ressaltou: "Faço o que muitos não podem! Mais amor, menos ódio".
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A luta por representatividade
João Marcos, que foi aprovado no concurso público para juiz de Santa Catarina aos 24 anos e, em março deste ano, assumiu o cargo de desembargador, acredita que a visibilidade obtida com sua entrevista tem um preço alto. "Em meu discurso de posse, agradeci publicamente a presença do meu noivo, o que gerou uma recepção calorosa entre os colegas", conta ao Estado de Minas. "Contudo, ainda existem pessoas com preconceito, que terão que aceitar a diversidade, pois ela é uma realidade da sociedade", afirmou.
Embora tenha sido alvo de críticas e ofensas homofóbicas, o desembargador se diz motivado pela representatividade que seu posicionamento oferece, especialmente para jovens que estão ingressando na carreira jurídica. "Muitos colegas me procuraram para agradecer o meu posicionamento e dizer que, a partir dele, sentem-se representados e sabem que podem alcançar o que eu conquistei", revelou.
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O papel da pluralidade no Judiciário
Para João Marcos, a representatividade no Poder Judiciário é um valor fundamental. "O Poder Judiciário precisa ser composto por uma pluralidade que reflita a diversidade da sociedade. Só assim, penso eu, a justiça estará mais próxima da realidade dos cidadãos", afirmou. Para ele, o discurso de ódio não é apenas um ataque pessoal, mas uma tentativa de silenciar a pluralidade que deve ser reconhecida e respeitada em todas as esferas da sociedade.
"Sou vítima e isso precisa ser apurado, mas também, sinto que posso tornar isso público pela minha posição de privilégio econômico", explicou. "Muitas pessoas não têm as condições de enfrentar esse tipo de agressão da mesma forma, então eu me sinto com o dever de levar isso adiante".
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Neste sentido, Buch se coloca como um defensor da inclusão, não só pela sua posição no Judiciário, mas também pela visibilidade e exemplo que oferece para aqueles que ainda lutam contra o preconceito em diversas áreas da vida. "É importante que a sociedade evolua nesse aspecto, e eu me sinto na obrigação de dar o exemplo e de lutar para que a justiça, de fato, seja mais justa para todos."
Estagiária sob supervisão da editora Ellen Cristie.