Podcast apresenta histórias sobre encontros de idosos com palhaçaria
Nos episódios, temas considerados sérios como o envelhecer, saúde, golpes e aposentadoria se misturam com a leveza da arte feita pelos palhaços
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Siga noIntegrar o “mundo do digital” com a realidade de pessoas idosas pode ser um desafio, mas o Instituto Hahaha faz parecer fácil com o Podcast 8 e 80, cujos episódios são construídos a partir de conversas e histórias entre pessoas da terceira idade, residentes nas Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs) e a palhaçaria. Até o momento, 54 episódios já foram publicados em plataformas como o Spotify e o Youtube, além da Rádio Câmara Brasília e, em breve, na Rádio UFMG.
Não apenas esse desafio “tira de letra”, mas também mescla assuntos sérios como saúde, bem-estar, aposentadoria, psiquiatria e golpes, com a leveza da palhaçaria. Se engana quem pensa que palhaços não podem falar de assuntos sérios. É o que ressalta Roberta Nunes, jornalista e coordenadora do projeto “Nas Ondas do Hahaha".
“Palhaçaria é uma ferramenta onde tudo se torna possível. As pessoas entendem que a palhaçaria, às vezes, não é algo sério. E a gente trata a palhaçaria como algo muito sério e a palhaçaria também pode falar coisa séria. Nós fomos experimentando as linguagens para descobrir como falar algo sério de uma maneira artística”, relata.
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O “Nas Ondas do Hahaha” é um projeto do Instituto Hahaha, que realiza o podcast e outras intervenções. A ideia do programa “8 e 80” surgiu durante o período da pandemia de Covid-19, quando o encontro presencial, elemento muito importante nesse tipo de arte, não era possível.
“Buscamos mais formas de continuar essa presença. Na época, a gente esteve virtualmente com teleconsultas, com atendimentos, mas aí esse projeto nasceu e hoje a gente, ao executá-lo, descobriu outras formas de escutar essas vozes e contar essas histórias”, relembra Roberta.
Um podcast feito para pessoas idosas
Os conteúdos dos episódios são divididos em dois grandes temas: o 3x4, um quadro que conta histórias reais dos encontros entre a palhaçaria e as pessoas idosas, e o 2+2, um bate-papo conduzido por palhaças, que entrevistam profissionais especialistas, como médicos e fisioterapeutas, com leveza e humor.
Segundo a coordenadora, o podcast é criado a partir de histórias ludicamente reais e com uma escuta sensível. “Cada história contada importa e merece ser ouvida e cada entrevista realizada traz temas que buscam gerar reflexão sobre como nós, como sociedade, estamos pensando a velhice, em um período em que o Brasil está cada vez mais envelhecendo”, afirma Roberta.
O episódio “Dois Amores” marcou a vida de Roberta. A história é de duas irmãs: Maria e Jovelina, que dividiram um quarto na ILPI Cidade Ozanan, em Pará de Minas, no Centro-Oeste, a infância e a história de vida.
“É uma história de muito trabalho e dedicação, e que mostra também o quanto as mulheres ao envelhecerem têm uma exclusão nesse cuidado. As mulheres dedicam muito mais cuidado do que recebem esse cuidado. Maria compartilhou ali sua história e o quanto era importante para ela contá-la. E a Maria faleceu, a Jovelina continua lá na ILPI e agora ela pode escutar a gargalhada da irmã quando ela quiser no episódio”, se emociona.
Acessibilidade é prioridade
Colocar o podcast dentro das instituições que cuidam dos idosos era uma das preocupações da equipe. Como fazer do encontro entre os palhaços e as pessoas tão bom quanto presencialmente era o desafio.
Por isso, foram instalados totens em algumas ILPs com o podcast disponível, 24 horas, de maneira intuitiva e fácil para o público alvo. Em unidades de saúde parceiras, como o Hospital da Baleia, esses totens oferecem entradas para carregamento de celulares, uma estratégia para “chamar” quem está esperando para ser atendido.
Falando em acessibilidade, o “Podcast 8 e 80” conta com tradução em libras e legenda nas plataformas.
Instituto Hahaha
O Instituto é uma organização da sociedade civil (OSC), que completa neste mês 13 anos de existência. A grande missão é “colocar o riso a serviço da vida, buscando garantir o direito e acesso à arte e à cultura para crianças, adolescentes, adultos, idosos, seus familiares, profissionais de saúde e corpo técnico”.
O Hahaha é representante da sociedade civil no Conselho Municipal do Idoso e no Conselho Municipal da Criança e do Adolescente em Belo Horizonte.
Roberta disse que existem pesquisas que mostram o benefício da arte nesses espaços de saúde e de acolhimento. “O Instituto Hahaha acredita na potência da arte como um complemento ao tratamento das pessoas. Quando a gente fala de criar um podcast para as pessoas idosas, pode soar sem coerência, né? Mas eu acho que a gente conseguiu meios e estratégias de registrar essas vozes e compartilhar com as pessoas. Não só as vozes delas, mas esse encontro que eu acho que é a grande potência”.
“Esse sentimento de pertencimento valeu a pena e eu acho que essa é uma sensação gratificante e esse podcast é feito por uma equipe artística e uma técnica. É um trabalho coletivo que imprime o olhar da sensibilidade de cada um”, comemora Roberta.
*Estagiária sob supervisão do subeditor Gabriel Felice
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