A COP30 NA VISÃO DE QUEM ENTENDE
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Siga noProfessor José Carlos Carvalho
ex-ministro do Meio Ambiente no Governo FHC e ex-secretário de Estado do Meio Ambiente de Minas Gerais 2008/2010
“A escolha do Brasil para sediar a COP30 criou uma grande expectativa diante do protagonismo ambiental do país, como detentor de um riquíssimo patrimônio natural e de um moderno arcabouço legal que nos coloca na vanguarda da defesa do meio ambiente no mundo. Espera-se que no Brasil, como bem definiu o embaixador André Lago, presidente da conferência, sejam consolidadas metas mais ambiciosas de redução dos gases de efeito estufa e, principalmente, a definição dos meios de implementação e alocação de recursos financeiros correspondentes à magnitude do problema, em face do aumento das emissões acima das previsões dos cientistas e, consequentemente, de investimentos em medidas de mitigação e adaptação. Infelizmente, as elevadas expectativas iniciais estão sendo rebaixadas pela radical mudança da posição dos EUA, que se retirou da Convenção da ONU e do Acordo de Paris, com repercussões negativas para a Conferência. Como potência hegemônica, a saída dos Estados Unidos está arrastando as grandes corporações privadas estadunidenses na mesma direção, reduzindo o financiamento a projetos de mitigação e adaptação. Além desse revés, estamos enfrentando problemas de logística em Belém, que está ocasionando dificuldades para um maior engajamento das nações mais pobres e da sociedade civil. Até mesmo o mundo corporativo está reduzindo o tamanho de suas delegações, diante da escassa e caríssima oferta de hospedagem, em Belém. Todavia, esses problemas vêm sendo contornados pela elevada experiência e competência do embaixador André Correa do Lago e da secretária-executiva Ana Tonni. Espero que as soluções de logística anunciadas minimizem os problemas de acomodação para que tenhamos uma COP inclusiva.”
Marília Carvalho de Melo
secretária de Estado de Meio Ambiente de Minas Gerais
“A COP30 chega em um momento decisivo, marcando os 10 anos do Acordo de Paris e reforçando a urgência de ações climáticas concretas. Realizada no Brasil, representa uma oportunidade única de liderança regional e de avanço em mitigação, adaptação e financiamento climático. O risco de esvaziamento existe, diante de desafios geopolíticos, financeiros e logísticos – como os elevados preços de hospedagem em Belém. Nesse sentido, é importante destacar que qualquer retrocesso comprometerá a credibilidade do processo multilateral e poderá reduzir o ritmo global de implementação da agenda climática. Como ente subnacional com trajetória de destaque nessa pauta, Minas Gerais pretende apresentar na COP30 seu protagonismo na execução de políticas de mitigação, adaptação e transição para uma economia de baixo carbono, por meio do PLAC-MG (Plano de Ação Climática de Minas Gerais), do MRV Climático (Sistema de Mensuração, Relato e Verificação de Emissões) e de iniciativas locais reunidas no Portfólio de Casos de Sucesso 2025, atualmente em fase de atualização até outubro. Essas ações fortalecem a justiça climática, estimulam a inovação tecnológica, geram resultados mensuráveis e reforçam a cooperação internacional rumo a soluções efetivas para o enfrentamento da crise climática.”
Rodrigo Franco
Presidente da Fundação Estadual do Meio Ambiente – FEAM
“A COP é o principal fórum para discutir, em âmbito global, avanços e soluções para a agenda climática. Pela primeira vez, o Brasil sediará a COP, em sua 30ª edição na Amazônia brasileira, na cidade de Belém. Sendo assim, há enorme expectativa em divulgar a riqueza em biodiversidade e recursos naturais e o potencial de contribuir com o desenvolvimento sustentável e agenda climática. Há de se reconhecer o desafio em realizar COP30 na Amazônia brasileira e muito se notícia sobre a não participação de países signatários. Difícil mensurar assertivamente potencial esvaziamento. Dada a relevância da COP e considerando o potencial de contribuição neste fórum, restará prejudicado debate e a divulgação do enorme potencial de contribuição do Brasil, em nível global, com a agenda climática e o desenvolvimento sustentável.”
Carlos Eduardo Ferreira Pinto
promotor do MPMG, chefe do Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Meio Ambiente-CAOMA de 2020 a 2024
“A COP30 traz grandes expectativas, principalmente por ser sediada na Amazônia. Isso coloca o Brasil no centro do debate global acerca das mudanças climáticas e o futuro sustentável da humanidade. As principais expectativas ligadas a COP são: o avanço significativo em metas de redução de emissões; financiamento climático justo e vertical; justiça climática e inclusão social e humana; discussão sobre desmatamento na Amazônia; fortalecimento da cooperação internacional. A COP30 tem o potencial de ser um marco histórico. A realização do evento em um local tão simbólico quanto a Amazônia aumenta a pressão por resultados concretos, e não apenas por promessas. O sucesso da conferência dependerá da capacidade de transformar o simbolismo em ações e políticas que realmente façam a diferença na luta contra a crise climática. O risco de esvaziamento da COP30 é real e traz uma grande responsabilidade ao Brasil, pois o seu protagonismo na questão climática mundial poderá ser abalado, sobretudo em razão da má organização do evento; dos custos de hospedagem; contexto político internacional; falta de ações concretas. Embora o presidente da COP30 e outros organizadores minimizem o risco, a questão dos altos custos e do cenário político global é vista como um desafio real para garantir a participação plena e o sucesso das negociações em Belém. Esse esvaziamento pode ter impactos significativos na pauta climática global, minando o esforço por ações mais ambiciosas e concretas. Os principais impactos que podem ocorrer são: a perda de credibilidade; dificuldade em avançar nas metas; desvalorização da pauta social; impacto econômico e político para o Brasil. A má gestão e organização por parte do governo brasileiro e falta de engajamento na COP30 arrisca transformar a conferência em um evento mais simbólico do que substancial, com o risco de estagnar o progresso necessário para enfrentar a emergência climática.”
Ricardo Salles, deputado federal
ministro do Meio Ambiente de 2019 a 2021
“A realização da COP30 em Belém do Pará, prevista para 2025, tem gerado apreensão diante das limitações estruturais da cidade. A infraestrutura urbana é deficiente, o planejamento logístico revela-se insuficiente e a oferta de hospedagem, além de escassa, apresenta valores elevados. No âmbito das negociações, a ausência dos Estados Unidos compromete o equilíbrio das discussões multilaterais, enquanto o adiamento dos mecanismos de financiamento de créditos de carbono pelos países desenvolvidos aos em desenvolvimento representa um retrocesso. Tais entraves minam o espírito de cooperação e responsabilidade compartilhada estabelecido pelo Acordo de Paris.”
Helena Brennand Guerra
Diretora de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Companhia Siderúrgica Nacional – CSN
“As expectativas para a COP30 em Belém são de consolidar compromissos mais concretos em financiamento climático, adaptação, aceleração da descarbonização e revisão das NDCs. No entanto, existe o risco de esvaziamento do evento devido ao alto custo de hospedagem em Belém, o que pode inviabilizar a participação de países em desenvolvimento e de stakeholders relevantes. Isso comprometeria a legitimidade da conferência, já que justamente esses atores estão entre os mais impactados pelos efeitos climáticos e precisam estar no centro das discussões. Para a CSN, esse cenário pode gerar maior incerteza regulatória, mas reforça a importância de liderarmos com ações concretas e transparência, mantendo nossa competitividade e o compromisso de buscar soluções reais de descarbonização alinhadas a uma transição justa.”