Quem está por trás do conceito do restaurante mais falado em 2025 em BH
Trintaeum chegou à cidade bancando a proposta de só trabalhar com produtos mineiros
compartilhe
SIGA
Antes mesmo da abertura, já havia um burburinho, afinal, ele ocuparia um prédio que estava abandonado havia muitos anos. Logo que inaugurou, chamou a atenção pela proposta de trabalhar 100% com produtos mineiros, da adega ao prato. Não por acaso, o Trintaeum foi o restaurante de Belo Horizonte mais falado em 2025. Neste episódio do podcast Degusta, apresentamos a história da chef por trás de todo o conceito: Ana Gabi Costa.
“Nunca saí de Minas Gerais para trabalhar, algo que, durante muito tempo, tivesse considerado que pudesse me trazer algum tipo de prejuízo de conhecimento, mas foi justamente o que fez com que pudesse trazer um projeto que era verdadeiramente quem sou. Sou verdadeiramente mineira de paixão, de coração, de vivência, de criação”, comenta.
Ana Gabi foi criada pela bisavó em Pedro Leopoldo, na Grande BH, a cerca de 40 quilômetros da capital. A matriarca da família de muitas mulheres tinha hábitos rurais, por isso, mesmo morando no Centro da cidade, levou para dentro de casa uma cultura interiorana. “O quintal dos fundos da nossa casa tinha pé de limão-capeta, horta, fogão a lenha, forno de tambor. E ela cozinhava todos os dias.”
Naquela casa, a cozinha era tão levada a sério que criança não ajudava. Restava observar. “Via o tacho sendo preparado, a carroça chegando na porta com o leite que a minha avó pediu, o chão do terreiro sujo de casca de amendoim. Depois de muito tempo, fui entender o quanto isso foi significativo, o quanto me formou nos meus valores e princípios, no que gosto de ser, comer e preparar.”
Sua escolha foi estudar relações públicas, mas, com dificuldades de pagar a faculdade, acabou na área de logística de uma indústria têxtil. Em determinado momento, transferida para outra cidade, ela foi morar com colegas de trabalho para implementar um projeto da empresa. De noite, a distração era comprar cerveja e fazer tira-gosto.
“Essas foram as primeiras vezes em que experimentei a sensação de cozinhar algo e ver alguém comendo e ficando feliz. Isso foi um despertar para mim, porque nunca tinha me dado conta de que gostava de fazer comida. Foi a primeira vez em que cozinhei por prazer e vi que gostava realmente de servir as pessoas.”
Cozinha profissional
Tudo mudou muito rapidamente. Ana Gabi começou a procurar cursos de gastronomia, deixou o emprego e decidiu trabalhar em cozinha. Bateu na porta do extinto Vecchio Sogno, de Ivo Faria, e foi sincera com ele: “Sou totalmente crua, não vou mentir para você, não sei fazer nada, mas preciso trabalhar porque não consigo pagar o curso.” E assim entrou como auxiliar de cozinha no turno da noite. Chegava mais cedo, se oferecia para cobrir as folgas e, seis meses depois, foi promovida.
Na sequência, Ana Gabi trabalhou com Felipe Rameh (hoje chef dos restaurantes Tragaluz e Lagar). Ao lado dele, passou pelo Trindade e Alma Chef, onde ficou responsável pelos eventos. “Foi onde comecei a colocar o queijo mineiro na mesa e falar para as pessoas que era legal”, relembra.
À frente do bufê da Casa Bernardi, ela conseguiu aprofundar mais nesse trabalho com produtos mineiros. Um evento, em especial, marcou esse capítulo da sua história. Era de uma indústria de São Paulo que queria impressionar os convidados com o que Minas tinha de melhor.
Leia Mais
“Foi uns dos eventos mais legais que já fiz na vida. A gente recebeu as pessoas à tarde com um café mineiro, depois a gente foi para um jantar harmonizado de queijos, vinhos e outros produtos mineiros. Me senti muito realizada e as pessoas estavam com os olhos brilhando.”
Dos pequenos aos grandes
Três anos depois, surgiu o convite para fazer parte do projeto do Trintaeum, restaurante de um hotel que seria inaugurado, o Tribe BH, no Lourdes, Região Centro-Sul. O nome já existia e a ideia era justamente exaltar os produtos com o DDD 31, ou seja, de Minas Gerais. Com a chegada da chef, a proposta foi além: trabalhar só com insumos mineiros.
“Não foi difícil encontrar as coisas que a gente queria. Difícil, na verdade, foi tomar a decisão de qual era o produto que a gente ia utilizar, que mais conversava com a casa”, destaca Ana Gabi, deixando claro que recorre a pequenos, médios e grandes produtores. Para entregar qualidade em uma casa de 102 lugares, que funciona todos os dias, do café da manhã ao jantar (só não abre domingo à noite), ela aposta na “conversa” de várias frentes do setor.
Por que o Trintaeum gerou tanto burburinho e caiu na boca do povo tão rapidamente? “Acho que a primeira coisa foi a gente se propor a ser um bom restaurante, de fato”, opina. Depois ela fala sobre a construção de uma hospitalidade verdadeiramente mineira e do preparo da equipe da cozinha para fazer uma entrega com padrão e o mínimo de falhas.
Frango com quiabo
O prato que a chef considera mais icônico é o frango com quiabo. “Primeiro, por preferência particular, mas também por ser uma forma muito viva da minha autoralidade, em cima de um prato que é tão tradicional. Considero que ele foi o maior desafio na construção do meu cardápio.”
Isso a faz lembrar de quando conheceu Tiradentes, aos 14 anos. A viagem ficou marcada pelo caso que sua avó sempre contava: ela ficou horrorizada ao ver um restaurante vendendo frango com quiabo a R$ 18. Hoje o da Ana Gabi custa R$ 100. É uma sobrecoxa grelhada banhada em caldo de frango caramelizado com angu de milho verde, chamado de angu lavado, quiabo, gema de ovo que escorre empanada no fubá e farinha de milho.
Para a mesa do podcast, ela levou vários itens do café da manhã do Trintaeum, como leite queimadinho (feito com açúcar queimado), biscoito de nata, rosquinha de amendoim com cacau, bolo de milho e Marta Rocha (pão doce recheado com creme de confeiteiro). “Era uma coisa que queria muito trazer, porque acho gostoso e simboliza muito padaria do interior.”
Broa e coquetelaria
O restaurante não está mais sozinho e, com a chegada do café Broa e do bar Coreto, formou o Grupo Trintaeum. Na cafeteria, o slogan “tem broa saindo do forno” evidencia o que Ana Gabi acredita que mais combina com café. O cardápio conta com três tipos de broa e o tostex de pamonha com bacon, com queijo minas artesanal e pasta de tomate seco, que já virou sucesso.
Já no bar, que fica no terraço do prédio, com vista para a Praça da Liberdade, o público encontra uma coquetelaria mais moderna, valorizando sabores mineiros. E a cozinha acompanha isso. “Ali é o espaço que a gente encontrou para praticar experimentações de curadoria. De trazer para as pessoas os produtos mais interessantes e mais especiais que a gente encontra em Minas.”
Siga nosso canal no WhatsApp e receba notícias relevantes para o seu dia
Serviço
O programa é quinzenal e vai ao ar sempre às segundas. Acesse o canal do Portal UAI no YouTube ou o Spotify para assistir ao episódio completo.