Chocolate com selo de qualidade por rastreabilidade genética? Em Belém tem
Um dos chocolates mais premiados da Amazônia não usa açúcar convencional, nada de gordura saturada e não economiza nas frutas da região
compartilhe
SIGA
Belém - A torra e o descasque das amêndoas ocorrem no restaurante da família. Na fábrica, o nibs chega pronto para ser temperado e finalizado. Temperatura e umidade controladas. Nada pode atrapalhar um dos processos mais encantadores e saborosos que o mundo já viu: a fábrica de chocolate. No caso de Belém do Pará, estamos falando do chocolate Gaudens, um dos mais premiados da Amazônia.
“Pela inovação e excelência da qualidade da matéria-prima”, diz o produtor Fábio Sicília, detentor da marca. Junto com a irmã Angela, ele comanda o restaurante Famiglia Sicilia, em Belém, de comida italiana com toque e produtos amazônicos.
O diferencial do chocolate amazônico é não usar açúcar demais (a Gaudens trabalha com o demerara orgânico), nada de gordura saturada e um banquete de frutas da região.
Fornecedores paraenses
Com 13 anos de vida, a Gaudens (“orgasmo”, em latim) tem ao menos cinco fornecedores de cacau, todos paraenses, garimpados um a um, para que o produto final não seja fruto de uma fazenda de “conduta ética duvidosa”, além de itens como tempo e dedicação para que a ponta tenha excelência.
Foi a primeira empresa da América Latina a obter o certificado vegano da BioTec-Amazônia, centro de inteligência em bioeconomia ligado à Associação das Universidades da Amazônia. A organização implementou um sistema de rastreabilidade genética para chancelar qualidade.
Segundo a BioTec-Amazônia, a marca faz parte do restrito grupo “clean label", que utiliza ingredientes naturais, minimamente processados e livres de aditivos artificiais.
“A Gaudens é a única e isso é compreensível quando você entende a dinâmica local. O Pará é o maior produtor nacional de cacau e te pergunto: quantas empresas de chocolate existem por aqui? Infelizmente, do Pará só saem amêndoas que vão virar chocolate em São Paulo, Espírito Santo, Rio Grande do Sul. Só em Gramado (RS), tem mais de 15 indústrias produtoras de chocolate sem um pé de cacau plantado. E a Gaudens é um dos poucos exemplos de empresas de chocolates locais”, ressalta o diretor da BioTec-Amazônia, José Seixas Lourenço.
Do "camapu" ao cacau
A relação de Fábio Sicília com chocolate é anterior à Gaudens. Começou em 2004, quando ele voltou formado em gastronomia da Europa apaixonado por physalis.
“Custava 60 euros o quilo e, quando cheguei em São Paulo, encontrei por R$ 54. Trouxe na mala para Belém e apresentei com todo orgulho para a equipe do restaurante. Eles me surpreenderam: ‘Isso é camapu, mato, que dá no quintal de casa. Uma praga que a gente queima’.”
Em vez da decepção, a decisão de começar a ver o que não envergava. Na terra do cacau, decidiu fazer o que até então não havia produção: chocolate.
“O desafio era fazer um chocolate premium na Amazônia brasileira.” Deu certo. Tanto que veio o reconhecimento internacional pela Academia de Chocolate de Londres, com o chocolate branco com cupuaçu, além de muitos outros prêmios.
Leia Mais
Chocolate com frutas nativas
Hoje, a Gaudens dispõe de chocolate branco, ao leite e com ingredientes como bacuri, cupuaçu, açaí e cumaru. As barras custam a partir de R$ 24 e bombons são R$ 10.
Destaque também para as chamadas “cripiocas” (a partir de R$ 34 o pacote), que são chocolates crocantes nos quais o floco de arroz é substituído pela farinha de tapioca e o “Castela”, creme vegano de castanha do Pará com cacau (o produto que teve repercussão nacional).
Outra criação da Gaudens que chama a atenção é o bombom de chocolate branco com cupuaçu, o que foi premiado na Academy of Chocolate em Londres.
A marca se estendeu e atualmente oferece “Amazônia em pote”, com doces de cupuaçu e bacuri.
E para quem pensa que chocolate é só de cacau, pode até ser, mas tem de cupuaçu também. E não é bombom recheado, não. São os “cupulates”, cujo nome foi patenteada pela Embrapa, e na Gaudens foram batizados como “Insignis” (nobre, em latim).
Queridinha na COP 30
Não à toa, a marca virou a queridinha dos conferencistas da COP 30. Ela pode ser encontrada em dois pontos da conferência climática da ONU: um na Green Zone (temporário) e outro no Porto Futuro II (permanente), que ficará de legado para a cidade. Voltada para o Rio Guajará, o espaço ocupa uma área de 50 mil metros quadrados, totalmente revitalizada, e terá gestão do estado paraense.
Serviço
Gaudens
- Avenida Conselheiro Furtado, 1430, Belém
- (91) 4008-0001
- (91) 99251-8988
- www.gaudens.com
- @gaudenschocolate