Como a imigração do século passado influenciou a gastronomia de BH
Segundo historiador, pessoas eram estimuladas a vir para BH participar da construção da cidade
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Restaurantes e outros estabelecimentos gastronômicos antigos de Belo Horizonte possuem, em sua maioria, uma veia estrangeira, mais especificamente europeia. O interessante é que essas casas em questão não foram fundadas por portugueses, notoriamente ligados à formação da cultura – inclusive alimentar – de Minas Gerais.
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Tudo isso, conforme explica o historiador e professor da UFMG, José Newton Meneses, tem relação com a própria construção da cidade. “Pessoas eram estimuladas a vir para BH participar da construção da cidade. Isso em um momento em que todo o Brasil recebia muitos imigrantes, sobretudo por conta do fim da Primeira Guerra Mundial. Belo Horizonte era considerada uma cidade com clima saudável, recomendado, inclusive, para quem tinha tuberculose na época.”
Desde o princípio, portanto, BH se mostrou uma cidade aberta e construída por gente de fora. “É uma cidade aberta para imigração de todos os tipos, uma cidade cosmopolita. E os estrangeiros que vieram se dedicaram muito ao comércio, inclusive de alimentação.”
O próprio crescimento expressivo e vertiginoso da capital mineira também contribuiu para o investimento no comércio de alimentação, de acordo com o historiador.
“A cidade foi planejada para receber 40 mil pessoas. Com pouco mais de 15 anos, atingiu essa população e continuou crescendo rapidamente, chegando em seus 30 anos com 200 mil habitantes. Isso atraiu mais ainda esse abastecimento alimentar, afinal, a comida não é só sobrevivência, gosto, é também desejo, necessidade”, explica José Newton.
Pitadas francesas
Apesar de não haver, entre os restaurantes ou estabelecimentos mais antigos da cidade, algum fundado por um cidadão francês, quando o assunto é gastronomia, a influência da culinária francesa é inegável. “A comida francesa influencia a Europa desde o século 18. Acho que todas as comidas tem, de certa forma, um reflexo da cozinha francesa”, diz.
Por isso mesmo, a culinária francesa poderia ter chegado por intermédio dos portugueses e da própria comida lusitana, que também pode ter sido “regada” com sabores ou técnicas advindas do país.
Não é difícil pensar na influência da França no nosso cotidiano. Grandes restaurantes considerados clássicos na cidade servem pratos como filé à francesa ou macarrão à parisiense. Um ingrediente recorrente nesses preparos, a ervilha, é sempre chamada pelo nome francês “petit poi”. “Até na cidade do interior de Minas em que eu vivia na infância, chamávamos ervilha de petit poi”, comenta José Newton.
*Estagiária sob supervisão da subeditora Celina Aquino