Em 1929, tcheca abriu bar em BH e chamou a atenção pela liderança feminina
Sempre presente no espaço que abriu com o marido, a jovem imigrante recebia como se fosse em casa
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Paula Huven, uma jovem tcheca, e seu marido romeno, Adolfo Huven, foram os fundadores de uma das casas mais tradicionais de Belo Horizonte: o Tip Top. A história começa em 1929, no Bairro Floresta, Região Leste de BH, em um momento em que o mundo enfrentava uma crise econômica significativa, da Bolsa de Nova York.
Belo Horizonte crescia, e muito, naquele momento. Exemplo disso é a inauguração do Viaduto Santa Tereza, que ocorreu também em 1929 e teve repercussão internacional. Paula montou um bar diferente do que os belo-horizontinos estavam acostumados: com presença feminina, ou, melhor dizendo, liderança feminina.
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“Acho que Dona Paula foi uma pessoa muito querida e presente. O bar era como se fosse a casa dela”, comenta Ludmila Carneiro, atual proprietária do Tip Top.
Esse certamente é um dos segredos da longevidade da casa, que posteriormente contou com um proprietário também cuidadoso, Luiz Otávio Gonçalves, até, enfim, chegar à atual dona. “Eles deixaram esse legado para mim, de serem sempre muito receptivos.”
O Tip Top, de certa forma, foi crescendo junto com a cidade e sempre esteve localizado em bairros em que o movimento era efervescente. Ainda sob a gestão de Paula, mudou-se para o Centro da cidade. Depois, passou para o Lourdes, na Região Centro-Sul, e, atualmente, está na Savassi.
Regiões centrais e movimentadas, conforme explica a historiadora da alimentação, Carolina Figueira, eram espaços ideais para empreendimentos gastronômicos. “O que a gente observa é que o poder público vai priorizar símbolos de modernidade nesse ‘miolo urbano’. O Centro era um eixo muito favorável para o ramo da alimentação.”
Misto frio
Paula era conhecida por servir uma espécie de misto frio, feito com pão, presunto e queijo, para os clientes, que podiam vê-los expostos numa caixa de vidro. O tradicional refresco gaseificado acompanhava a iguaria. A água gaseificada, algo quase inédito naquele momento, saía de uma máquina criada por Adolfo Huven e era, então, misturada à groselha feita por Paula.
“Tem pessoas até hoje que me pedem para voltar com o sanduíche da Dona Paula”, comenta Ludmila.
Esse item não está mais no menu (nem o refresco gaseificado), mas outro prato tradicional continua sendo servido por lá. A salada de batata, que era um clássico dos anos 1930, acompanha diversos preparos, como o próprio joelho de porco frito (R$ 145 para três pessoas), que também é um ícone na casa, servido, ainda, com chucrute, picles e maçã em calda.
Novos tempos
Em seus 12 anos à frente do Tip Top, Ludmila percebe algumas mudanças significativas. A mais impressionante delas, talvez, seja a mudança na percepção ou no uso do tempo. “Antes, as pessoas vinham almoçar e ficavam duas horas. Hoje, é preciso que já estejam saindo em 40 minutos. Muitas vezes, elas têm o tempo contado”, explica.
Por tempo ser dinheiro na vida dos clientes, ele passou a ter esse significado na cozinha da casa também, que investiu em praticidade e agilidade, especialmente nos pratos executivos. “Tudo fica porcionado, bifes já empanados, para que sejamos mais ágeis.”
Serviço
Tip Top
- Rua Paraíba, 811, Savassi
- (31) 3275-1880
- De terça a sábado, das 11h às 23h
- Domingo, das 11h às 18h
- @tiptopdesde1929
*Estagiária sob supervisão da subeditora Celina Aquino