Sorveteria mineira que criou o sabor 'Briga de sogra' vai abrir loja em BH
Fundada em Lavras (MG), na Região Sul, H2LIFE conquista o Brasil com uma mistura de sabor, memória e propósito
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Siga noQuem entra na H2LIFE, situada em Lavras (MG), na Região Sul, dificilmente imagina que, por trás dos sorvetes cremosos, com sabores que desafiam o óbvio e encantam o paladar, existe uma história de reinvenção, persistência e muito estudo. Mas basta trocar algumas palavras com a fundadora da marca, Stella Coelho, para entender que cada colherada de seu gelato é o resultado de uma jornada que mistura ciência e afeto - e que está só começando.
A engenheira de alimentos e mestre gelatiere representou Minas Gerais na final nacional do World Masters Gelato Festival, em São Paulo, no mês de julho. Competindo com outras 14 gelaterias de todo o país, Stella levou o sabor "Briga da Sogra" - uma criação tão inusitada quanto afetiva, feita com pudim, caramelo de café e casquinha de laranja.
Apesar de não ter conquistado uma das duas vagas para a final mundial, marcada para 2026, na Itália, Stella deixou o evento com algo talvez mais valioso: o reconhecimento de um trabalho autoral, autêntico e que vem conquistando o paladar e o coração de quem prova.
"Foi a primeira vez que me inscrevi nesse tipo de concurso. Só de estar ali, já me senti vitoriosa por poder levar o sabor da nossa terra para o Brasil e, quem sabe, para o mundo", conta ela.
Da infância à fórmula ideal
A história de Stella com o sorvete começou cedo, ainda aos 12 anos, quando ajudava o tio em uma sorveteria local. O tempo passou e o afeto pela sobremesa virou negócio de vida. Já formada em engenharia de alimentos, decidiu empreender ao lado do marido, Daniel Damas, com um propósito claro: transformar o jeito como o sorvete é percebido no Brasil.
"Queríamos mudar essa visão do sorvete como algo industrializado e cheio de aditivos. Nossa proposta sempre foi oferecer um produto natural, saudável, sem corantes, sem aromatizantes artificiais. Um sorvete de verdade, com sabor, nutrição e identidade", explica.
Assim nasceu a H2LIFE, que começou com uma pequena máquina de sorvete na cozinha de casa e se expandiu rapidamente para atender empórios e mercados em São Paulo, Rio de Janeiro e outros estados. Na época, o foco era o atacado, com potinhos de 150ml, sem açúcar e sem lactose. Mas foi durante a pandemia que a grande virada aconteceu.
A virada de chave: da crise à reinvenção
Com a chegada da Covid-19 e o fechamento do comércio, a marca quase parou. Clientes fecharam as portas e as vendas despencaram. Foi preciso se reinventar - e rápido. A solução? Abrir uma gelateria própria e se conectar diretamente com o consumidor final.
"Foi um momento difícil, mas muito importante. Criamos novos sabores com sugestões dos próprios clientes, recebemos feedback direto e entendemos o que as pessoas realmente querem. Isso nos deu liberdade de criação e fortaleceu nossa identidade", relata.
O contato direto com o público fez nascer, não só uma nova forma de vender, mas também uma nova forma de contar histórias. Sabores com nomes irreverentes, ingredientes inusitados e raízes profundas na cultura mineira se tornaram a marca registrada da H2LIFE. Um dos exemplos mais emblemáticos? O já citado "Briga da Sogra".
Qual a história do "Briga da Sogra"?
A receita que levou Stella à final do festival nasceu de uma memória familiar. Inspirado em uma história bem-humorada de seus pais - que envolve pudim, doce de leite, doce de laranja e um certo atraso estratégico no boteco -, o sorvete se tornou símbolo do que a H2LIFE representa sabor com significado.
"Meu pai adora uma sobremesa que minha mãe faz com pudim, doce de leite e doce de laranja. Um dia, ele pediu para ela fazer essa sobremesa, mas faltavam alguns ingredientes, então ele foi comprar", conta. "Mas antes, ele foi primeiro para um boteco com os amigos e acabou enrolando para ir ao mercado e só foi comprar os ingredientes muito tarde. Quando chegou em casa com o leite, minha mãe, que já estava nervosa, acabou jogando o leite fora e falou que não iria mais fazer a sobremesa - e ela realmente nunca mais fez".
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"A ideia foi do meu marido. Ele sempre adorou essa história. Então decidimos transformar esse momento em um sabor que carregasse brasilidade, memória afetiva e técnica", explica.
A criação surpreendeu os jurados e caiu nas graças do público. Hoje, o "Briga da Sogra" disputa com o pistache e o chocolate belga a liderança de vendas na loja, e, muitas vezes, ganha.
Ciência por trás do sabor
Se a parte afetiva é essencial na H2LIFE, a ciência também é protagonista. Atualmente, a mineira faz mestrado com foco em tecnologia e desenvolvimento de sorvetes, buscando formas de substituir estabilizantes artificiais por extratos naturais.
"Queremos um produto cada vez mais limpo, natural e ainda assim estável, saboroso e com boa textura. Usamos ovo como emulsificante, frutas da estação, leite direto da fazenda. É um trabalho que exige pesquisa, testes e, claro, muita paciência", afirma.
A busca por fornecedores locais, como produtores de chocolate da Bahia, e o compromisso com ingredientes sazonais fazem da produção da H2LIFE um desafio constante, mas também o diferencial que a posiciona entre as gelaterias mais inovadoras do país.
Futuro com sabor mineiro
O próximo passo da H2LIFE já está em andamento: uma nova unidade da gelateria será inaugurada em Belo Horizonte, levando os sabores de Lavras para a capital mineira. Além disso, há planos de expansão por meio de franquias e projetos secretos que prometem surpreender.
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"Ainda não posso revelar muito, mas vem coisa boa por aí. Continuaremos criando sabores que contam histórias, como sempre fizemos", antecipa Stella.
*Estagiária sob supervisão da subeditora Celina Aquino