Veja brasileiros que levaram o pão de queijo para o mundo
Para comemorar o Dia do Pão de Queijo, celebrado no próximo domingo (17/8), conheça brasileiros que trabalham com a iguaria do outro lado do Atlântico
compartilhe
Siga no
Cheiro inigualável, que abraça e se espalha pelo ambiente é o do pão de queijo. Quando chegam à mesa, ainda quentes, as bolinhas douradas e aeradas são um clássico sem erro, que nunca perde o prestígio no Brasil e que todo estrangeiro precisa provar quando visita o país. Nesta edição especial do Dia do Pão de Queijo, celebrado no próximo domingo (17/8), conversamos com brasileiros que moram do outro lado do Atlântico e apresentam o sabor dessa iguaria a gringos mundo afora.
Maxwell Carvalho, mais conhecido como Max, sócio-proprietário do Bendito Pão de Queijo, em Lisboa (Portugal), trabalha mostrando que, assim como são muitas as heranças lusitanas que carregamos como brasileiros, também há muito o que mostrar para os portugueses da nossa culinária.
Leia Mais
O belo-horizontino nunca tinha pensado em morar na Europa, mas, sim, nos Estados Unidos, especificamente em Nova York. Seus planos começaram a mudar quando, depois de sete anos trabalhando em uma empresa de telefonia no Rio de Janeiro, ele foi desligado em um corte na equipe pós-pandemia. “Nesse momento, vi um trabalho voluntário na Europa nas redes sociais e resolvi tentar”, conta.
Em 2022, Max chegou inicialmente a Barcelona (Espanha), onde passou cerca de um mês trabalhando em um hostel em troca de hospedagem e alimentação, experiência que é comum no continente europeu. Em seguida, foi para Lisboa, onde começou a procurar outras oportunidades de trabalho.
Enquanto não conseguia visto, começou a atuar no setor de restaurantes, que não exigia o documento. Um ano depois, ele percebeu que o pão de queijo que fazia para consumo próprio poderia dar dinheiro. “Via lanchonetes brasileiras que ficavam lotadas”, explica.
Testes e adaptações
Max fez alguns testes até chegar ao pão de queijo perfeito para sua loja lisboeta. Ainda quando morava no Brasil e fazia o trajeto Rio de Janeiro a Belo Horizonte para visitar sua família, ele parava na Nosso Pão de Queijo, lanchonete com quatro unidades na BR-040 (duas em Barbacena, uma em Alfredo Vasconcelos e uma em Conselheiro Lafaiete, cidades na Região Central do estado), e tentava reproduzir em casa um pão de queijo como aquele. “No Rio, eu me estressava com biscoitos de polvilho que diziam ser pães de queijo”, destaca.
Quando adaptou sua receita para os portugueses, Max continuou utilizando o polvilho brasileiro, que é facilmente encontrado lá, mas teve que mudar o queijo, já que o Canastra não é comercializado em Portugal. “Uso o Queijo da Ilha, que é tipicamente português. Tive que fazer testes adaptando as proporções até chegar ao ideal, que fez muito sucesso entre meus amigos brasileiros, inclusive”.
No início de 2024, nasceu o Bendito, espaço onde ele vende a iguaria em diferentes versões, além de outros pratos típicos brasileiros. O formato sanduíche, em que o pão de queijo assume o papel do pão, é um sucesso por lá, seja recheado com costelinha de porco e barbecue, linguiça com queijo raclette e geleia de pimenta ou mesmo um hambúrguer bovino.
“Os portugueses gostam de pedir batata e cerveja para acompanhar. Eles não comem o pão de queijo como um café da manhã, mas como um lanche à tarde”, explica.
Um quentinho no frio
Outro mineiro que vem conquistando uma cidade europeia com o pão de queijo é Brunelli Berçan. Natural de Ipatinga, no Vale do Aço, ele trabalhava na administração de uma clínica de saúde no interior da Bahia, mas não estava feliz na profissão nem mesmo vivendo no Brasil. Brunelli já havia morado nos Estados Unidos, mas dessa vez queria um lar na Europa. A primeira opção era a Inglaterra, mas o país já estava saindo da União Europeia, o que dificultaria ainda mais os trâmites. Assim, ele resolveu se mudar para Amsterdã, capital da Holanda, em 2016, e tentar a vida na cidade.
“No início, tentei trabalhar na minha área, mas não me dei muito bem. As empresas menores daqui prezam muito pelo holandês, apesar de se viver normalmente falando apenas o inglês”, conta.
Em 2019, surgiu uma oportunidade de ouro que Brunelli não jogou fora, apesar de ser arriscada: abrir um negócio em uma loja que pertencia à amiga de uma amiga. “Fiquei meses pensando nisso. Tinha deixado para lá, mas minha amiga me levou até o local, que fica bem no centro histórico da cidade, até que fui convencido.”
No início de 2020, a Little Brazil abriu as portas como uma lojinha de bolsas e chinelos e como uma cafeteria brasileira. “A coxinha eu compro com um fornecedor brasileiro que encontrei, mas, para o pão de queijo, queria uma receita minha”, explica.
Polvilho e queijo
Difícil encontrar quem não ame pão de queijo. Feita à base de polvilho azedo ou doce (ou ambos) e queijo, a iguaria foi criada, segundo pesquisadores, por volta do ano de 1750. A produção de leite e, consequentemente, de queijos era grande em Minas Gerais e o que sobrava dela passou a ser adicionado à massa de biscoito de polvilho. Com o passar dos anos, a receita se popularizou e conquistou o coração – e o estômago – de pessoas do Norte ao Sul do país.
Queijo holandês
Brunelli conta que testou umas 10 combinações diferentes até chegar ao pão de queijo perfeito. Hoje ele utiliza o polvilho brasileiro e um queijo holandês mais fresco feito com leite de vaca. “Não forneço para outros lugares, faço só para a minha loja e congelo em versão pequena para ser assado em casa”, conta o fundador da Little Brazil, que diz saber que seus clientes voltam pela qualidade do produto.
Hoje, com cinco anos de loja, ele celebra o sucesso do pão de queijo em um país cuja cultura é tão diferente da brasileira. “Os holandeses amam o pão de queijo e cada dia vendo mais. Até mesmo um jornal local nos classificou como o melhor da cidade nesse quesito”, comemora.
A casa é parte do roteiro de locais, da comunidade brasileira e até de outras nacionalidades, a exemplo dos sul-americanos. “Os colombianos têm uma receita similar (chamada pandebono), que leva farinha de mandioca e um queijo, e eles também vêm sempre degustar o pão de queijo mineiro com queijo holandês que eu faço”, conta.
Feliz na cozinha
Carolina Paoletti saiu de São Paulo para a Alemanha em 2011 com o objetivo de atuar em sua área de formação, a arquitetura. “Apesar disso, nunca me senti 100% arquiteta e, depois de uns seis anos em Berlim, a capital alemã, vi que aquilo me fazia infeliz e que, ao mesmo tempo, começava a me sentir em casa e familiar com a cidade”, explica.
Na cara e na coragem, ela, que sempre teve um pezinho no ramo da alimentação (a família trabalhava com isso no Brasil), enviou seu currículo para um restaurante com estrela Michelin que buscava alguém para um estágio. “Fui bem sincera, expliquei que era arquiteta, mas que queria muito aquela experiência e eles me deram uma chance.”
Assim, Carolina começou a trabalhar como autônoma fazendo jantares e eventos. A pandemia chegou em 2020 e reforçou esse trabalho, já que alguns casamentos pequenos continuaram acontecendo e outras grandes empresas passaram a contratar o serviço. “Fazia refeições para trabalhadores de grandes empresas”, conta.
Da pronúncia, veio o nome
No período em que trabalhou com eventos, ela fazia pão de queijo. Neta de avó mineira, não decepcionava e arrancava elogios, não só de brasileiros, mas também dos alemães. “Era bem difícil fazer um bom pão de queijo aqui em Berlim, mas desenvolvi um que as pessoas amavam, com três tipos de queijo de vaca: um parmesão, um que derrete e outro que dá ‘personalidade’. Os gringos sempre pediam aquele bolinho meio ‘borrachudinho’ com queijo”, explica Carolina, que diz ter sido necessário recorrer ao polvilho asiático no principio de seu negócio, já que o brasileiro era dificil de encontrar.
Depois de se cansar da adrenalina do catering e do trabalho com eventos, ela resolveu abrir um café. Em 2023 o Pondji abriu as portas, inicialmente em um espaço locado por três meses. Esse modelo chamado de “pop up”, em que uma loja ou restaurante abre por tempo delimitado e curto, é comum na Alemanha, conforme explica Carolina.
Os pães de queijo dela fizeram sucesso e, no mesmo ano, já foi preciso buscar outro espaço para abrigar a operação. A segunda experiência deixou Carolina ainda mais feliz e realizada, mas, ao mesmo tempo, triste por, mais uma vez, precisar encerrar um ciclo. “É frustrante ter que sair do lugar quando as pessoas começam a te conhecer. Para mim não daria para ter outra loja 'pop up'”, comenta.
“Fiquei 2024 inteiro buscando uma loja e mantendo a marca viva como dava, produzindo pão de queijo congelado e tentando viabilizar a abertura do restaurante”, conta Carolina.
Depois de muita luta e persistência, em maio deste ano o Pondji chegou para ficar. “A minha ideia sempre foi começar uma marca de pão de queijo, não abrir um restaurante brasileiro”, explica ela, que diz ter se rendido à segunda opção por diversos fatores, inclusive financeiro. “Tenho capacidade para servir muita gente e os pratos principais ajudam a manter a casa. Queria e quero ter um lugar com comida de verdade, sem um preço absurdo e onde o pão de queijo seja protagonista”, explica.
Recheados
O foco da casa, aliás, são os pães de queijo recheados em sabores diversos. “O europeu gosta muito de comer um trio deles, como se fosse mesmo uma entrada, um prato principal e uma sobremesa”, conta, destacando que eles costumam ser acompanhados de cerveja ou caipirinha (bebida alcoólica mais pedida), mas que há muitos consumidores que harmonizam a iguaria com vinhos.
“Também tento adaptar o pão de queijo ao paladar de Berlim”, explica ela, que destaca a o recheio de cebola caramelizada, tomilho e queijo branco e o de porco, pimentão vermelho, coentro e abacaxi. Por incrível que pareça, esse segundo é um dos favoritos dos alemães.
Saudades de casa
Fundadora da Beagá Pão de Queijo, que fica em Barcelona (Espanha), Fernanda Bezerra chegou à cidade catalã em 2014. Nascida em Ipatinga, ela viveu em Belo Horizonte desde os seus 16 anos e sempre sonhou em, um dia, morar fora do país. “Estava trabalhando como publicitária em São Paulo e a empresa onde eu trabalhava tinha uma unidade em Madrid, na Espanha”, conta.
Para conseguir toda a documentação necessária, ela teve que se estabelecer em Barcelona e acabou se apaixonando pela cidade. Ao longo de sua trajetória no local, Fernanda, como boa mineira, começou a sentir falta do pão de queijo. “A minha história com a Beagá Pão de Queijo começa com uma ‘abstinência’ desse alimento”, diz a publicitária.
Apesar de não ter proximidade com a cozinha, ela pegou uma receita da avó e começou a adaptar com o que tinha para produzir o pão de queijo e matar a saudade de casa. “Consegui o polvilho, mas a minha maior dificuldade era o queijo. Tentei com gouda, grana padano, mesclado e demorei dois anos para chegar a um bom resultado”, conta ela, que diz usar, hoje, um queijo meia cura feito com uma mistura de leite de vaca, ovelha e cabra.
A receita deu tão certo que os amigos começaram a encomendar as bolinhas congeladas e, em 2016, ela decidiu criar uma marca, ainda conciliando as vendas com o trabalho na agência de publicidade.
Foi só em 2020 que Fernanda saiu do antigo emprego e decidiu alugar uma cozinha profissional e investir totalmente nos pães de queijo. Nesse momento, além de atender pessoas, ela vendia para cafeterias em maior quantidade.
No meio de 2021, uma de suas irmãs chegou a Barcelona para abrir, junto com ela, a Beagá Pão de Queijo. A cafeteria própria, no entanto, só foi aberta em março de 2025, mas foi construída com muito suor e carinho. “Queríamos que ela remetesse a casa de vó mesmo”, explica Fernanda.
Objetos simbólicos
E elas conseguiram isso. O espaço abriga, inclusive, uma parede estampada com a receita de pão de queijo da avó escaneada (aquela que Fernanda usou no início de sua produção). Em prateleiras, também é possível identificar objetos simbólicos de Minas Gerais, até mesmo um livro de Maria Stella Libânio, culinarista e escritora brasileira referência nos estudos da gastronomia do estado.
A casa, que leva pão de queijo até no nome, é focada nas bolinhas mundialmente famosas. Lá, elas podem receber recheios variados, que vão mudando constantemente. Alguns dos sabores que não saem do cardápio são: pulled pork, calabresa com cebola, tomate confitado com muçarela fresca e pesto, carpaccio de abobrinha com queijo de cabra e doce de leite.
A proprietária da casa destaca que os espanhóis também costumam adorar o pão de queijo recheado com jamón ibérico, presunto cru típico do país. “Ele é a primeira opção dos locais. É legal que mescla a nossa cultura com a deles”, explica.
Anote a receita: Pão de queijo com costelinha de porco e molho barbecue do Bendito Pão de Queijo
Ingredientes:
- 1/2 kg de polvilho azedo;
- 400g de queijo canastra ralado (pode ser substituído por algum outro curado);
- 200g de muçarela ralada;
- 400ml de leite;
- 200ml de óleo;
- 1 colher de sopa rasa de sal;
- 3 ovos;
- 1 kg de costelinha de porco;
- 1 colher sopa de banha;
- 1 cebola média;
- 3 dentes de alho picados;
- Suco de 1 limão;
- Alecrim e sal a gosto;
- Água (o quanto baste);
- 250ml de molho barbecue;
- 200g de bacon frito em tiras;
- 500g de couve picada.
Modo de fazer:
- Para o pão de queijo, misture o leite, o óleo e o sal e coloque para ferver em uma panela.
- Após levantar fervura, despeje a mistura sobre o polvilho e misture com uma colher.
- Assim que esfriar um pouco, misture com as mãos até ficar homogêneo.
- Deixe esfriar bem e acrescente um ovo por vez, sempre misturando.
- Adicione o queijo curado e a muçarela e misture mais.
- Com as mãos untadas, faça as bolinhas do tamanho que desejar.
- Coloque em forno pré aquecido a 160 graus por 40 minutos.
- Para o recheio, corte a costelinha separando cada osso e tempere com um pouco de sal, limão e alecrim.
- Aqueça uma panela grande, adicione a banha e as costelas.
- Em fogo alto, refogue as costelas até que fiquem levemente douradas de todos os lados.
- Adicione o alho e a cebola e deixe refogar. Acrescente um pouco de água (até quase cobrir as costelas).
- Tampe a panela e deixe cozinhar em fogo baixo até começar a secar.
- Quando começar a secar a água, coloque mais e vá repetindo esse processo até que a carne esteja desmanchando.
- Quando esfriar, separe a carne dos ossos e acrescente o molho barbecue.
- Asse a couve picada no forno ou na airfryer até ficar crocante.
- Para a montagem, corte o pão de queijo ao meio, coloque as tiras de bacon fritas, a costela e a couve crispy por cima.
*Estagiária sob supervisão da subeditora Celina Aquino
Serviço
Bendito Pão de Queijo (@benditopaodequeijopt)
Praça Chile 15A, Lisboa
+351 960 044 586
Little Brazil (@littlebrazilams)
Raamsteeg 6, 1012 VZ Amsterdã
+31 20 239 0110
Pondji (@pondjiiberlin)
Mainzer Str. 23, 12053, Berlim
Beagá Pão de Queijo (@beagabcn)
Carrer del Rosselló, 60, Eixample, Barcelona
+34 603 86 86 31