Despedida: Bruna Martins detalha difícil decisão de mudar Birosca de lugar
Chef conta que já chorou muito relembrando o que construiu e refletindo sobre a escolha que vai promover uma grande reviravolta no seu primeiro negócio
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Siga noOs últimos dias têm sido de muita emoção para Bruna Martins. Depois de anunciar a mudança do restaurante Birosca – do Santa Tereza para o Lourdes –, ela prepara uma despedida em grande estilo da casa onde começou, há 13 anos, sua história como chef e empreendedora. No episódio desta semana do podcast Degusta, Bruna explica os motivos que a levaram a tomar essa decisão e garante que não vai “abandonar” a Região Leste de Belo Horizonte.
“Por um lado é muito positivo pela minha conquista, mas por um lado me entristece ver o quanto lutei, o quanto resisti, o quanto batalhei por tanto tempo e às vezes vejo que a resposta por muito sofrimento e muita coisa minha pessoal estava em ter um negócio numa zona que é mais frequentada”, desabafa Bruna, que contou já ter chorado muito relembrando o que construiu e refletindo sobre a escolha que vai promover uma grande reviravolta no seu primeiro negócio.
Talvez ele nem saiba, mas foi o cantor Milton Nascimento que levou Bruna para o Santa Tereza. Na época, ela fazia faculdade de música e já pensava em dividir o tempo com a gastronomia.
“Tinha essa coisa do Clube da Esquina, das pessoas falarem da boemia e a gente foi falando do Santa Tereza. Comecei a pegar meu carro e ir para o bairro e comecei a reconhecer o lugar onde o Clube da Esquina tocava. E aí eu passei em frente ao Birosca e resolvi ter essa coragem de alugar, pedir ajuda para o meu pai, sem ter muita noção do que estava fazendo”, conta a chef, que, aos 15 anos, bateu na porta do bistrô francês Taste-Vin e pediu um estágio para Rodrigo Fonseca.
Como a ideia era misturar música e gastronomia, Bruna comprou um piano e sempre convidava alguém para tocar, enquanto ela cozinhava e atendia as mesas. Nos primeiros dias, não tinha nem garçom. A casa foi ficando cheia e a chef foi evoluindo.
“A Birosca virou um ponto de encontro de um tipo de público que queria um lugar charmoso, comer alguma comidinha gostosa e tinha aquela coisa cultural de ter o pianista tocando. Então, acabou que ela é um lugar muito único, muito autêntico.” Com o tempo, os pratos criados a partir de memórias de família se mostraram valiosos exemplares da cozinha mineira contemporânea.
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Ao abrir seu segundo restaurante, o Florestal, que explora com criatividade os vegetais, em 2022, Bruna decidiu continuar na Região Leste. “Normalmente, o processo é anterior ao ponto. Tenho vontade de fazer uma coisa, penso nessa coisa, crio essa coisa para depois procurar o lugar. Dessa vez, o ponto chegou primeiro.” Entre idas e vindas, ela conseguiu alugar o imóvel pelo qual era apaixonada, que fica de frente para uma praça, no Bairro Floresta.
Savassi primeiro
A chef chegou à Savassi com o Gata Gorda. O seu sócio, que operava um food hall naquele ponto, queria levar o Birosca para lá, mas Bruna sentia que ainda não era a hora. “A Birosca pode voar, pode ir para outros lugares, mas, para ela acontecer, precisa ir para uma casinha pitoresca. Não, não vai ser nesse galpão. Tem que manter a identidade.” Diante disso, a opção foi abrir um restaurante de cozinha internacional pop e divertido, muito inspirado na Espanha.
A ida para a Região Centro-Sul abriu os olhos de Bruna para uma realidade incômoda. “Tenho muito carinho pelo Santa Tereza e agora pelo Floresta também. Para mim, ali é uma região mágica, é muito gostoso, mas é muito diferente em termos de empresariado. Entendo que o público para consumir num restaurante às vezes esteja concentrado na Zona Sul, é ali que gira o dinheiro. Isso fez muita diferença para minha vida quando eu percebi depois que entrei para o Gata, a questão de faturamento, a questão de casa cheia.”
E não é só isso. Na casa, já não caberiam mais os planos de expansão, que inclui ampliação do horário de funcionamento e um empório com produtos para levar para casa. “Acho que tem uma limitação operacional do espaço que eu preciso realmente ir para um outro lugar para conseguir dar conta do que tenho pela frente.”
Escolha do endereço
Bruna começou a procurar imóveis em outras regiões da cidade, até que encontrou uma “casa pitoresca” no Lourdes, que era a cara do Birosca.
“É muito difícil achar casa linda. Sabia que Belo Horizonte, a minha arquiteta fala isso, é das cidades que mais tem perdas de patrimônio? E é muito triste, porque, por exemplo, San Sebastián, uma cidade pequena da Espanha, que teve um papel importantíssimo na questão da formação do cardápio do Gata Gorda, tem um centro histórico super preservado”, compara.
A casa já está em reforma e a previsão é de que a mudança ocorra entre novembro e dezembro.
Festa de despedida
Para os os fãs do Birosca, fica o convite para participar da despedida do Santa Tereza com uma programação intensa nos meses de agosto e setembro. Entre as atrações, menu especial em homenagem à gastronomia e boemia do bairro, cozinha ao vivo, noite de piano e festa de rua. Em outubro, o restaurante ficará fechado para se organizar para a reinauguração.
Bruna mora com a família no Santê, como carinhosamente se refere ao bairro, e lá está construindo sua primeira casa própria. Por isso, faz questão de dizer que não vai “abandonar” o bairro. Mais que isso, não vai deixar a casa do Birosca. “O meu interesse, por morar no bairro, por ter esse caso de amor com a Zona Leste é fazer alguma coisa com impacto social. Até já estou estudando, buscando inspirações, pesquisando, buscando parceria”, revela.
Seu desejo, inclusive, é que o bairro seja mais visto pelo poder público. “O Santa Tereza está precisando de uma atenção governamental, porque vejo o bairro se transformando de um jeito que não gostaria de ver.” Ela cita, por exemplo, a questão do transporte público reduzido.
Hora da comida
No fim do papo, Bruna levou para a mesa uma entrada do Birosca. “Como estou nostálgica, trouxe um prato que atravessa todos os cardápios, eu não tiro, ele é super tradicional. É uma broa de fubá com creme de milho, requeijão de raspa, um tartar de palmito fresco com limãozinho, picles de beterraba e rúcula”, descreve.
Serviço
O programa é quinzenal e vai ao ar sempre às segundas. Acesse o canal do Portal UAI no YouTube ou o Spotify para assistir ao terceiro episódio completo.