SABOR DE INFÂNCIA

Veja possível origem do leite queimadinho e onde encontrar a iguaria em BH

Bebida à base de açúcar caramelado é típica de casas mineiras, mas ainda pouco pesquisada e explorada comercialmente

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O cheirinho que perfuma a casa, o quentinho que abraça e, o melhor, o carinho de quem o faz… O leite queimadinho é um preparo simples, com ingredientes abundantes e de fácil acesso, mas capaz de resgatar memórias muito significativas, afinal, é difícil encontrá-lo em um lugar que não seja a casa da mãe ou da avó.

Apesar de comum na cultura de Minas, o preparo ainda não ganhou valor comercial e nem foi parte central de pesquisas científicas. Em busca de informações sobre a origem dessa bebida tão pouco falada fora das casas mineiras, conversamos com Vani Pedrosa, assessora para pesquisa em gastronomia no Senac. Ela aponta fatores que podem estar ligados à criação do leite queimado.

Segundo a especialista, é difícil datar a origem da bebida. “O leite queimadinho era um símbolo dos dias frios, eu acordava com o cheiro dele sendo preparado. Me lembro que gostava de misturar ele com a gemada, outro doce que era muito tradicional”, comenta.

Apesar de ser um preparo aparentemente simples, Vani destaca o saber popular por trás dele. “É uma receita muito delicada de ser feita e muito ligada ao cuidado feminino, das mães e avós. Ela exige a quantidade correta de açúcar, o ponto ideal dele e a forma correta de mexer”.

Hipóteses

Vani Pedrosa, assessora para pesquisa em gastronomia do Senac
Vani Pedrosa, assessora para pesquisa em gastronomia do Senac Genilton Elias/ Divulgação

Em meio à um cenário desfasado em termos de documentação sobre a bebida, Vani nos oferece hipóteses para a criação do leite queimadinho. “A gente vê muito o culto ao café em Minas Gerais, mas ele só chegou aqui entre o fim do século 19 e o início do século 20. Antes disso, os mineiros precisavam de outras bebidas estimulantes”, explica.

Dentre essas alternativas ao café, antes da popularização do grão no estado, Vani destaca o “café de amendoim”, que levava água quente com açúcar, amendoim moído e leite, e o chá de fedegoso, que poderia ser misturado com leite também. “Há comprovações sobre o uso do café de amendoim como substituto do café. Nas festas juninas, inclusive, ele era misturado ao conhaque”, completa.

A assessora diz acreditar que o leite queimadinho se encaixa nessa lacuna que precisava ser preenchida por bebidas estimulantes além do café. “Os mineiros usam muito a criatividade para trabalhar com os alimentos que têm. Nesse caso, o leite e o açúcar eram abundantes no território”,explica.

O fator estimulante e energético do açúcar também não é novidade para ninguém, afinal, é um carboidrato simples e rico em glicose. O próprio leite contém lactose, que também é um tipo de açúcar. “Por ser rico em proteína, também acredito que o leite ofereça uma ‘sustância’ ao preparo”, complementa.

Assim, a combinação desses dois ingredientes corriqueiros poderia ter sido pensada para criar uma bebida estimulante, que desse energia. Não à toa, o leite queimadinho é comumente associado ao tratamento de males. “Tem efeitos diversos ligados a ele. Por ser quentinho e cremoso, ele pode ser usado no fim do dia e no tempo frio, mas por oferecer essa fonte energética, ele também é muito consumido pelas manhãs”, ressalta Vani.

Memória gustativa

A especialista também não descarta a influência de um sabor já muito difundido em Minas na criação do leite queimadinho. O açúcar com o leite é também a base do doce de leite, clássico da cultura mineira. A origem do doce, de acordo com o G1, inclusive, se deu por uma distração de uma funcionária da residência do governador argentino Juan Manuel de Rosas ao preparar uma bebida à base de açúcar e leite.

Parece familiar esse preparo, né? De fato, essa história nos leva a crer que, além de compartilharmos a paixão pelo doce de leite e pelo futebol, também dividimos o preparo do leite queimado com os “hermanos” argentinos.

Onde encontrar?

Talvez pelo alto valor afetivo, que nos leva a crer que a bebida preparada em casa ou na da avó é sempre  melhor, essa iguaria ainda não ganhou destaque comercial.

Um dos poucos espaços em Belo Horizonte onde é possível degustar a bebida é o restaurante Trintaeum, que, aos sábados e domingos, oferece um café da manhã (estilo hotel) bem mineiro (R$ 119 por pessoa).

Na casa, a bebida é servida quentinha – como deve ser – em xícaras de porcelana com pinturas em azul, outro clássico dos lares mineiros. 

Serviço

Restaurante Trintaeum (café da manhã)

  • Rua Professor Antônio Aleixo, 20, Lourdes
  • Sábado e domingo, das 8h às 10h30
  • R$ 119 por pessoa

Receita

Ingredientes (1 porção)

  • açúcar - 2 a 3 colheres (sopa) 
  • leite - 1 xícara de leite

Modo de preparo: 15min

  • Derreta o açúcar e escalde com o leite, mexa bem até o açúcar derreter
  • Despeje em uma caneca ou xícara e sirva

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