Com conteúdo e sem tendência

O psicanalista Jonas Samudio lançou ontem a terceira edição do seu livro e a nova coleção da sua marca unissex Teresa Texto Tecido

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O psicanalista Jonas Samudio fez quatro anos de seminário, se formou em filosofia, teologia e letras. Fez pós-graduação, mestrado e doutorado. Quem vê um currículo desse percebe na hora que se trata de um profissional prá lá de preparado, competente, com agenda cheia e sem tempo de respirar. E é, mas além de tudo isso Samudio é inquieto, quis mais, ousou e fez.


Com uma pequena máquina de costura infantil que tinha apenas dois pontos: “o lento e o um pouquinho menos lento”, e ambos muito secos, como ele mesmo conta, e sem saber absolutamente nada de costura, Jonas fez um vestido. E não parou mais. Nasceu assim a Teresa Texto Tecido.

A coleção não lança tendência e tem foco na sustentabilidade

A coleção não lança tendência e tem foco na sustentabilidade

Alexandre Guzanshe/em/d. a press


Mas vamos começar do início da história desse costureiro irreverente e intuitivo. Samudio é do Rio Grande do Sul. Sua mãe, Maria de Lourdes, fez curso de corte e costura e, muito determinada, afirmou que só se sentiria costureira quando fizesse um vestido de prenda com todos aqueles detalhes. Fez, mas nunca exerceu a profissão. Uma tia fazia roupas típicas gaúchas. Jonas, criança atenta a tudo, estudioso, leitor contumaz gostava de observar as imagens sacras e ver como as roupas eram organizadas e dobradas nas esculturas.

Cada roupa é única e ele trabalha muito com retalhos

Cada roupa é única e ele trabalha muito com retalhos

Alexandre Guzanshe/em/d. a press


Jonas veio para Belo Horizonte para fazer doutorado na UFMG. Durante o curso de letras sua leitura preferida eram as obras da freira espanhola Tereza D’Avila (século 16), que escreveu muito sobre o misticismo cristão. Santa essa que deu nome à sua grife. E a pesquisa de seu doutorado foi sobre o uso da palavra Deus nas obras a escritora portuguesa Maria Gabriela Llansol.


Em determinado ponto da escrita da sua tese de doutorado (2018), Samudio se sentiu bloqueado, não conseguia escrever nada. Já havia comprado a pequena máquina de costura, e em uma de suas andanças pelo Bairro Barro Preto, olhando lojas de tecidos, encontrou uma malha muito bonita e comprou. Um dia começou a pensar, “e se eu cortasse esse tecido assim, assim e assim, e costurasse aqui? Fiz isso e já usei”. E fez a roupa que imaginou na maquininha infantil que só tinha dois pontos. Usou, fez sucesso. E algumas amigas começaram a pedir. E a maquininha de costura funcionou.


“Uma semana depois já fiz um e vendi e a partir daí comecei a costurar muito. Passou um tempo consegui voltar a escrever. De algum modo senti que nessa experiência, para mim as duas coisas tinham um encontro. Tanto a escrita quanto o costurar tinham a ver com o me dar um corpo. Porque era uma tese sobre Deus e era muito fácil tender para temas metafísicos, tanto que eu tive um padecimento no corpo nesse período que eu não consegui escrever. Cheguei a deprimir. Os dois fazeres criativos me ajudaram a concluir a tese”, explica.


Outro motivo que levou Jonas a costura foi uma insatisfação da adolescência de não encontrar nas lojas roupas que gostaria de usar. Sempre foi fora do convencional. Só tinha calça jeans ou social e camiseta ou camisa. Depois de trabalhar muito tempo só com sua intuição, Samudio fez um curso de moulage, com Julia de Assis e um de modelagem, com Thiago Bonifácio, ano passado para aperfeiçoar a técnica.


Teresa não lança coleção com tendência e tem foco na sustentabilidade. São peças únicas, unissex, de um tamanho só, com muita volumetria. Jonas sai à procura de tecidos e compra os que lhe chamam atenção, “que me atrai e inspiram”. As estampas? São as que estão no tecido. Por isso cada roupa é única e ele trabalha muito com retalhos. Lembram da sustentabilidade? Cada coleção gira em torno de 30 a 60 peças. A nova coleção, lançada ontem, intitulada “Comece pelo segredo” teve como inspiração um hábito de monja de clausura, da Ordem das Irmãs Concepcionistas de Santa Beatriz da Silva e Menezes. O estilista propôs 50 peças que, “em sua amplitude e singularidade, desenham o corpo em sua possibilidade de descobrir – no duplo sentido de mostrar e encontrar – o segredo que o sustenta”. Para fotografar ele convidou a dançarina de flamenco Lilian Castro.


O livro “Demasiado alinho: Teresa e outros textos sobre escrita e costura”, o autor se debruça sobre as relações entre literatura, filosofia, psicanálise, teologia e moda, envolvidas, sobretudo, nos ofícios do escrever e do costurar, perpassando da produção da sua marca, Teresa Texto Tecido (@teresarextotecido), “até a discussão sobre costurar e vestir um vestido, no feminino e erotismo nesse gesto poético envolvidos – acompanhando meus textos”, ressalta Jonas destacando com muito orgulho que o posfácio do livro foi escrito pela competente Mary Arantes, intitulado "Canteiros monacais". 

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