PASSADO E PRESENTE

Drinque com o vinho mais famoso de Portugal se populariza no Brasil

Combinação de vinho do Porto, água tônica e limão leva a tradição da bebida portuguesa secular para uma mistura leve e refrescante, como deseja a nova geração

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Com Joana El Khouri*

Por muito tempo, os portugueses consideraram o vinho do Porto uma iguaria para turistas ou, no máximo, uma bebida servida após as refeições para ajudar na digestão. Seu perfil doce e alcoólico o consagrou como vinho de sobremesa, consumido lentamente, em goles contemplativos. Mas, nos últimos anos, os jovens descobriram o vinho português e passaram a utilizá-lo no preparo do Porto tônica ou Porto tónico, em português lusitano.

A receita, simples e refrescante, tem conquistado os bares e esplanadas de Lisboa, Porto e outras cidades europeias. O drinque leva vinho do Porto (pode ser tinto, branco ou rosé), água tônica e uma fatia de limão.

 


Pode parecer uma combinação inusitada à primeira vista, mas é justamente esse contraste de sabores que faz do Porto Tônica uma bebida tão especial: o dulçor do vinho é equilibrado pelo amargor da tônica, enquanto o limão confere acidez e frescor. O resultado? Um coquetel leve, sofisticado e ideal para os dias quentes.


Depois de conquistar a “terrinha”, a bebida chega – aos poucos – ao Brasil. Apesar de ainda ser uma raridade, alguns bares de BH servem o drinque, trazendo a bebida para os mineiros.

Clássico reinventado


Embora esteja em alta agora, o Porto Tônica não é exatamente novo. De acordo com jornais portugueses, o coquetel começou a ser servido nos anos 1970, sendo um dos primeiros drinques a serem criados em solo lusitano. À época, a bebida não alcançou grande popularidade. Mas agora, surfando na onda dos drinques mais leves e refrescantes — como o já consagrado gin tônica —, o Porto Tônica voltou com força.


Esse movimento começou em 2016, mas alcançou o auge da popularidade no último verão, quando praticamente todos os bares de Portugal passaram a servir o drinque. A popularidade do Porto tônica ultrapassou o limite de bares e restaurantes: desde 2021, é possível encontrar em supermercados o drinque em lata, facilitando ainda mais o consumo.


Vale lembrar que o vinho do Porto é uma das bebidas mais emblemáticas de Portugal. Produzido exclusivamente na região do Douro, o vinho passa por um processo de fortificação, no qual a aguardente vínica é adicionada durante a fermentação. Isso interrompe o processo e conserva parte do açúcar natural das uvas, criando um vinho doce, encorpado e de alta graduação alcoólica.


É uma bebida protegida por denominação de origem, com regras rígidas de produção. Ao adaptá-lo para um drinque moderno e descomplicado, os portugueses conseguiram o feito de conectar passado e presente — algo que poucos países conseguem fazer com tanta elegância.

Universo amplo


O Fasano é um dos endereços em BH que tem o vinho do Porto na carta (com taças a partir de R$ 58), além de servir o Portonic (R$ 72) – versão do Porto Tônica com lima no lugar do limão.
Gustavo Giacchero, sommelier de formação que atua hoje como gerente de alimentos e bebidas do Fasano BH, explica que a redescoberta do vinho do Porto inaugura um novo momento para quem aprecia a bebida.

Gerente de alimentos e bebidas do restaurante Fasano, Gustavo Giacchero observa um aumento significativo no interesse do público pelos vinhos do Porto

Gerente de alimentos e bebidas do restaurante Fasano, Gustavo Giacchero observa um aumento significativo no interesse do público pelos vinhos do Porto

Marcos Vieira/EM/D.A Press


“Vejo um aumento significativo no interesse do público pelos vinhos do Porto. Acredito que isso se deve, em grande parte, à compreensão cada vez maior de que esse é um universo amplo, cheio de nuances e possibilidades. Gosto de dizer que o Vinho do Porto vai muito além da sobremesa – ele é, sobretudo, um vinho de meditação. E, justamente por isso, tem múltiplas formas de ser apreciado no dia a dia”, afirma em entrevista ao Estado de Minas.


Ele explica que são três tipos de vinhos do Porto: brancos, rosés e tintos – estes últimos são os mais conhecidos e consumidos. “Todos passam por um processo de envelhecimento em tonéis de madeira, o que confere a cada estilo características singulares”, pontua.


“Os brancos e rosés mantêm a intensidade e o teor licoroso característico do vinho do Porto, mas se destacam pelo frescor. São versáteis e muito utilizados também em coquetelaria, ideais para dias mais quentes. Mesmo nas versões secas (dry), há sempre uma doçura delicada que agrada o paladar”, acrescenta.

Tempo de envelhecimento


Quando o assunto são os vinhos do Porto tintos, há uma subdivisão em duas famílias: os Ruby e os Tawny. “Os Rubys são mais frutados e de coloração intensa, com menor presença de notas oxidativas. Costumam envelhecer por cerca de três anos em madeira. Dentro desta categoria, destacam-se os LBV (Late Bottled Vintage), elaborados a partir de uma única safra e envelhecidos por cerca de seis anos, e os Single Quinta Vintage, também provenientes de uma única colheita, porém reservados para safras excepcionais”, destaca.


Os Tawnys, por sua vez, apresentam coloração mais acastanhada e notas que remetem a frutas secas, cacau e especiarias. “São os preferidos de quem aprecia charutos e ganham complexidade com o tempo de envelhecimento. As versões com indicação de idade – 10, 20, 30, 40 e até 50 anos – são especialmente valorizadas. Há ainda o raríssimo Very Very Old, reservado para exemplares com mais de 80 anos”, classifica.


Viagem a Portugal


Um dos itens escolhidos para representar o país lusitano no cardápio do Trip Food é, justamente, o Porto tônica (R$ 35,90). Com três unidades na cidade e nove anos de história, o bar busca proporcionar uma viagem através do paladar, com pratos e drinques tradicionais de diversos países.

O Porto tônica é um dos itens que representa Portugal no cardápio do Trip Food

O Porto tônica é um dos itens que representa Portugal no cardápio do Trip Food

Trip Food/Divulgação


Tamara Lacerda, sócia-proprietária do Trip Food, explica que tenta inserir referências de viagens que fez no menu do estabelecimento. Foi apenas depois de quatro idas a Portugal, entretanto, que o Porto tônica entrou na carta de drinques, em 2022.


Na primeira viagem ao país europeu, Tamara e seu sócio, Lucas Meireles, estavam focados em vinhos e sequer tiveram contato com o drinque. Foi em uma ida ao Porto, cidade na Região do Douro que dá nome aos vinhos fortificados portugueses, que eles descobriram o Porto tônica e, logo, pensaram em incluí-lo no cardápio.


“Achei que se adaptaria bem ao paladar brasileiro por ser refrescante”, comenta, destacando que o coquetel tem mais potencial para o seu público do que uma dose de vinho do Porto, por exemplo.
Tamara estava certa quanto a isso. O sabor suave com certo dulçor confere leveza ao drinque e, atrelado a uma fácil execução, torna-o ainda mais atraente para consumidores.

Barreiras pelo caminho


Apesar de estarem se popularizando no Brasil, seja pelo sabor refrescante ou pela facilidade do preparo, os drinques preparados com vinho do Porto ainda lidam com empecilhos no processo de convencimento do grande público e de bares e restaurantes brasileiros.


Embora seja um coquetel que agrada bastante o público, que tem uma boa aceitação, a procura dele ainda é relativamente baixa no Trip Food, segundo a proprietária. “A procura ainda é baixa e eu entendo que é por falta de conhecimento da bebida”, comenta Tamara, ressaltando a necessidade de os bartenders explicarem um pouco mais sobre o drinque para os consumidores.


A proprietária ressalta também a dificuldade logística que ainda enfrenta para conseguir servir o drinque. “É um drinque de fácil execução e fácil de beber, mas vejo uma pequena barreira que é a pequena oferta de vinho do Porto branco no mercado de fornecedores”, comenta. Muitas vezes, é preciso comprar o insumo em supermercados, o que não acontece com outras bebidas alcoólicas usadas na casa.
Até mesmo por ser uma novidade bem diferente de outros coquetéis de sucesso no país, o Porto tônica ainda pode ser recebido com certa desconfiança quanto aos seus ingredientes.

“Ainda existe o tabu de misturar destilados e vinhos, mas, aos poucos, vamos mostrando que a mixologia é justamente o estudo das misturas dentro de cada ocasião de consumo”, comenta Alexandre Loureiro, o Xandão, mixologista do Cabernet Butiquim e do Rex Bibendi.

Experiência personalizada


Desde 2017 à frente da carta de drinques do Cabernet Butiquim (no Rex Bibendi está desde o fim do ano passado), Xandão já coleciona mais de dez anos de experiência em bares. Ele destaca que, quando começou a trabalhar no setor, em 2012, apaixonou-se pela coquetelaria e nunca mais parou de estudar e aprimorar suas técnicas.

No Rex Bibendi, o drinque pode ser personalizado e adaptado de acordo com o gosto do cliente

No Rex Bibendi, o drinque pode ser personalizado e adaptado de acordo com o gosto do cliente

Marcos Vieira/EM/D.A Press


A conversa e o contato com o cliente complementam os anos de estudo e experiência do mixologista. Nas duas casas, o Porto tônica (R$ 40 no Cabernet Butiquim e R$ 42 no Rex Bibendi) pode ser personalizado e adaptado de acordo com as necessidades e gostos das pessoas. “Se o cliente quiser uma criação especial para ele, basta trocar uma ideia com um bartender para ele desenvolver uma versão personalizada de algum dos nossos drinques”, explica.


Embora Xandão ressalte a dificuldade de aceitação da mistura entre destilados e vinhos, ele também comemora o número crescente de pedidos do drinque nas casas. “Vejo cada vez mais o pedido do Porto tônica, principalmente por pessoas que já o tomaram em Portugal. Clientes que foram à cidade do Porto, por exemplo, demandam o coquetel para relembrar sua viagem”, destaca.


Para quem preferir degustar um cálice de vinho do Porto após a refeição, como manda a tradição, o Cabernet Butiquim serve a versão tinta da bebida (R$ 25 a taça) e o Rex Bibendi oferece a opção do vinho do Porto branco (R$ 36 a taça).

Vai bem com quê?


O Porto Tônica é um drinque versátil. Vai bem como aperitivo, antes das refeições, acompanhando petiscos como queijos, azeitonas e frutos secos. Mas também pode ser uma excelente pedida para tardes quentes, piqueniques, reuniões entre amigos ou até eventos mais sofisticados.


Por ser leve e de baixa graduação alcoólica, agrada tanto iniciantes quanto os mais experientes no universo da coquetelaria. Além disso, é uma ótima porta de entrada para quem quer conhecer o vinho do Porto sem o compromisso de uma degustação tradicional.

Além da sobremesa


Depois do sucesso do Porto Tônica, cada vez mais bartenders, mixologistas e apreciadores de vinho vêm explorando as possibilidades do vinho do Porto na coquetelaria. Longe de ser apenas uma bebida de sobremesa, esse vinho fortificado e aromático é versátil, sofisticado e cheio de personalidade – o ingrediente perfeito para criar coquetéis que fogem do óbvio e conquistam até os paladares mais exigentes.

Vinho do Porto tinto, gim, suco de cranberry, cereja amarena e bitter aromático: a criativa mistura deu origem ao drinque Spooky

Vinho do Porto tinto, gim, suco de cranberry, cereja amarena e bitter aromático: a criativa mistura deu origem ao drinque Spooky

Marcos Vieira/EM/D.A Press


É o caso do Porto Negroni – a versão do clássico italiano com vinho do Porto. O vinho do Porto Ruby é o escolhido para essa receita, que se combina com vermute tinto, gim, gelo e casca de laranja.


Para os fãs de drinques cítricos e cremosos, a pedida é o Porto Sour, uma mistura de vinho do Porto Tawny, limão siciliano, xarope de açúcar, clara de ovo e gelo.


O clássico Mojito também ganhou uma versão com vinho do Porto branco no lugar do rum, que se mistura a água com gás e folhas de hortelã maceradas.


Esses e outros drinques mostram como o vinho do Porto pode ser mais do que um acompanhante de sobremesas. Com diferentes estilos – Ruby, Tawny, Branco e Rosé –, ele se adapta a várias propostas e permite criar desde drinques refrescantes até opções mais alcoólicas e complexas.


Embora ainda seja pouco difundido no país, especialmente se comparado a bebidas como a vodca e o gim, o vinho do Porto pode ser encontrado em supermercados, lojas físicas e sites especializados. Características como sabor suave e menor teor alcoólico, comparado com destilados comumente usados em coquetéis, também favorecem a democratização e popularização do acesso à bebida.

Vinho com gim


Seguindo a tradição de consumo do vinho fortificado após as refeições, o mixologista Xandão Loureiro criou um drinque bem diferente do Porto tônica. O Spooky (R$ 38), disponível no cardápio do Cabernet Butiquim, é o resultado de uma mistura criativa elaborada pelo especialista.


Com vinho do Porto tinto, gim, suco de cranberry (uma fruta vermelha também conhecida como airela), cereja amarena e um bitter aromático (bebida alcoólica com extrato de ervas que oferece, nesse caso, um sabor amargo), a bebida se caracteriza como um coquetel equilibrado.


“Os drinques são elaborados para exaltar as notas da base alcoólica, que, no caso desse coquetel, é o vinho do Porto tinto. Resolvemos usar um gim com notas cítricas e de especiarias, que favorecem as notas do vinho do Porto e equilibram o seu dulçor”, explica.


Os outros elementos dessa criação de Xandão também contribuem para a harmonia do sabor final. “Para dar corpo e maior complexidade, usamos suco de cranberry e um bitter aromático, resultando em um coquetel fácil de beber e bem equilibrado entre o dulçor, cítrico e amargor. Além de conferir mais sabor, a cereja amarena também dá um toque sofisticado na apresentação do drinque, servido em uma taça pequena com uma pegada vintage.”

 

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Anote a receita: Porto tônica do Cabernet Butiquim

Porto tônica do Cabernet Butiquim

Porto tônica do Cabernet Butiquim

Marcos Vieira/EM/D.A Press


Ingredientes

  • 50ml de vinho do Porto branco;
  • 150ml de água tônica;
  • fatias de cítricos (laranja, limão siciliano e limão tahiti);
  • gelo (quanto baste)


Modo de fazer

  • Em um copo long drink (340ml a 400 ml), adicione muito gelo.
  • Sirva a dose de vinho do Porto branco e mexa bem.
  • Adicione mais gelo até o topo e em seguida complete com água tônica lentamente para preservar o gás.
  • Mexa levemente somente uma vez para misturar e finalize com meia rodela de cada cítrico (laranja, limão siciliano e limão tahiti), uma ao lado da outra.

Serviço


Fasano BH (@fasano)
Rua São Paulo, 2.320, Lourdes
(31) 3500-8900

Cabernet Butiquim (@cabernetbutiquim)
Rua Levindo Lopes, 22, Funcionários
(31) 98447-4102

Rex Bibendi (@orexbibendi)
Rua Antônio de Albuquerque, 917, Funcionários
(31) 97507-4751

Trip Food (@tripfoodbh)
Rua Sapucaí, 469, Floresta
(31) 97554-4642
Rua Alberto Cintra, 56, União
(31) 97554-4642
Avenida Portugal, 2440, Santa Amélia
(31) 97554-4642

*Estagiária sob supervisão da subeditora Celina Aquino

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