Vida e obra de Berenice Menegale são tema do doc ‘Ressonâncias’
Filme de Ana Amélia Arantes tem pré-estreia nesta terça (18/11), no Cine Humberto Mauro, com duas sessões e bate-papo com a equipe
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São 25 minutos de filme, mas a vontade que fica é de ver mais da protagonista de “Ressonâncias”, documentário da diretora Ana Amélia Arantes. O média-metragem acompanha a rotina de Berenice Menegale na Fundação de Educação Artística (FEA), criada e dirigida por ela desde 1963, enquanto prepara a montagem das comemorações dos 60 anos da escola. Em paralelo, a diretora recolhe de Berenice memórias essenciais de sua formação musical.
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O documentário terá pré-estreia nesta terça (18/11), no Cine Humberto Mauro, com duas sessões. A primeira às 18h30, com acessibilidade para pessoas com deficiência auditiva e visual, e a segunda às 19h, destinada ao público em geral, seguida de bate-papo com a equipe do projeto.
Filha do professor Heli Menegale e da pianista Odette Régnier, Berenice se interessou pelo piano cedo, aos 3 anos, quando passou a tocar sons de ouvido no instrumento da família. Seus pais, então, buscaram orientação com a psicóloga e educadora russa Helena Antipoff, que indicou uma professora recém-chegada do Pará, dona de técnicas que ensinavam música a crianças não alfabetizadas por meio das cores.
Berenice conta que o ré podia ser roxo ou lilás, o mi era um marrom amarelado. O fá era vermelho – cor que permanece associada à nota para ela até hoje. Aos 15 anos, mudou-se para Paris para estudar o instrumento ao qual se dedicava desde a infância e ingressou no curso superior do Conservatório Nacional de Paris. Porém, estranhou a dureza e a rigidez dos professores. “Tudo era competição, concurso”, lembra.
Anos depois, diplomou-se também pela Academia de Música de Viena, na Áustria. Ao voltar para Belo Horizonte, queria contribuir com a formação musical de alunos e deixou de lado planos para uma possível carreira de concertista. Assim, foi como educadora que construiu sua trajetória.
Cultura musical e artística
O objetivo era formar o aluno em uma cultura musical e artística mais ampla, para além do formalismo da técnica. “O tempo todo ela está batalhando para que todo mundo que queira aprender música possa aprender. Não só reproduzindo o ensino tradicional”, afirma a diretora.
Idealizada no fim de 1962, a FEA foi oficialmente fundada em maio de 1963. Foi lá que Berenice desenvolveu seu método de educação. “A pedagogia da Fundação tem sido construída desde o princípio. Ela foi sendo reconstruída ao longo dessas décadas. Para a gente ser atualizada, precisa de mudança”, relata no documentário.
A admiração da diretora pela personagem vem de muitos anos. Em 2010, Ana Amélia trabalhava como produtora cultural e prestava serviços à FEA na elaboração de projetos orientados por Berenice. “Comecei a achar interessante aquela pessoa. Eu ainda não entendia a grandiosidade daquela mulher, mas percebi que tinha algo diferente ali”, conta. Mais tarde, já como documentarista, escreveu o roteiro de “Entre mundos“ (2019), longa dirigido por Guilherme Reis, sobre Helena Antipoff.
O recorte do documentário não surgiu de imediato. Ana Amélia acompanhou o cotidiano de Berenice durante um período, tornando-se, nas palavras da personagem, uma espécie de “fantasminha”, enquanto buscava identificar o fio condutor da narrativa. “Escutei muitas histórias. Era difícil selecionar o que contar”, relata.
“Eu estava lá acompanhando, fazendo uma filmagem mais observacional, tentando buscar nos gestos da Berenice esse movimento dela de valorização da composição, da liberdade, da experimentação”, comenta.
60 anos da Fundação
No processo, percebeu que a preparação para a comemoração dos 60 anos da Fundação poderia ser o eixo central do filme. Aproveitou, então, que Berenice estava contando muitas histórias à equipe envolvida na organização das festividades e começou a registrar esse material.
O “fantasminha” acompanha o desenrolar do cotidiano a certa distância. A diretora filmou de 2022 a 2025 e o documentário não tem entrevistas. É narrado por meio das conversas que Berenice mantinha com as pessoas ao seu redor naquele período.
A protagonista relembra momentos importantes de sua trajetória e da própria FEA, como a atuação de seu pai como chefe de gabinete de Darcy Ribeiro quando ele era ministro da Educação no governo de João Goulart. Foi Darcy quem incentivou financeiramente a criação da Fundação, viabilizando os recursos para alugar a primeira casa e comprar os primeiros pianos.
Além de comandar a FEA, Berenice teve papel decisivo no surgimento e na consolidação de importantes iniciativas culturais em Minas Gerais. Ajudou a criar o Festival de Inverno da UFMG, que teve sua primeira edição em Ouro Preto em 1967. Foi a primeira secretária municipal de Cultura de Belo Horizonte, em 1989, e também comandou a Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais. Deu aulas na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) de 1975 a 1999.
Em janeiro de 2024, realizou um concerto restrito aos amigos mais próximos, em comemoração aos 90 anos – única cena que não pôde ser registrada pela cineasta, que utilizou uma filmagem da equipe do cinegrafista Beto Magalhães.
“Berenice vai reverberando para as gerações que passam por ela. Muitos estudantes da FEA, depois se tornam professores ou conquistaram carreira internacional. É um fluxo que vem dessa formação humanista dela, muito calcada nas artes. Berenice é uma pessoa que move montanhas pela democratização da música e das artes. Ela faz isso na esfera pública, na privada e na pessoal”, afirma Ana Amélia Arantes.
“RESSONÂNCIAS”
(Brasil, 2025, 25 min.) Direção: Ana Amélia Arantes. Exibição nesta terça-feira (18/11), às 18h30, com acessibilidade para pessoas com deficiência auditiva e visual, e às 19h, para o público geral, no Cine Humberto Mauro (Av. Afonso Pena, 1537 – Centro). Sessões seguidas de bate-papo com a equipe. Entrada gratuita.