Missa de sétimo dia de Lô Borges é marcada por forte emoção
Cantor, que faleceu no último domingo (2/11), é homenageado com corais durante celebração em Belo Horizonte. Parentes falam da importância de Lô para eles
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Familiares, amigos e fãs de Lô Borges se emocionaram durante a missa de sétimo dia do cantor, realizada neste sábado (8/11) na Paróquia Santa Teresa e Santa Teresinha, na Praça Duque de Caxias, no Bairro Santa Tereza, em Belo Horizonte. A cerimônia contou com três corais – Ensaio aberto, Coral do Hospital Felício Rocho e Madrigal Scala – e várias homenagens para celebrar o legado deixado pelo artista.
Com os olhos marejados, o irmão de Lô, Yé Borges, relatou que os últimos dias foram difíceis para toda a família, mas que estão se apoiando na fé para superar o luto. Além disso, ele reforçou o quanto o cantor foi querido pelo público, o que reverberou no desejo de muitas pessoas estarem presentes na missa, acompanhando ou cantando.
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“A ferida ainda está aberta, mas ela vai cicatrizar. A missa de sétimo dia é o momento que a gente espera encerrar o luto. É um momento de choro. Quero despedir aqui os choros que estou tendo nos últimos dias. Não que eu não tenha mais, mas que seja, aqui, um derramar de lágrimas”, disse o irmão.
Para o sobrinho de Lô e filho de Yé, Samis Borges, os dias sem o tio também têm sido duros, mas ele acredita que, agora, deve-se manter e cuidar do legado deixado pelo cantor.
“Apesar de ele ser um ícone nacional, um ícone da música brasileira, a gente [família] sente muito pelo fato de ser alguém da nossa família. O que fica é o legado. A música dele ultrapassou barreiras. Além de tudo, o que fica são esses momentos. A gente perceber o impacto da arte dele”, conta o sobrinho.
Outro sobrinho de Lô, Rodrigo Borges acredita que a beleza e o reconhecimento do trabalho do cantor deve ficar marcado. Ele cantou a música “Quem sabe isso quer dizer amor” ao lado dos corais.
“É um dia para relembrá-lo, um dia de muita emoção, mas também de ser acolhido pela comunidade aqui de Belo Horizonte, mas também do Brasil. Ele deixa um legado que fica pra gente e pra nova geração. Desde muito novo, o Lô entra na vida das pessoas pela música e pela arte. A gente vê, agora, a comoção que foi com a partida dele, então acreditamos que isso só vai aumentar com o passar do tempo”, diz Rodrigo.
Além da música cantada pelo sobrinho, o coral fez uma homenagem cantando o religioso cântico “Ave Maria” e “Trem azul”, composição do próprio cantor. De acordo com o maestro Lindomar Gomes, que conduz o coral na missa, reforça que é um prazer participar deste momento, uma vez que Lô esteve presente em vários momentos nos corais da igreja.
“É uma emoção muito grande. O Lô é um gênio da música mineira e brasileira. Como ele dizia, sou do mundo, sou Minas Gerais, é uma marca. Temos uma admiração e respeito por esse legado maravilhoso que ele nos deixa”, conta o maestro.
Com uma família grande e considerada, pelos próprios integrantes, unida, os parentes e amigos ocuparam parte da igreja com muita emoção. Outras pessoas chegaram na missa vestindo camisas com frases de músicas do artista ou referências às obras de Lô.
No convite para a missa de sétimo dia, a família Borges escreveu que Lô foi mais do que um músico. “Ele foi símbolo de arte e sensibilidade. Um dos corações que pulsaram junto ao Clube da Esquina. Sua partida deixa saudade, mas sua obra permanece viva. Que o som da tua música continue sendo abrigo”, dizia a mensagem.
O cantor morreu no domingo (2/11) no Hospital da Unimed, em BH, de falência múltipla dos órgãos. O cantor e compositor ficou internado no Centro de Terapia Intensiva (CTI) durante 18 dias, após sofrer uma intoxicação medicamentosa.
Homenagens continuam
No domingo (9/11), a feira do Mercado Distrital de Santa Tereza (Rua São Gotardo, 273), que será realizada das 10h às 18h, vai fazer um tributo a ele com o Quarteto Travessia. Gabriel Guedes, filho de Beto, Tadeu Franco, Fred Borges, Bárbara Barcellos e outros músicos vão fazer um show com repertório de Lô, a partir das 13h.
Contribuição para a MPB
A partida de Lô Borges relembrou a atemporalidade de seu legado e do grupo Clube da Esquina, no qual foi um dos fundadores, que continuam a inspirar a nova cena musical de Belo Horizonte.
O músico lançou um disco por ano entre 2019 e 2025, mas se destacou como um dos nomes mais influentes da música brasileira há décadas. O Clube da Esquina, nascido nos encontros na capital mineira no fim dos anos 1960, segue moldando a identidade de várias gerações.
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O Clube da Esquina foi um coletivo de amigos que revolucionou a MPB. Formado por Milton Nascimento, Lô e Márcio Borges, Toninho Horta e Beto Guedes, o resultado do movimento foi uma sonoridade única, com harmonias sofisticadas e letras poéticas reconhecidas mundialmente.
Lô foi coautor, junto a Milton Nascimento, do álbum "Clube da Esquina", lançado em 1972, um divisor de águas na música brasileira. Sua parceria com Milton começou cedo, com composições como "Para Lennon e McCartney" e "Clube da Esquina", presentes no disco Milton, de 1970.
Descrito como um "craque em harmonias e melodista habilidoso", o artista sempre esteve à frente do seu tempo. Sua música se destacou pela fusão de influências, misturando Beatles, baião, psicodelia, jazz, pop, rock progressivo e MPB.
Seu primeiro disco solo, o "Disco do Tênis", de 1972, que contém o sucesso "O Trem Azul", tornou-se um clássico cult e demonstrou sua capacidade inventiva. O álbum teve reconhecimento posterior, chegando a ser citado como influência por artistas internacionais, como Alex Turner da banda Arctic Monkeys.
Lô se manteve como um compositor produtivo ao longo da vida, gravando dezenas de discos. Durante o confinamento da pandemia, por exemplo, chegou a compor cerca de 40 músicas. Segundo o irmão, Yé Borges, ele vinha compondo compulsivamente e deixou quatro álbuns de músicas inéditas prontos – dois deles já mixados.