2º Festival de Música Doida começa hoje na sede da Funarte
Evento que será realizado nesta quarta e quinta (29 e 30/10) dá visibilidade à produção de compositores, cantores e grupos ligados a entidades públicas de saúde
compartilhe
SIGA
A Funarte MG recebe, nesta quarta (29/10) e quinta-feira (30/10), a segunda edição do Festival de Música Doida, iniciativa do multiartista Babilak Bah, que tem por objetivo dar visibilidade à produção de pessoas com sofrimento mental.
A programação inclui intervenções do grupo Trem Tan Tan, que ele criou em 2000, Mostra de Compositores e shows das bandas Piraboa, Vozes Fora da Caixa e Block Loki, além de rodas de conversa, debates, oficinas, exibição de vídeos e feira de produtos artesanais e alimentícios.
Leia Mais
As atividades acontecem na área externa da Funarte, gratuitamente, e no Galpão 4, com ingressos ao preço simbólico de R$ 1. Hoje, o público confere a Mostra de Compositores, às 14h30, com oito artistas selecionados a partir do mapeamento que Babilak iniciou em março do ano passado, e também apresentação da banda Piraboa, às 15h30. Amanhã, as atrações musicais são os grupos Vozes Fora da Caixa, às 14h30, e Block Loki, às 15h30.
Cartografia
Babilak destaca que a iniciativa batizada como Cartografia é o grande fundamento do Festival de Música Doida. Ela traz o registro de cantores e compositores de Belo Horizonte, de outras seis cidades de Minas Gerais e de 10 estados brasileiros, como São Paulo, Rio Grande do Sul, Goiás, Paraíba e Bahia. O longo histórico como arte-educador em serviços públicos, centros de convivência e centros de referência em saúde mental é o que lastreia o trabalho do idealizador do festival.
“Me tornei pesquisador dessa criatividade musical ligada à saúde mental no país e isso se desdobrou no mapeamento de coletivos, músicos e artistas. Fizemos a divulgação local, estadual e nacional, e as pessoas vêm espontaneamente, se cadastram e têm seus registros hospedados na plataforma digital do Festival de Música Doida”, diz. Apenas a Região Norte do país ainda não tem artistas incluídos na Cartografia.
Babilak ressalta que os registros servem como material para se pensar em políticas públicas de divulgação dos trabalhos desses artistas.
“É importante mostrar que há esse segmento na saúde mental que produz cultura, demandando recursos para ampliar e dar visibilidade a essa produção. Belo Horizonte é referência em saúde mental e o Festival de Música Doida é um reflexo disso”, afirma, destacando outra iniciativa com a qual colabora, a Mostra de Arte Insensata, realizada a cada dois anos.
Babilak ressalta que o fato de ser conhecido nacionalmente, a partir do trabalho com o Trem Tan Tan, é um facilitador para o mapeamento.
“Ao longo dos últimos 25 anos, o Trem Tan Tan virou referência na saúde mental em Minas e no Brasil. A partir dessa experiência, publiquei o livro 'Uma clínica de instantes inusitados', contemplado pelo edital Rumos Itaú Cultural 2019-2020”, diz. Por meio de suas viagens e pesquisas, identificou enorme gama de compositores em todo o país.
“É um grupo de artistas excluído até pela própria cena cultural. A ideia era fazer com que o Trem Tan Tan encontrasse seu lugar nesse meio em Belo Horizonte e começasse a quebrar o preconceito. O festival é a continuação desse trabalho. Ele vem afirmar isso, mostrar esses cidadãos criativos que eventualmente são diagnosticados como loucos. A ideia é eliminar o preconceito, mostrar a potência dessas pessoas e garantir a diversidade humana”, ressalta.
Ele pontua que é um trabalho sobretudo político, mas também criativo, poético e plural. “A cidade tem que ter espaço para todo tipo de festival”, salienta. Babilak observa que para participar da programação, o importante é que a pessoa seja atendida pelo serviço substitutivo em saúde mental.
Palco da pluralidade
“Aí não tem questão de gênero musical nem nada. O festival está aberto para receber e divulgar as expressões humanas. Estamos abertos à pluralidade e ao diferente”, destaca.
A Mostra de Compositores é a principal vitrine dessa diversidade, diz. “Entre os oito selecionados, temos, por exemplo, o Miguel Venuto, que acabou de fazer 18 anos e é uma grande promessa. Temos também uma menina compositora, a Raíssa Cordilira, que é instrumentista”, afirma, citando Sílvia Vilarejo, Wagli Constantino e Juliano Batimam.
Babilak avisa que haverá palco aberto para quem quiser se inscrever, na hora, para mostrar seus dotes artísticos.
Desafio positivo
Babilak Bah diz que a primeira edição do Festival de Música Doida, realizada no ano passado, foi um grande desafio, por seu caráter de ineditismo, mas com saldo positivo.
“O evento repercutiu bastante. A loucura entrou na agenda cultural da cidade”, destaca. A segunda edição é realizada com recursos da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura.
“O importante é marcar a estética do festival e esse espaço na cidade. Queremos reafirmar essa conquista, trazendo mais compositores, dando espaço para pessoas diversas, revelando talentos, intérpretes e coletivos vinculados à saúde mental”, destaca.
FESTIVAL DE MÚSICA DOIDA – 2ª EDIÇÃO
Nesta quarta e quinta-feira (29 e 30/10), das 14h às 17h30, na Funarte MG (Rua Januária, 68 – Centro). O acesso à área externa é gratuito e, para as atrações do Galpão 4, os ingressos custam R$ 1. Programação completa no site do Festival de Música Doida.