Flávio Venturini relembra marcantes passagens nos 50 anos de carreira
O cantor e compositor mineiro é o entrevistado do EM Minas, programa da TV Alterosa em parceria com o Estado de Minas e Portal Uai
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Siga noFlávio Venturini tem emoldurada e pendurada na parede de casa a letra da música “Mais uma vez”, escrita à mão por Renato Russo. A canção, parceria inusitada do músico mineiro com o vocalista e letrista da Legião Urbana, nasceu por acaso, quando Venturini se encontrou com o roqueiro nos corredores da gravadora Odeon, no Rio de Janeiro.
“Eu havia me encontrado com o Renato e ele falou: ‘Você é o Flávio, né? Pô, adoro 'Criaturas da noite’’. Achei legal ele conhecer”, contou o músico mineiro no “EM Minas”, programa da TV Alterosa em parceria com o Estado de Minas e o Portal Uai. “(Num) outro dia, eu estava sozinho, ensaiando, quando ele (Renato Russo) entrou e falou: ‘Posso ficar aqui?’. De repente, no tema que eu estava tocando, ele falou: ‘Tô com uma ideia aqui, posso te mostrar?’. Aí me mostrou o esboço da letra de ‘Mais uma vez’”, lembrou.
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Venturini é o convidado desta semana do programa. Ao longo da entrevista, ele relembra os 50 anos de carreira, conta os bastidores do 14 Bis e revela curiosidades, como a inspiração para “Espanhola”, parceria dele com Guarabyra. A íntegra da entrevista está disponível no canal de YouTube do Portal Uai.
Flávio, você está rodando o Brasil, 50 anos de carreira, seu nome está escrito e perpetuado na história da música brasileira. Seu show retrata essa história?
O nome do show é "Minha história". Fiz um roteiro mostrando músicas dos vários momentos da minha carreira, desde a gravação de "Nascente", que foi primeiramente gravada pelo Beto Guedes – e depois por Milton Nascimento –, que me lançou como compositor. Tive uma passagem no grupo Terço, em São Paulo. Voltei a Minas muito ligado ao trabalho do Clube da Esquina. Cheguei a gravar um disco com Beto, “A página do relâmpago elétrico”, e Milton me chamou para gravar "Nascente". A gravadora me viu cantando com Milton e me chamou para gravar um disco solo. Eu propus fazer com uma banda. Aí, fundamos o 14 Bis. Fiquei por oito anos até seguir a carreira solo.
Vamos rebobinar a fita um pouquinho. Então, surgiu Flávio compositor e depois foi para O Terço. Qual era a formação?
O Terço era um trio, com Vinícius Cantuária, Jorge Amiden e Sérgio Hinds, que inclusive defenderam uma música minha num festival. Quando eu entrei, a formação já tinha mudado. Era Magrão, Luís Moreno e Sérgio Hinds. Eu entrei como tecladista. Fizemos dois discos importantes considerados clássicos do rock progressivo brasileiro: "Criaturas da noite" e "Casa encantada". Daí, recebi um convite para tocar com Sá e Guarabyra.
Indicado por quem?
Por Milton Nascimento. Foi meu padrinho.
Aí você voltou a Minas…
Voltei querendo gravar com uma banda (no caso, o 14 Bis). A gente ia fazer uma banda com o Beto, mas ele se casou, teve um filho e resolveu seguir carreira solo. Nisso, o Milton gravou "Nascente", a música que lançou o Clube da Esquina. Então, excursionei com ele, fiz shows, uma turnê inteira. E, aí, a gravadora Odeon, que era a mesma gravadora do Milton, me viu cantando com ele e me chamou para gravar um disco solo. Mas eu quis gravar com banda. Então, formamos o 14 Bis.
O 14 Bis estourou. Foi a primeira grande banda brasileira com essa tendência do progressivo?
Foi pré-rock brasileiro. O 14 Bis era uma banda que a crítica tinha dificuldade de rotular, porque a gente não tocava só rock progressivo, mas também música instrumental, música "country" de violão e vocal.
"Espanhola" é sua com quem?
Com o Guarabyra. Eu lembro dele batendo na porta de casa e entrando de madrugada. Eu e o pessoal do Terço morávamos juntos. O Guarabyra estava num bar bebendo, lembrando de uma espanhola amiga dele. Aí ele (completamente bêbado) bateu lá em casa. Perguntou: "Você tem feito alguma coisa?" Eu peguei um violão e toquei uma música que ele adorou, achou lindo, escreveu na hora. No outro dia eu liguei para ele, mas ele não se lembrava. Disse que não se lembrava nem de ter ido lá em casa.
Você criou grandes clássicos da música brasileira. Você tem ciência desse tamanho?
Acho que a gente nunca tem noção de onde a nossa música chegou. Claro que eu tenho um retorno muito grande dos fãs. É gostoso ver a opinião das pessoas e saber que (a minha música) foi importante.
A gente vê esses grandes encontros de bandas comemorando 40, 45 anos de carreira lotarem teatros. Isso é sinal que os fãs ainda estão presentes ou é um atestado de que atualmente tem muita coisa ruim sendo produzida?
As duas coisas, porque hoje tem muito artista que faz sucesso nas plataformas, mas não faz sucesso em show. Quando a gente constrói a carreira, tijolinho por tijolinho, disco a disco, vai cativando um público. E isso é importante para construir uma história.
Contam que o 14 Bis estava numa gravadora do Rio, fazendo uma música que não tinha letra ainda. Aí, vocês saem e encontram com o Renato Russo e ele faz a letra…
A história verdadeira é a seguinte: Eu havia me encontrado com o Renato em um dos corredores da Odeon. Ele falou: "Você é o Flávio, né? Pô, adoro 'Criaturas da noite’”. Achei legal ele conhecer… A gente ensaiava todo dia na Odeon. Um dia, eu estava sozinho. Aí entrou o Renato e falou: "Posso ficar aqui?". De repente, no tema que eu estava tocando, ele falou: “Tô com uma ideia aqui, posso te mostrar?”. Aí me mostrou um papel que hoje em dia eu tenho num quadro da minha casa. Um esboço da letra de “Mais uma vez”.