'Amores à parte', com Dakota Johnson, cumpre a promessa de fazer rir
Comédia dirigida por Michael Angelo Covino conta história de amigos inseparáveis que começam a ter problemas com suas esposas
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Siga noDurante os anos 1980, o cinema americano foi se moldando às novidades, como a popularização do videocassete, o crescimento da cultura de blockbusters e a segmentação do mercado. Foram aplicadas medidas que visavam manter viva uma indústria que atingiu o seu auge no fim dos anos 1970.
Uma das medidas foi conter o crescimento das produtoras independentes por meio da criação, dentro das grandes companhias, de braços voltados a filmes de menor orçamento. Um desses braços é a Sony Pictures Classics, criada em 1992.
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Michael Angelo Covino foi formado por esse cinema americano independente com seu primeiro longa, "A subida", de 2019. Para o segundo longa, "Amores à parte", teve cinco produtoras, com a poderosa e independente Neon encabeçando o grupo. Como o primeiro, este segundo longa é coescrito e coestrelado por Kyle Marvin, seu sócio na Watch This Ready, outra das produtoras do filme.
Covino e Marvin são, respectivamente, Paul e Carey, amigos inseparáveis que começam a ter problemas com suas esposas. Esses problemas acarretam uma série de desencontros, traições e indecisões. São adultos infantilizados, que procuram uma certa modernidade nos relacionamentos, mas não sabem bem o que querem, nem o que não querem. Não sabem nada, na verdade.
O filme começa com Carey e sua esposa Ashley – Adria Arjona – em brincadeiras sexuais na estrada, enquanto ele dirige. Na tentativa de ultrapassá-los, outro casal perde o controle e capota, causando a morte de uma mulher.
Essa morte é o estopim para Ashley dizer que deseja o divórcio. Carey, desesperado, se põe a andar. Depois de um tempo, chega à casa onde Paul vive com sua esposa, Julie, papel de Dakota Johnson. Acaba ficando na casa por alguns dias, o que será praxe durante o filme – pessoas que chegam do nada e ficam mais do que o esperado.
Julie informa para nós e para Carey que seu relacionamento com Paul é aberto. Um pouco mais tarde, Carey irá transar com Julie, e é aí que tudo começa, enquanto ainda estamos na primeira meia hora do filme.
RISADAS GARANTIDAS
"A comédia mais engraçada do ano", diz o cartaz de divulgação. Não chega a tanto, mas é difícil não dar algumas risadas com os acontecimentos que envolvem esses dois casais e os homens e mulheres que acabam entrando em suas órbitas.
Começando já com a quase interminável troca de socos e golpes de todos os tipos entre Paul e Carey, ou com os homens que Ashley leva para casa, mesmo que Carey continue morando com ela.
Já no início, Carey esquece de guardar seu pênis dentro da calça e é alertado por uma policial. De um filme assim, se espera praticamente tudo. E veremos mais coisas bizarras, como um divertido amante mentalista e um diretor de escola particular sentado numa bola de pilates durante a reunião com os pais de uma criança.
Essa criança, aliás, é Russ, filho de Paul e Julie. Carey e Ashley não têm filhos, mas sabemos que Carey adoraria ser pai, talvez porque seu grande amigo também é pai.
Há uma cena de rejeição de um beijo homossexual, mas a verdade é que o amor de Paul e Carey parece maior que tudo no filme. Talvez por isso eles sejam tão indecisos quanto à continuidade de seus relacionamentos com suas esposas. E talvez a indecisão maior seja porque Carey deseja Julie, mas mais por desejar tudo que Paul possui do que por alguma atração física ou emocional.
"From buddy to lovers", ou de amigos para amantes, expressão muito bem explicada por Robin Wood em um grande texto crítico, é explicativa aqui. "De grandes amigos a amantes": muitos filmes foram feitos com esse subtema, como "Butch Cassidy" e "O espantalho". Raramente os amigos chegam a ser amantes, embora o desejo esteja sempre com eles, represado.
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É o caso de "Amores à parte", comédia de momentos engraçados e momentos um tanto tolos, mas que compensa a irregularidade com uma direção por vezes criativa e um bom elenco. Sobre isso, é necessário dizer que Dakota Johnson, que tem uma taxa de rejeição incompreensivelmente alta entre críticos e cinéfilos, está bem, mais uma vez. (Sérgio Alpendre/FolhaPress)
“AMORES À PARTE”
Produção EUA, 2025, com direção de Michael Angelo Covino. No elenco, Dakota Johnson, Adria Arjona, Kyle Marvin. Em exibição no Cineart Ponteio.