LANÇAMENTO LITERÁRIO

Em estreia literária, o jornalista Braulio Lorentz conta histórias de hits

Com "Baseado em hits reais", o autor resgata músicas que marcaram época, contadas pelos próprios artistas

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Foi durante uma faxina musical em sua coleção de CDs que o jornalista mineiro Braulio Lorentz começou a se perguntar sobre aquelas músicas que todo mundo conhece, mas cujos artistas quase ninguém lembra. A coleção, formada por discos recebidos na profissão e outros comprados como colecionador, acabou virando ponto de partida para a pesquisa que resultou no primeiro livro do especialista em cultura pop.


Braulio é membro votante do Grammy Latino e trabalha como jornalista musical há duas décadas. “Faz parte de mim. Ainda tenho aparelho de CD, ainda ouço e gosto de ver encarte”, conta. O que era apenas uma arrumação de caixinhas de acrílico em ordem alfabética acabou se transformando em uma investigação. Ele queria saber para onde foram os responsáveis por canções que ainda tocam em rádios, aulas de pilates ou lojas de departamento, mas que desapareceram do noticiário.


Foi ouvindo a faixa “The way”, do Fastball, que Lorentz teve sua epifania criativa. “Comecei a pensar por onde estava cada uma dessas bandas e artistas em geral e comecei a ir atrás delas”. Assim, ir atrás de protagonistas que já foram coadjuvantes virou hobby.


As primeiras descobertas renderam reportagens. Com o tempo, ganharam novo formato e se tornaram em “Baseado em hits reais”, livro onde cada história é contada em cerca de quatro páginas, sem enrolação, com o melhor que o autor conseguiu tirar durante as entrevistas com cada um dos artistas.


“Todos os textos são readaptados e, sim, são um pouco mais pessoais do que se você escrever para a grande mídia. Você tem um desprendimento maior em um projeto solo e com isso consegue colocar mais de você lá”, conta o autor.


Certas canções foram compostas em poucas horas, algumas ainda rendem dinheiro até hoje, enquanto outras, mesmo tendo feito milhões, deixaram seus autores sem nada. Outro caso marcante é o do Crash Test Dummies: a canção “Mmm mmm mmm mmm” ficou no topo das paradas, foi indicada ao Grammy e acabou eleita pela Rolling Stone como uma das músicas mais irritantes da história. No inglês, a expressão “one hit wonder” define com precisão artistas lembrados por apenas um grande sucesso.


Braulio entrevistou em sua grande maioria nomes estrangeiros, mas também reservou espaço para brasileiros, que aparecem sempre ao final de cada capítulo em entrevistas em formato de pergunta e resposta. Entre eles, Luka, dos versos de “Tô nem aí”, Kasino, de “Can’t get over”, que hoje trabalha com música eletrônica gospel, e Kelly Key, que lamenta o preconceito contra o pop nacional e relembra episódios de assédio no início da carreira.


INFLUÊNCIA DOS PAIS


Natural de Ipatinga, na região do Vale do Rio Doce, ele conta que a relação com a música pop vem da infância. O autor dedica o livro aos pais, que lhe apresentaram artistas e canções por meio de novelas e programas de TV. “A trilha do Roque Santeiro é o meu primeiro vinil, que eu tenho até hoje”, lembra. Ele explica que isso o ajudou a se esquivar de preconceitos musicais na carreira. “Existe música ruim e música boa em todos os estilos. Tem gente talentosa em todos os estilos.”


O mergulho no universo dos sumiços musicais trouxe descobertas e surpresas. Algumas músicas ele não suporta mais ouvir, enquanto outras ganharam novo significado. Por exemplo, passou a gostar de “Bad day”, de Daniel Powter, mesmo sendo uma faixa que o próprio cantor não aprecia, pois coincidiu com o auge do seu alcoolismo. “Hoje em dia, eu ouço com carinho, porque ele é muito legal. E tem outros casos assim que eu passei a dar mais valor à música, por saber como ela foi feita, saber a história”, observa.


No segundo capítulo, aparecem em seguida KT Tunstall, com “Suddenly I see”, Vanessa Carlton, de “A thousand miles”, e JoJo, de “Too little too late”. Mas foi Vanessa quem mais chamou atenção do jornalista. “Sempre achei ela muito talentosa. Terminei a entrevista e pensei: cara, eu gostaria de ser amigo dessa mina. Acho que a música envelheceu muito bem”, conta sobre a trilha sonora de “As branquelas”, muito lembrada pelos acordes iniciais de piano.


Hoje, Vanessa segue na música, porém, com músicas psicodélicas bem diferentes do hit de 2002. Assim como ela, nem todos sumiram completamente, mas a presença pública diminuiu. Se antes tocavam em estádios lotados, hoje fazem shows em ginásios ou casas de show menores.


Nem todas as entrevistas deram certo. Houve negativas e até pedidos de pagamento para liberar conversas. Depois de quatro anos debruçado no assunto e inúmeras entrevistas, Braulio identifica como um elo comum entre todos os artistas percepções diferentes sobre o que é sucesso. “Todos trazem um bom exercício de relativizar o que é o sucesso. O James Atkin, do EMF, se sente mais bem realizado profissionalmente hoje porque encontrou o que mais gosta de fazer, que é dar aula de música para crianças”, conta.

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“Afinal, em tempos de IA, são pessoas fazendo música. E, ao conversar com essas pessoas, virou um pouco de terapia. Todo mundo é desarmado ali por 20, 30 minutos da entrevista. Se parecia que não tinha ranço, que não tinha mágoa, as mágoas meio que vêm. Umas maiores, outras menores, mas vêm.”


O livro ainda traz um QR Code com uma playlist no Spotify com as canções citadas. É difícil resistir a cantarolar as músicas ao longo da leitura.

“BASEADO EM HITS REAIS”

Braulio Lorentz

Máquina de livros

207 páginas

R$ 70

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