Minissérie ‘Máscaras de oxigênio (não) cairão automaticamente’ estreia
Produção que a HBO lança neste domingo (31/8) revê os anos 1980 no Brasil com foco no desejo de liberdade e no enfrentamento da epidemia de AIDS pelos jovens
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O produtor Thiago Pimentel, da Morena Filmes, foi parar na Ilha do Governador um tanto ressabiado. Como aquela casa poderia ter um avião? Mas, assim que o morador abriu a garagem, ele encontrou o que precisava. “A primeira coisa que vi foi uma máscara de oxigênio pendurada. Ali estava um sinal de que a gente ia conseguir contar essa história.”
Com estreia neste domingo (31/8), na HBO Max e no canal HBO, a minissérie “Máscaras de oxigênio (não) cairão automaticamente” é muito mais do que uma história sobre aviação. É sobre as alegrias e tristezas de ser jovem nos anos 1980, sob o fantasma da AIDS.
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Dirigida por Marcelo Gomes e Carol Minêm, é estrelada por Johnny Massaro, Bruna Linzmeyer e Ícaro Silva. Em meados dos anos 1980, Nando (Massaro) e Léa (Linzmeyer) são melhores amigos, comissários de bordo. Costumam fazer a rota Rio de Janeiro/Nova York e sempre trazem muamba. No Rio, são assíduos frequentadores da boate Paradise, voltada para o público gay.
Naquele período, a AIDS era o chamado “câncer gay”. Nando não leva a epidemia a sério, e passa as noites trocando de parceiros, ainda que esteja meio caidinho por um jogador de futebol. Mas a doença está avançando e Pantera (Verónica Vallentino), a estrela da Paradise, sucumbe ao vírus. Raul (Ícaro Silva), seu filho adotivo, toma como missão esclarecer para o público a gravidade da epidemia.
Contrabando
Nando acaba contaminado pelo HIV, e a única amiga a quem revela a verdade é Léa. A dupla resolve se envolver numa operação arriscada: contrabandear AZT dos EUA para o Brasil.
Um parêntese: o antiviral só chegou oficialmente ao país em 1991. No Brasil, a produção de AZT começou em 1993, mas somente em 1996 foi estabelecida a lei que garantiu a distribuição gratuita do medicamento. Ou seja, na década de 1980, período inicial da trama, o AZT era proibido no país.
No início de “Máscaras de oxigênio” o público é informado de que a história é baseada em fatos. Thiago Pimentel descobriu uma reportagem de 2020 do jornalista Leandro Machado, para a BBC Brasil, em que ele ouviu ex-comissários da Varig que realmente trouxeram a droga.
“Entrei em contato com o Leandro e ele participou de todo o processo de pesquisa. A trama [da série] passa por vários elementos que foram extremamente importantes para a história da AIDS e do HIV no Brasil, traz citações a Lauro Corona, Sandra Bréa, Cazuza, Leonilson [artistas que morreram em decorrência do vírus]”, conta Pimentel.
“Além disso, a infectologista Márcia Rachid acompanhou a produção. Ela foi uma das pioneiras a estar na linha de frente [no tratamento dos pacientes] numa época em que havia hospitais que não aceitavam pessoas com HIV”, acrescenta.
“Perspectiva da vida”
Ainda que o tema seja pesado, “Máscaras de oxigênio” não é, em momento algum, deprê. “O que é interessante na abordagem é justamente adotar a perspectiva da vida para um assunto que, em primeira instância, a gente associa à morte”, comenta Massaro. Para o ator, a narrativa é “uma celebração dos avanços e um lembrete de que o vírus ainda existe. Embora ainda não exista cura, há tratamentos que garantem a qualidade de vida das pessoas.”
Nem Massaro nem boa parte de seus colegas de elenco viveu os anos 1980 e o medo da doença. “Enquanto homem gay, a AIDS sempre circulou de forma assustadora no meu inconsciente. Uma das grandes belezas da série é botar o assunto no centro da roda para a gente curar a única coisa que ainda mata em relação ao vírus: o preconceito e a desinformação.”
Bruna Linzmeyer chama a atenção para a empatia de sua personagem. “A Léa coloca o trabalho em risco porque acha que é o certo a ser feito. Ela não está trazendo a droga para ela própria ou para um parente. Então vejo na personagem um espelho de solidariedade.”
Marcelo Gomes, que dirigiu o primeiro, o quarto e o quinto episódios, enxerga “Máscaras de oxigênio” não como uma série de época, mas uma série “sobre uma época”. “Trabalhamos em um material de arquivo maravilhoso sobre a noite carioca, com vídeos amadores da Galeria Alaska [reduto em Copacabana da comunidade gay], a asa delta, ‘Menino do Rio’ [filme nacional de 1982]. Tudo isso tinha que estar presente, esse Brasil saindo da ditadura militar, com frescor de alma e liberdade, podendo exercer sua sexualidade.”
Para as filmagens, os dois diretores misturaram câmeras atuais com VHS e Super-8. A série é muito colorida e explora objetos e a cultura da época. “Esse ‘cheiro’ dos anos 1980 faz com que muitos jovens que assistem a série falem: ‘Me identifiquei tanto com o personagem, mas eu não vivi a época’. A ideia é fazer com que os jovens de hoje reflitam sobre a complexidade de se viver nos anos 1980 em 2025, ainda mais com tantos retrocessos em relação aos direitos humanos conquistados”, diz Gokmes. n
Galeão anos 1980
“Máscaras de oxigênio (não) cairão automaticamente” aborda a época áurea da aviação brasileira. As sequências internas do avião, com os comissários trabalhando, foram filmadas em estúdio. A produção conseguiu o mobiliário e equipamento de quatro aeronaves antigas que foram adquiridas por colecionadores. “Tivemos algumas sortes”, comenta Silvia Fu, da Warner Bros. Discovery. “O Galeão (outro cenário da história) foi remodelado, mas teve uma ala inteira que foi desocupada. Então está conservado, bem anos 1980.”
“MÁSCARAS DE OXIGÊNIO NÃO CAIRÃO AUTOMATICAMENTE”
A minissérie, com cinco episódios, será lançada neste domingo (31/8), na HBO Max. No canal HBO, o episódio de estreia será exibido às 23h. Novos episódios aos domingos.