‘Brinco e faço rir, mas, às vezes, emociono’, diz Saulo Laranjeira
Em entrevista ao programa ‘EM Minas’, o ator, cantor e humorista disse que ‘é um presente de Deus poder criar uma personagem simples e tocar as pessoas’
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Saulo Laranjeira foi o convidado desta semana do programa “EM Minas”, exibido nas noites de sábado pelo SBT/Alterosa. Ator, cantor e humorista, ele conversou com a jornalista e apresentadora Carolina Saraiva sobre sua trajetória multifacetada.
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Nos trechos da entrevista publicados a seguir, Saulo comenta a evolução de sua carreira da música regional para repertórios mais diversificados e detalha a criação de personagens icônicos, como João Plenário, do elenco de “A praça é nossa” (SBT/Alterosa).
O artista também comenta o sucesso do programa “Arrumação” e a relação com o bar de mesmo nome, além de sua parceria musical com Paulinho Pedra Azul.
Você construiu uma carreira que une música, humor e atuação. Como foi o seu caminho de descoberta artística?
Fui complementando uma coisa após a outra. Não dá para começar com tudo. Comecei com a música, cantando serestas na minha cidade de Pedra Azul. Depois veio o humor, por intermédio dos personagens mais regionais, e, com o tempo, surgiram personagens mais contemporâneos.
O mesmo aconteceu na música. No início, desenvolvi um trabalho voltado para a cultura regional. Morei no Rio de Janeiro por cinco anos, depois passei 20 anos em São Paulo e já estou de volta a Minas há mais de duas décadas. Nesse percurso, fui diversificando meu repertório musical e hoje canto obras de Vander Lee, Milton Nascimento, Renato Teixeira e Alceu Valença. Canto aquilo que me dá prazer e que seja verdadeiro para mim.
Atualmente, você fica na ponte BH-São Paulo para gravar “A praça é nossa”, humorístico do SBT/Alterosa. O que faz o personagem João Plenário ser o sucesso que é há 30 anos?
Uma das coisas que procuro manter no João Plenário é que ele fique em cima do muro, sem ser nem de esquerda nem de direita. Isso é importante. Com a situação política tão inflamada hoje, se você radicalizar, mesmo que as pessoas gostem do personagem, há o risco de rejeição por conta dessa polarização que está muito presente na política brasileira.
Você tem alguma preocupação com as piadas do João Plenário?
Tenho, sim, lógico. Quem escreve os textos é o Magalhães Júnior, redator do programa, mas sempre conversamos. Ele me manda o texto, eu sugiro ajustes quando algo não está adequado.
Você esteve na TV Alterosa por um tempo com o “Arrumação”, que também virou bar e, devido ao sucesso das gravações, vocês levaram para o bar também esse estilo de pocket show.
O programa já era muito conhecido, as pessoas gostavam bastante, e o nome surgiu naturalmente, pois o “Arrumação” já fazia parte da cultura de Minas. Na época, trouxemos Jair Rodrigues e vários sambistas famosos. Gravávamos o programa, atravessávamos a rua, e o público ia beber e assistir na frente do bar. O bar funcionava como camarim. Tivemos histórias incríveis, noites memoráveis, com palquinho onde as pessoas cantavam e artistas conhecidos davam canjas.
Você e Paulinho Pedra Azul acabaram de fazer um show no Palácio das Artes. O que destaca dessa apresentação?
O show no Palácio das Artes foi um presente. A casa estava lotada, com um público emocionado. Foi incrível. Mais de 1.500 pessoas, e não era apenas curiosidade, o público já conhecia meu trabalho e o de Paulinho. Cada aplauso, cada reação, mostrava que eles estavam ali para abraçar e celebrar com a gente. Foi um diferencial emocionante.
Sobre a nova geração, o que você sente deles? Eles apreciam a música da mesma forma?
Isso é extremamente complexo. Existem tribos de jovens que se identificam com alguns grupos musicais de bom gosto, e outros que não. Mesmo curtindo funk ou música sertaneja – com que eu particularmente não me identifico, mas respeito – , tudo bem. Essas músicas expressam amor e emoção, mas não traduzem a essência da cultura regional. Não quero criticar de forma radical, cada estilo enriquece de maneiras diferentes. Se o outro se enriquece de um jeito diferente do meu, tudo bem.
Você já criou e interpretou vários personagens. Além do João Plenário, quais destacaria como parte da sua memória afetiva?
Comecei com a Véia Messina, de forma muito simples, como toda profissão começa. Ela surgiu em casa, brincando, depois nos botecos com amigos, até que, um dia, decidi levá-la ao palco. No palco, percebi que precisava de uma verdade absoluta, que não se tratasse apenas dos trejeitos, para não ficar caricata. Assim, eu brinco e faço rir, mas, às vezes, emociono. É um presente de Deus poder criar uma personagem tão simples e tocar as pessoas.
Como você vê o futuro do programa “A praça é nossa”?
É barra para o Carlos Alberto de Nóbrega, aos 90 anos, conduzir tantos quadros. A idade naturalmente traz suas limitações. Acredito que “A praça é nossa” vai encerrar quando ele disser: “Olha, pendurei a chuteira”.