Fã do Pink Floyd usa 10 mil tijolos para erguer museu dedicado à banda
O Memorial Pink Floyd Fans, inaugurado em junho, em Ouro Preto, tem acervo de raridades e oferece ‘experiência sensorial’ aos visitantes
compartilhe
Siga no
Ouro Preto - Cenário da Revolta de Vila Rica (1720), movimento precursor da Inconfidência Mineira (1789), o Morro da Queimada dá nome a um bairro e a um sítio arqueológico da era colonial. É um tanto inusitado que uma das moradias que se espremem no morro traga referências a outro sítio: Pompeia, mítica desde que virou pedra após uma erupção do Vesúvio, quase 2 mil anos atrás.
Detentoras do título de Patrimônio da Humanidade pela Unesco, Pompeia e Ouro Preto se encontram em uma pequena casa, erguida com 10 mil tijolos, com vista para o Pico do Itacolomi. No imóvel, sete colunas de referência romana foram construídas recentemente. Só que os césares ali não são romanos, mas britânicos. Roger Waters, David Gilmour, Nick Mason e Richard Wright, os homenageados do Memorial Pink Floyd Fans.
Leia Mais
Inaugurado em junho passado, o espaço é único no Brasil, quiçá na América Latina, afirma seu idealizador, Wesley Cristiano de Souza, o Wesley Floyd. Aos 44 anos, ele criou sua própria Pompeia inspirado no filme-concerto “Pink Floyd: Live at Pompeii” (1972).
Em outubro de 1971, os quatro músicos, sob a direção de Adrien Maben, fizeram nas ruínas do anfiteatro um show sem público. O longa, relançado neste ano nos cinemas, documenta a banda antes do sucesso colossal de “The dark side of the moon” (1973).
Onde fica o Memorial?
O memorial, construído na parte de baixo de um terreno íngreme onde vive boa parte da família de Wesley, conta duas histórias. A do Pink Floyd, que Wesley conhece de cor e salteado, e a dele próprio, que moldou sua vida em torno da banda.
“É um sonho de 30 anos”, ele conta. Garoto de Barbacena que chegou a Ouro Preto aos 6 anos, Wesley tinha 14 quando ouviu um cassete gravado pelo tio. De um lado, Engenheiros do Havaí. Do outro, Pink Floyd. “Me apaixonei pela música. Só que, nessa época, não sabia o que era rock. Um ano depois, quando entrei para o Senai, vi uma galera com camisa preta de banda. Aí conheci o rock.”
A fita nunca foi devolvida e é exibida com destaque no memorial. No espaço, Wesley, que em 2000 criou um fã-clube dedicado à banda, expõe seu acervo. Nunca contou a quantidade de itens, mas é muita coisa. Só de vinis são 60 – alguns raríssimos, coisa de apenas 100 cópias no mundo. Três deles carregam a assinatura de Roger Waters, que Wesley conseguiu em 2023, após um périplo de dois dias. Com membros do fã-clube, ele ficou à espera do músico em sua chegada ao Aeroporto de Confins para a passagem da turnê “This is not a drill” por Belo Horizonte.
O acervo conta com reportagens, livros, toda a sorte de CDs, DVDs, blu-rays, VHS e cassetes. Mas as estrelas são as baquetas assinadas por Nick Mason. O filho caçula de Wesley, Nicholas, tem esse nome por causa do baterista. O mais velho, Jimmy, foi em homenagem a Jim Morrison, ídolo de Mikaelly, mulher de Wesley.
Baquetas de presente
Em 2018, Mason criou o grupo Saucerful of Secrets, nome do segundo álbum do Floyd. No repertório, só a fase psicodélica da banda. O grupo saiu em turnê pelo mundo, mas não incluiu a América do Sul. Wesley começou uma campanha on-line para que viesse ao Brasil. Não veio, mas a repercussão foi tamanha que Lee Harris, guitarrista do grupo, ficou sabendo. Entrou em contato com Wesley agradecendo a iniciativa. Este, aproveitando a deixa, mandou todo o material que tinha do memorial. Harris mostrou para Mason, que, em agradecimento, mandou as baquetas com que tocou a turnê do álbum “Pulse” (1995).
Outra estrela é um dos tijolos da turnê “The Wall”, que Roger Waters trouxe ao Brasil em 2012. “No final da apresentação, o muro cai, né? Foram usados 3 mil tijolos em toda a turnê. E eles eram reutilizados, viram uma chapa para caber nas carretas e ninguém podia pegar. Mas no Engenhão (no Rio de Janeiro) alguns caíram fora da área de segurança. Tentei pegar, mas não consegui.” Dez anos depois, um fã soube do memorial e enviou para Wesley o tijolo que tinha pegado naquela noite. Foi também por doação que ele conseguiu um pedaço do porco inflável, uma das atrações da turnê “Us + Them”, que Waters trouxe ao Brasil, BH incluída, em 2018.
Mais do que toda a memorabilia, chama a atenção o cuidado com que Wesley criou o memorial. De uma família de poucos recursos, sonhava em criar somente uma sede para o fã-clube. Conseguiu o dinheiro – acredita que tenha gasto R$ 200 mil nos oito anos que durou a construção – trabalhando como DJ em bailes de debutantes e casamentos na região.
Foi durante a pandemia, quando as festas acabaram, que teve a ideia de fazer o memorial. O responsável pela construção foi seu pai, José Francisco, mestre de obras em Barbacena. Os dois não se viam havia anos, e o projeto acabou por reuni-los. Foi tudo feito aos poucos, quando havia dinheiro.
Surpresa para o visitante
O cuidado é tamanho que há QRCodes, em português e inglês, espalhados por todo o imóvel com fatos marcantes da banda. Varanda (onde se destaca uma escultura do porco, também construída por pai e filho), duas salas de bom tamanho, mais banheiros (a posição do prisma, símbolo maior do Pink Floyd, indica se é o masculino ou feminino).
Mas o ponto máximo é uma chamada “experiência sensorial”. É só Wesley, um toca-discos e um telão redondo até que as pessoas, sentadas no sofá, são transportadas, diante dos efeitos, para o show “The Wall”. Contar mais estraga – e a surpresa é grande, mesmo.
MEMORIAL PINK FLOYD FANS
Rua 15 de Agosto, 856, Morro da Queimada, Ouro Preto. De segunda a sábado, das 9h às 19h. Ingressos: R$ 60 e R$ 30 (meia). Crianças até 11 anos não pagam. Informações: (31) 99911-9714