Museu Família Assad é o tesouro online da música brasileira
Plataforma exibe partituras e memorabilia do clã de onde vieram o aclamado Duo Assad, Badi Assad e Clarice Assad, autora da trilha do novo espetáculo do Corpo
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Siga noFamília de músicos que desfrutam de prestígio internacional, os Assad agora têm um museu para chamar de seu. Inaugurada no último dia 14, a plataforma digital foi criada para preservar, celebrar e compartilhar com o público o rico legado do clã que tem como expoentes o duo formado pelos irmãos violonistas Sérgio e Odair; a cantora, compositora e violonista Badi, irmã deles; e Clarice, filha de Sérgio, cantora, compositora e pianista que assina a trilha de “Piracema”, o novo espetáculo do Grupo Corpo.
O Museu da Família Assad, idealizado por Badi, resulta da soma de alguns fatores. Pouco antes da chegada da pandemia, todo o acervo de fotos, cartazes, cartas, programas e documentos guardados pela matriarca, dona Ica, foi digitalizado.
Ao mesmo tempo, o professor José Augusto Mannis, do Laboratório de Acústica e Artes Sonoras da Unicamp, conduziu o processo de recuperação de fitas de rolo nas quais o patriarca Jorge Assad Simão Filho registrou a evolução musical dos filhos.
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Com a pandemia, Badi se mudou para a casa da mãe, em São João da Boa Vista, no interior de São Paulo. “Dona Ica completou 90 anos em 2020 com a memória intacta, tivemos todo aquele período de isolamento para que ela me contasse muitas histórias”, diz.
Quando a mãe morreu, no ano passado, Badi decidiu rever o material guardado e digitalizado. Veio daí o estímulo definitivo para a criação do museu online.
“Me sinto a guardiã desse tesouro, que vejo com olhos de dentro, porque faço parte dele, e com olhos de fora, por entender a importância do acervo. Quis um museu físico, busquei parceiros, mas me deparei com dificuldades, a falta de recursos, por exemplo. Resolvi fazer o museu digital como homenagem a meus pais, que vislumbraram a carreira musical para os filhos. Uma utopia, porque eles não tinham condição de vida fácil e fizeram das tripas coração para que isso pudesse acontecer”, conta Badi.
A cada quatro meses, o Museu Família Assad receberá nova exposição. A primeira, “Quando a música encontra o coração”, é dedicada a Dona Ica e Seu Jorge. As próximas focalizarão o Duo Assad, a própria Badi e, em seguida, Clarice.
“Vamos ter uma sobre o Festival Assad, que acontece anualmente em São João da Boa Vista, e outra tratando do Clube do Choro Jorge Assad. Fora essas duas, somos nós, nossas vidas e realizações”, diz.
O primogênito Cito
Mesmo o primogênito, Jorge Assad Simão Neto, o Cito, que passou a vida com lesão cerebral e epilepsia devido a problemas no parto, ganhará sua exposição. Badi destaca que ele tem importância enorme, por manter os irmãos com “os pés no chão”.
“Acontece de muitos artistas se deslumbrarem com a fama. Se um de nós estivesse, em algum momento, passando para esse lado, o Cito nos trazia de volta. Não somos mais importantes do que ninguém, a presença dele sempre nos fez entender isso”, explica.
Além de imagens históricas da família, relatos, vídeos e documentos, o espaço de exposições traz registros de ensaios e estudos caseiros nunca lançados.
“Meu pai tinha um gravador de rolo antigo e gravava tudo. Tem coisas do Sérgio e do Odair quando começaram a estudar em casa com Seu Jorge, que era bandolinista autodidata e ensinou a eles os primeiros acordes”, destaca Badi.
A Sala de Música da plataforma reúne a discografia completa dos Assad. Badi adianta que outras páginas serão disponibilizadas com partituras comentadas. Essa é uma forma de manter o museu vivo, afirma.
“Não queria aquele espaço que as pessoas visitam uma vez só e nunca mais voltam. A cada quatro meses, haverá novo acervo na Sala de Exposições do museu, contando as histórias individuais de nossa família”, anuncia Badi Assad.
Bilhetes de amor
A criadora do museu teve surpresas e momentos de emoção ao mergulhar no acervo da família. Não imaginava, por exemplo, que bilhetes de amor trocados por Dona Ica e Seu Jorge ainda pudessem existir.
“Eles eram escritos em papel de pão, folha de caderno, guardanapo, qualquer coisa. São muito bonitinhos. Minha mãe guardava tudo. Guardou os cartõezinhos que eles receberam quando se casaram, em 1947. Encontrei as primeiras cartas que um escreveu para o outro. Isso minha mãe nunca me contou que existia”, revela.
Outra surpresa foi descobrir partituras manuscritas com comentários da professora de música das crianças Sérgio e Odair.
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