Ópera 'Feliz ano velho' chega a BH e deixa Marcelo Rubens Paiva emocionado
Libreto de Tim Rescala traz novo olhar sobre o drama de Marcelo Rubens Paiva. Montagem da Orquestra Ouro Preto estreia sexta-feira (22/8), no Palácio das Artes
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Siga noAo longo dos últimos anos, a Orquestra Ouro Preto tem apostado em versões operísticas para obras literárias. O mais recente fruto dessa investida é a recriação cênico-musical de “Feliz ano velho” (1982), livro de Marcelo Rubens Paiva. O espetáculo, que tem composição original e libreto assinados por Tim Rescala, estreou na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, em 26 de junho, e chega a Belo Horizonte na sexta-feira e sábado (22 e 23/8), no Palácio das Artes.
“Feliz ano velho, a ópera” traz nomes de destaque do canto lírico: Johnny França, no papel de Marcelo; Jabez Lima, como Rubens Paiva, pai do protagonista; e Marília Vargas como a mãe, Eunice Paiva. Arrigo Barnabé faz participação especial, dividindo a cena com a Orquestra Ouro Preto sob regência do maestro Rodrigo Toffolo.
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A ideia de adaptar o livro para o palco nasceu de conversas entre o maestro e o autor, iniciadas em 2023. A história de “Feliz ano velho”, autobiográfica, gira em torno do acidente que deixou Marcelo Rubens Paiva tetraplégico, após mergulho em um lago às margens da Rodovia dos Bandeirantes, em 1979.
O escritor não foi à estreia, mas assistiu a um ensaio. Diz que não há nada na vida que se compare a ver uma obra sua vertida em ópera. “Fiquei muito tocado, é um dos maiores prêmios que já recebi, então acho que é mais do que uma honra, é algo que não tem parâmetros”, ressalta Marcelo.
Tim Rescala diz que a fragmentação de “Feliz ano velho” foi o maior desafio da adaptação.
“É um livro de memórias, então vai e volta no tempo a todo momento. A narrativa começa pelo acidente e depois retoma diferentes momentos da vida de Marcelo, como a infância, os episódios que ‘Ainda estou aqui’ registra e a juventude. Para uma ópera, preciso de um mínimo de percurso cronológico”, diz.
“Ainda estou aqui”, outro livro de Paiva, inspirou o longa de Walter Salles que ganhou o Oscar de Melhor Filme Internacional este ano.
Entrevista
Para contornar as dificuldades, Rescala criou, para o libreto, dramaturgia que começa com um evento exterior ao livro. “Vi entrevista do Marcelo para um documentário, em que lhe perguntam sobre qual foi o ponto de mudança em sua vida, com o entrevistador achando que a resposta seria o acidente ou o que aconteceu ao pai. Mas ele responde que, na verdade, foi seu envolvimento com a literatura. Pego isso como mote e abro a narrativa com esse elemento”, explica.
O texto inclui episódios recentes da vida de Paiva, como lançamentos dos livros e prêmios. Rescala conta que, depois dessa abertura, volta à infância do autor, passa pelo convívio com a família, o sumiço do pai, levado por agentes da ditadura militar, e o acidente, que marca o fim do primeiro ato.
No segundo ato, o libreto foca nos obstáculos que Marcelo enfrentou após o acidente e chega até os dias atuais. “O grande desafio foi criar uma dramaturgia que não fosse tão literária”, afirma Tim.
Arrigo Barnabé
Uma passagem do livro que ele fez questão de incluir na ópera é quando Paiva inscreve uma composição sua em festival da canção e encontra Arrigo Barnabé na fila.
“Aquilo era maravilhoso, porque minha composição poderia absorver elementos da música do Arrigo, muito meu amigo. No livro, Marcelo fala da tentativa de engrenar uma carreira musical. Ele conta que ficou muito impressionado com a figura do Arrigo, por isso ele está na montagem interpretando a si mesmo”, conta.
No arranjo, a composição de Rescala incorpora guitarra e bateria, que se somam aos instrumentos da orquestra. É uma forma de refletir o gosto de Paiva pelo rock. Esse é um dos motivos que faz com que “Feliz ano velho, a ópera” estabeleça conexão com o público jovem, diz o diretor cênico do espetáculo, Juliano Mendes.
“Tem música vibrante, coral vibrante, cenas muito diferentes uma da outra que se sucedem. Então, a ópera tem uma dinâmica muito atraente”, ele diz.
Realismo
Mendes chama a atenção para o fato de a orquestra não ser companhia de ópera, o que impõe desafios de saída. Com isso, toda a equipe deve estar conectada em torno da proposta e da linguagem.
“O maestro já nos passava a ideia de não ver ‘Feliz ano velho’ como livro trágico, mas obra realista, cuja descrição pessoal não é pessimista, mas humana. Aí já virou um material muito prazeroso de se trabalhar”, ressalta.
Sólida parceria
Orquestra Ouro Preto e Tim Rescala desenvolveram óperas a partir dos livros “O pequeno príncipe”, de Antoine de Saint-Exupéry, “O auto da Compadecida”, de Ariano Suassuna, e “Hilda Furacão”, de Roberto Drummond.
“Um compositor profissional como eu vive de encomendas, então nada melhor do que ter encomendas seguidas, ainda mais da mesma orquestra, porque aí você já está familiarizado com o estilo dela. Apesar de serem trabalhos diferentes, uma característica da Orquestra Ouro Preto é o inusitado e o trânsito natural entre o popular e o erudito, o que também é característica minha. A falta de preconceitos com relação a estilos e gêneros nos une”, diz Rescala.
“FELIZ ANO VELHO, A ÓPERA”
Música e libreto: Tim Rescala. Com Orquestra Ouro Preto, Johnny França, Jabez Lima, Marília Vargas e Arrigo Barnabé. Regência: Rodrigo Toffolo. Sexta-feira e sábado (22 e 23/8), às 20h, no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro). Plateia 1: R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia). Plateia 2: R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia). Plateia superior: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia). À venda na bilheteria e na plataforma Eventim.