Documentário resgata o legado do músico mineiro Mestre Belini
Ele compôs 600 choros, conquistou respeito pela complexidade de suas criações, mas está esquecido. Filme será exibido neste sábado (5/7), no Cine Santa Tereza
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Siga noCerta vez, o maestro e compositor mineiro Belini, o Mestre Belini, estava na praia com a esposa quando lhe veio à mente a ideia de uma música. Sem ter onde escrever a partitura, começou a rascunhar na areia. Só sossegou depois de conseguir papel e caneta para registrá-la. Ele costumava anotar suas composições em papel de pão e, claro, em folhas pautadas, apropriadas para essa escrita. “Nem no final da vida ele parou de compor”, lembra Bellini Andrade, filho do compositor.
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“Quando meu pai morreu, em 2017, aos 97 anos, entrei no quartinho dele e peguei uma pilha de partituras. No meio daquela papelada, havia uma receita médica indicando fisioterapia. Achei muito estranho. Quando olhei o verso da receita, vi o esboço – escrito com a mão trêmula – da música que ele chamou de ‘O fisioterapeuta’”.
Mestre Belini compôs cerca de 600 choros. Natural de Abaeté, na Região Central de Minas Gerais, veio para Belo Horizonte em 1938 tirar o certificado de reservista, documento que faltava para conseguir o emprego de bancário na cidade natal. O Exército, porém, segurou o músico na capital. Sua chegada havia sido providencial, pois faltavam músicos na banda militar.
O maestro e compositor passou a viver em BH. Paralelamente à carreira militar, começou a apresentar seus choros e ganhou reconhecimento como um dos responsáveis por dar nova dimensão ao gênero em Minas.
Embora tenha deixado poucos discos – gravou apenas “Velho companheiro” sete anos antes de morrer –, seu nome era respeitado e reverenciado no meio musical. Nos anos 1980, Paulinho Pedra Azul o convidou para acompanhá-lo em turnê nacional.
Disponível no YouTube
A história do maestro é contada no documentário “Mestre Belini: O choro do cerrado”, dirigido por Bellini Andrade. O filme será lançado neste sábado (5/7), às 19h, no Cine Santa Tereza. Depois da sessão, ficará disponível no canal do YouTube da produtora Espinha Audiovisual (@Espinha Audiovisual).
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“Mestre Belini foi um dos mais importantes compositores de choro do Brasil. Suas composições são muito complexas, de difícil execução. Por outro lado, ele é desconhecido pela maioria das pessoas. Começou a ser meio esquecido e relegado, porque as pessoas passaram a tocar canções mais fáceis”, afirma o documentarista.
A produção de “Mestre Belini: O choro do cerrado” levou 10 meses. O diretor gravou cerca de 30 depoimentos de familiares, amigos, instrumentistas, compositores e contemporâneos do maestro – entre eles o radialista Acir Antão e o cantor e compositor Paulinho Pedra Azul.
As falas foram costuradas em ordem cronológica para oferecer a reconstituição mais fiel possível da vida de Belini. Há casos da infância do músico em Abaeté, de sua trajetória militar (permaneceu no Exército até a reforma) e da carreira como compositor.
Também foram gravadas 11 composições de Mestre Belini, executadas por diferentes grupos de choro de Belo Horizonte. Todas elas foram disponibilizadas no canal da Espinha Audiovisual em formato de videoclipe.
Ambulância
Mestre Belini se mudou para Abaeté no início dos anos 1990 e não quis mais retornar a Belo Horizonte. “Só voltou de ambulância, quando precisava cuidar da saúde”, recorda o filho, informando que o pai morreu de insuficiência respiratória decorrente de pneumonia.
Com o filme, Bellini Andrade pretende divulgar a obra do compositor “antes que ela se perca totalmente”, como diz.
“As músicas dele já não são muito tocadas e, agora que se foi, vai ser mais difícil ainda ver alguém apresentando os choros dele. O documentário tem o propósito de manter seu legado vivo. Faço isso não apenas por ser filho dele, mas por ser apreciador da boa música”, conclui.
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'Mestre Belini: o chorão do sertão'
(Brasil, 2025, 43 min. De Bellini Andrade). Sessão neste sábado (5/7), às 19h, no Cine Santa Tereza (Rua Estrela do Sul, 89, Santa Tereza). Entrada franca. A partir de domingo (6/7), o filme será disponibilizado no canal da produtora Espinha Audiovisual no YouTube (@Espinha Audiovisual).