Nem Scarlett Johansson salva 'Jurassic World: Recomeço', que estreia em BH
Sétimo filme da franquia iniciada por "O parque dos dinossauros" repete clichês, abusa de piadas sem graça e trata latino-americanos como paspalhões
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Siga noFilmes sobre o período jurássico já deveriam ter sido extintos. Ninguém nega que “Jurassic Park: O parque dos dinossauros” (1993), de Steven Spielberg, baseado no livro homônimo de Michael Crichton, foi marco no cinema hollywoodiano. A franquia, seguida por “O mundo perdido” (1997), “Jurassic Park 3” (2001) e pelos infinitos “Jurassic World”, notabilizou-se por usar computação gráfica de ponta na época e por renovar o interesse popular por criaturas paleontológicas. Além, claro, de angariar bilhões de dólares nas bilheterias.
Contudo, apostar nesta fórmula já desgastada soa anacrônico, como confirmaram “Jurassic World: O reino ameaçado” (2018), “Jurassic World: Domínio” (2022) e, agora, “Jurassic World: Recomeço”, o sétimo filme da franquia que estreia nesta quinta-feira (3/7) nos cinemas de BH.
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Dirigido por Gareth Edwards (“Godzilla” e “Star Wars: O último Jedi”) e com roteiro de David Koepp (que assinou o texto do primeiro filme da série), o longa insiste no conflito “dinossauros versus humanos” para mostrar de maneira didática, subestimando a inteligência do espectador, os perigos de usar a ciência para “brincar de ser Deus”.
“Jurassic World: Recomeço” se apoia em piadas sem graça que, em tese, deveriam funcionar como alívio cômico em momentos de tensão, além de recorrer a estereótipos para tratar personagens latino-americanos.
O Suriname, palco de parte da ação, é reduzido a vilarejo sujo, povoado por bêbados viciados em jogos de azar. O núcleo latino surge formado por paspalhões irresponsáveis, reforçando preconceitos que Hollywood ainda não se dispôs a superar.
Ambientada no futuro distópico em que humanos convivem com dinossauros, a trama começa com a proposta milionária do representante de uma gigante da indústria farmacêutica (papel de Rupert Friend) à ex-veterana Zora Bennett (Scarlett Johansson) para capturar o material genético de três espécies gigantes de dinossauros (da terra, do mar e do ar). O sangue dos animais pode compor medicamento revolucionário capaz de salvar milhões de vidas.
O problema é que os dinossauros gigantes só sobrevivem na ilha próxima ao Suriname, onde “o clima é parecido com o de 60 milhões de anos atrás”, segundo o cientista da equipe de Zora, ignorando qualquer complexidade ecológica contemporânea.
A missão é ilegal. A entrada no território é proibida por leis internacionais. Mesmo assim, Zora aceita. Recruta um grupo de mercenários liderados por Duncan Kincaid (Mahershala Ali), alicia um cientista (Jonathan Bailey) e parte em busca do material genético. Durante a missão, cruzam com a família Delgado (pai, duas filhas e o namorado de uma delas) que, não se sabe como nem por quê, estava navegando em águas proibidas, até naufragar ao colidir com um dinossauro marítimo.
A equipe de Zora salva os Delgado, mas todos acabam presos na Ilha Saint-Hubert, antigo laboratório onde se faziam mutações de dinossauros no passado. É quando se sucedem as cenas de ação “dinossauros versus humanos”, com todos os clichês do gênero: sustos previsíveis, frases de efeito moral e o herói que abdica da própria vida para salvar o grupo.
Ainda que Scarlett Johansson e Mahershala Ali se destaquem pela atuação, seus personagens são rasos, verdadeiros arquétipos de mocinhos indignados com a ganância da indústria farmacêutica, embora inconscientes sobre isso ao aceitarem a proposta da missão.
Vitrine de cerveja
A trama se resolve com soluções fáceis que beiram o absurdo, como Zora avisando ao grupo que havia contratado previamente um helicóptero de resgate para tirá-los da ilha.
Pior: o cientista sobrevive a uma queda de 20 metros amparado apenas por folhas de palmeiras. O filme ainda serve como vitrine para merchandising de marcas de chocolate e cerveja.
Com custo estimado de US$ 180 milhões, “Jurassic World: Recomeço” tenta ser o retorno às origens do sucesso da franquia, mas se revela cópia obsoleta e caricata dos primeiros filmes. Melhor seria contemplar os fósseis, deixando o passado no devido lugar. Sete filmes já foram suficientes para mostrar que não se deve ressuscitar tais criaturas.
“JURASSIC WORLD: RECOMEÇO”
• EUA, 2025, 134 min. De Gareth Edwards. Com Scarlett Johansson, Mahershala Ali e Jonathan Bailey.
• Em cartaz em salas dos shoppings BH, Big, Boulevard, Cidade, Contagem, Del Rey, Diamond, Estação, Itaú, Minas, MonteCarmo, Norte, Partage, Pátio, Ponteio, Unimed-BH Minas e Via.