ARTES CÊNICAS

Alunos de teatro da UFMG resgatam peça premiada da escritora Ísis Baião

Nova versão da tragicomédia 'Casa de penhores' estreia nesta quinta-feira (3/7) no Centro Cultural UFMG. Estudantes encenam 11 peças em vários locais de BH

Publicidade
Carregando...

A escritora mineira Ísis Baião venceu, em 1997, o prêmio Onassis International Theatre Competition com a tragicomédia “Casa de penhores”, classificada na época como o quarto melhor roteiro do mundo. O reconhecimento veio pela artista questionar, por meio do absurdo, o quanto já não estamos mortos, mesmo em vida.

Nesta quinta-feira (3/7), estreia no Auditório do Centro Cultural da UFMG, às 18h, a adaptação desta história feita por Letícia Araújo e Ana Clara Marques, alunas do bacharelado em Teatro da Escola de Belas Artes da UFMG.

O espetáculo faz parte da programação gratuita de conclusão de curso oferecida pela universidade. Ao todo, desde o dia 24 de junho, estão sendo apresentadas 11 performances produzidas por estudantes, em diferentes locais da cidade.

Ana Clara Marques é graduanda no curso. Fez iniciação científica no acervo do crítico teatral belo-horizontino Sábato Magaldi (1927-2016) e encontrou, na seção de textos locais, uma menção a Ísis. Ela conta que estava interessada em estudar mulheres dramaturgas e estranhou desconhecer um nome premiado internacionalmente.

“A gente sabe que os cursos nunca vão abarcar em completude a história do teatro brasileiro, mas as vozes femininas eram uma lacuna muito presente. Isso, não porque elas não estavam produzindo, mas porque elas não conseguem adentrar os cânones dramatúrgicos”, conta a atriz.

A paixão pelo repertório da autora mineira foi instantânea e o desejo de fazer um espetáculo sobre textos escritos por mulheres a levou até “Casa de penhores”. Ana chamou para a direção Letícia Araújo e a dupla construiu o espetáculo em apenas quatro meses. Elas são duas das cinco integrantes do grupo feminino de teatro Às Avessas, fundado em 2024.

Pobreza e exclusão social

O texto se passa em uma realidade na qual a pobreza e a escassez chegaram ao extremo. A protagonista Dora, interpretada por Ana Clara Marques, tem uma vida precária. Ela está desempregada, vive com o marido Eduardo (Vinícius Sbampato), um jornalista alcoólatra e inútil, e ainda é assombrada pela própria mãe, interpretada por Ana Laura Lopes, que mesmo morta não a deixa em paz.

Acumulando necessidades, Dora decide penhorar partes do próprio corpo na casa de penhores de Daddy (Luan Castro). A diretora Letícia explica que o espetáculo, em síntese, é uma crítica à voracidade do capitalismo, representado na figura do insaciável Daddy.

“Ele é o dono da casa de penhores. É um personagem que exalta o poder, sente que pode fazer o que quiser com as pessoas e deixá-las na miséria. Ele é o dono da existência e do corpo dessas pessoas”, comenta.

Dora, a figura central do espetáculo, é um corpo grotesco e decadente, mantido vivo apenas pelas batidas do coração. Como mulher, ela sofre o peso do sistema patriarcal, reproduzido pelo marido e pela mãe, que exige dela a resolução dos problemas.

Foco nas mulheres

As artistas destacam a capacidade de Ísis Baião de retratar mulheres em suas obras sem uma visão maniqueísta. Por mais que Dora sofra, ela comete suas próprias falhas. No primeiro ato, a personagem ainda tenta se encaixar nos moldes da mulher perfeita. Durante a trama, sua máscara se desconstrói e ela consegue atingir maior liberdade.

“Ela não é uma mocinha aos moldes das tragédias gregas. Ela xinga, é desbocada e fala palavrão. Ao mesmo tempo,tem força e uma compreensão do que ela quer e acha que merece”, afirma Ana Clara.

A atriz explica que o espetáculo, como seu trabalho de conclusão de curso, é completo. Na equipe, amigos e artistas que admira. Na linguagem, o tipo de teatro que a satisfaz.

O absurdo é o elemento principal utilizado no texto. As características de cada personagem, tanto na atuação quanto na caracterização – feita por Ana Laura Lopes e Edsel Duarte –, são levadas ao extremo, contribuindo para o humor a partir do ridículo.

Ana Clara comenta como as relações entre os personagens se dão até que o público chegue ao riso por meio da descrença. “O público encontra aquelas situações e a desumanização, e não acredita que as coisas têm de ser assim. O espetáculo trata de coisas densas, mas brinca com isso. Ele diverte, mas faz a gente pensar muito. O riso vem quase a partir do desespero”, conclui a atriz.

Outras peças

Além de “Casa de penhores”, a programação da semana inclui mais três espetáculos. Apresentado a partir desta quarta-feira (2/7), “Fragmentos” é inspirado no livro “Valsa nº 6”, de Nelson Rodrigues.

Já “Entre quatro paredes” retrata a história de três personagens condenados a viver juntos pela eternidade em um único cômodo.

“Bumba, EBA! Teatro de Arraiá” é inspirado pelo bumba-meu-boi e dirigido pela professora Maria Beatriz Braga, coordenadora dos TCCs.

“CASA DE PENHORES”

Nesta quinta-feira (3/7), às 18h, e na sexta-feira (4/7), às 19h30, no Centro Cultural UFMG (Av. Santos Dumont, 174, Centro). Entrada gratuita, com retirada de ingressos pela plataforma Sympla.

CONFIRA TAMBÉM

“Fragmentos”

Apresentações de hoje a sexta (2 a 4/7), às 19h, na Sala Paula Lima da Escola de Belas Artes da UFMG (Av. Antônio Carlos, 6.627, Pampulha). Entrada gratuita.

“Entre quatro paredes”

Apresentações de quinta a sábado (3 a 5/7), às 19h, na Sala Preta do Anexo da Escola de Belas Artes da UFMG (Av. Antônio Carlos, 6.627, Pampulha). Entrada gratuita, com retirada de ingressos pela plataforma Sympla.

“BUMBA, EBA! Teatro de arraiá”

Apresentação na sexta (4/7), às 11h e às 12h40, na Rua do Teatro, atrás da Escola de Belas Artes da UFMG (Av. Antônio Carlos, 6.627, Pampulha). Entrada gratuita.

* Estagiária sob supervisão do editor Enio Greco

Tópicos relacionados:

tcc teatro ufmg

Parceiros Clube A

Clique aqui para finalizar a ativação.

Acesse sua conta

Se você já possui cadastro no Estado de Minas, informe e-mail/matrícula e senha. Se ainda não tem,

Informe seus dados para criar uma conta:

Digite seu e-mail da conta para enviarmos os passos para a recuperação de senha:

Faça a sua assinatura

Estado de Minas

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Aproveite o melhor do Estado de Minas: conteúdos exclusivos, colunistas renomados e muitos benefícios para você

Assine agora
overflay