Festival Curta! exibe gratuitamente produções sobre Minas Gerais
Curta-metragem de Mariana de Melo investiga o impacto da mineração na alma mineira. Uakti e Santos Dumont são temas de dois filmes de Eder Santos
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Siga noDos 59 títulos que compõem a terceira edição do Festival Curta! Documentários, quatro são sobre Minas Gerais. O evento, online e gratuito, reúne séries documentais e filmes exibidos no canal Curta! e em outras plataformas. As produções ficarão disponíveis no site do projeto até 2 de julho.
“O silêncio elementar” (2024), filme de Mariana de Melo, natural de Divinópolis, aborda o impacto cotidiano da exploração de minério em Minas Gerais.
A ideia do curta começou quando Mariana, aos 18 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro para estudar. Em contato com os cariocas, percebeu que o mineiro é mais melancólico. Em conversa com a prima, surgiu a hipótese de que a atividade mineratória influencia a personalidade da gente de Minas Gerais.
“Fiquei meio obcecada com isso. Quando se rompe uma barragem e acontece alguma coisa dessa magnitude, algum crime, a mídia divulga muito”, observa Mariana, ponderando que há outras melancolias mineiras, bem cotidianas. “A gente não percebe, mas sente”, comenta.
A partir dessa inquietação, ela mergulhou em pesquisas. História e antropologia contribuíram para a produção do documentário, mas a poesia definiu o tom do projeto.
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Mariana cita os poetas Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) e Ana Martins Marques – ela, autora do poema “Minas” (“vem, escuta no meu peito o silêncio elementar dos metais”), que inspirou o título do filme.
O documentário é um “filme ensaio”, combinando impressões pessoais, cenas ficcionalizadas e imagens de acervo. As histórias foram selecionadas a partir de entrevistas com moradores de Itabira e Divinópolis, as duas cidades retratadas no curta, mas os personagens não são representações diretas deles.
Para a diretora, a narrativa criada a partir da ficção e da poesia, em detrimento do formato linear, parecia mais adequada para tratar da identidade mineira.
“Às vezes, pela arte, a gente comove mais que por números e estatísticas. Estamos muito insensíveis neste mundo muito cruel. O dizer poético fala mais profundamente desse sentimento e permite que a gente sinta um pouco mais”, diz Mariana de Melo.
Apagamento da 'memória mineratória'
As imagens de acervo foram obtidas no Arquivo Público Mineiro, Arquivo Nacional e na Cinemateca Brasileira. No entanto, Mariana se deparou com o apagamento de registros sobre a mineração em Itabira, principalmente da exploração do Pico do Cauê, o primeiro projeto industrial de mineração do Brasil.
O apagamento da “memória mineratória” chamou a atenção da diretora. “Havia presença estrangeira muito grande na época. Ingleses e estadunidenses filmaram muita coisa aqui, mas nenhuma dessas filmagens pertence ao acervo brasileiro. Temos de pagar para assistir à maioria das imagens. Assim, vai embora a terra, o minério e até a história”, reflete Mariana.
Entre os documentários mineiros, “Mercearias de Beagá – Circuito histórico” (2021), de Marcos Lôndero e Nani Rodrigues, está junto do curta de Mariana na mostra “Outras janelas”.
Já a mostra “Produção Canal Curta!” traz dois longas-metragens de Éder Santos: “Uakti”, sobre o grupo mineiro de música instrumental, e “Santos Dumont, o céu na cabeça”, codirigido por Mônica Cerqueira, sobre o Pai da Aviação.
FESTIVAL CURTA! DOCUMENTÁRIOS
Mostra de filmes e séries documentais. As produções estão disponíveis até 2 de julho no site festivalcurtadocs.org.br. Acesso gratuito.
* Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria