MÚSICA

"Sinfonia da Alvorada" tem recital único em BH

Com músicos da Filarmônica de Minas Gerais e narração de Jonas Bloch, a obra de Tom e Vinicius encomendada por Kubitschek será apresentada nesta quinta (19/6)

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O ano era 1960. O então presidente da República, Juscelino Kubitschek, empolgado com a inauguração de Brasília, encomendou a Tom Jobim e Vinicius de Moraes uma obra musical que representasse a grandiosidade da construção da nova Capital Federal e o espírito de um “novo Brasil”. Reza a lenda que ele chamou os compositores, apontou para o piano que mantinha em seu gabinete e fez a encomenda.


O resultado foi a “Sinfonia da Alvorada”, uma das obras menos conhecidas e raramente executadas da vasta parceria entre Tom e Vinicius. A peça será apresentada em formato inédito nesta quinta-feira (19/6), no teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas. Oito músicos da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais executam a sinfonia, com arranjos assinados por Waltson Tanaka, enquanto o ator Jonas Bloch faz a narração dos textos de Vinicius.


“Sinfonia da Alvorada” é mais uma comprovação de que Tom e Vinicius eram artistas de alcance muito maior do que a bossa nova. A peça encomendada por JK demonstra a versatilidade da dupla, com ênfase no domínio de Tom na composição orquestral, utilizando harmonias, texturas e desenvolvimentos temáticos próprios da música erudita, e o potencial de Vinicius como poeta épico, capaz de transformar a mera construção de uma cidade em saga poética.


Desenvolvimentismo

O poema sinfônico começa evocando a vastidão, a aridez e a pureza intocada do cerrado brasileiro, sugerindo que, mesmo nessa solidão, havia sopro de vida. Não há uma melodia única e tonal, mas motivos melódicos sutis que não se repetem. No segundo movimento, o protagonista passa a ser o homem – algo que remete à divisão feita por Euclides da Cunha em “Os sertões” –, responsável por levar o sonho de desenvolvimento a um local tão ermo.


A sinfonia segue com a “chegada dos candangos” no terceiro movimento – a massa de trabalhadores vinda de todas as partes do Brasil para construir aquele “sonho” – e, finalmente, a construção de Brasília no quarto movimento, em que melodia e poesia referem-se ao som das máquinas. Por fim, o coral do quinto movimento exalta a nova capital.


“O motivo de apresentarmos ‘Sinfonia da Alvorada’ hoje é para lembrarmos de um tempo em que o Brasil era um país que tinha muito mais respeito pela cultura da gente, pela arte da gente”, afirma o diretor do espetáculo, o maestro Paulo Rogério Lage. “Queremos tentar voltar àquele tempo. Não como saudosismo, mas como questão de sobrevivência política”, diz.

Legado de JK

Não se trata de ufanismo do diretor, mas de homenagem a JK. Durante seu governo, entre 1956 e 1961, JK valorizou a arquitetura, as artes plásticas e a literatura, embora não existisse uma política cultural estruturada. Também se cercou de artistas e intelectuais, nomeando Vinicius de Moraes como diplomata, e Manuel Bandeira como membro da Comissão do Livro Técnico e Científico ligada ao Ministério da Educação.


A própria construção de Brasília é considerada uma obra de arte coletiva, envolvendo arquitetos (Oscar Niemeyer, Lúcio Costa), paisagistas (Burle Marx), artistas plásticos (Athos Bulcão, Marianne Peretti, Alfredo Ceschiatti), além de compositores, como Tom Jobim e Vinicius de Moraes, com a “Sinfonia da Alvorada”.


“Era uma época em que existiam divergências políticas, mas havia um convívio normal entre as pessoas. É diferente de hoje. O que ficou é uma época de grosseria, ignorância e violência”, diz Paulo Rogério Lage.


Esse retrato de uma época é feito por Vinicius de Moraes nos textos de “Sinfonia da Alvorada”. Em camadas mais profundas, o poeta vai além da construção de Brasília e mostra o lado humano dos brasileiros – os “candangos” – que chegam à capital vindos de várias regiões, sobretudo do Nordeste do país. Ao mesmo tempo em que exalta o progresso, ele reconhece o sofrimento e o sacrifício dos trabalhadores.


“O Vinicius faz uma narrativa típica de poeta. Ele viaja muito na definição dos espaços e no processo todo de construção de Brasília. Ao mesmo tempo que é prosa, é também muito poético. Tem muita poesia misturada com a prosa dele”, destaca Jonas Bloch.


A narração em “Sinfonia da Alvorada” é praticamente um instrumento. A voz falada tem ritmo próprio e serve como fio condutor entre os cinco movimentos, evocando imagens e sensações. “O espetáculo se encerra com um discurso famoso de Juscelino sobre o planalto central e essa solidão que, em breve, será o cérebro das altas decisões nacionais. Foi desse discurso que se popularizou a palavra ‘alvorada’ associada à Brasília”, conta Bloch.


As apresentações de “Sinfonia da Alvorada” são tão raras que a própria estreia da peça só ocorreu nos anos 1980. Apesar de ter sido encomendada para a inauguração da nova capital, a obra de Tom e Vinicius não foi apresentada na cerimônia oficial, em 1960. Ela foi lançada primeiramente em disco, em fevereiro de 1961. A estreia ao vivo só ocorreu anos depois, em 1986 – seis anos após a morte de Vinicius –, na Praça dos Três Poderes, em Brasília.


“SINFONIA DA ALVORADA”
Regência: Paulo Rogério Lage. Com músicos da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais e narração de Jonas Bloch. Nesta quinta-feira (19/6), às 21h, no teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas (Rua da Bahia, 2.244, Lourdes). Ingressos à venda por R$ 100 (inteira) e R$ 50 (meia), na bilheteria e pelo Sympla. Informações: (31) 3516-1360.

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