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ARTES VISUAIS

Mineira cria movimento artístico próprio, o julianismo

Juliana Sousa de Oliveira desafia a ideia preconceituosa que nomeou artistas fora da Europa de primitivos, naifs, ingênuos, artesãos ou populares

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Especial para o Estado de Minas

Você já ouviu falar no julianismo? Como nomeamos os movimentos artísticos contemporâneos? Quais são as questões que os artistas nos trazem nos dias de hoje? Existe algum manifesto das artes? Como a artista Juliana Sousa de Oliveira propõe o julianismo? Como a pintura contemporânea dialoga com nossas indagações?


Juliana é uma artista que se interessa profundamente pelos temas da juventude. Sua investigação artística gira em torno das vivências dos jovens, começando com as amizades formadas em seu bairro e se expandindo para as conexões estabelecidas em toda a cidade de Belo Horizonte.


Na história da arte, as amizades sempre foram consideradas essenciais, especialmente no estudo das correspondências entre artistas, das redes de sociabilidade, da circulação de saberes, artistas e obras. Quais questões surgem da pesquisa de Juliana? Quais histórias de amizade ela nos conta?


Ao pintar seus autorretratos, Juliana tece uma escrita de si mesma, criando as linhas de sua autobiografia. Ao contar sua própria história, ela reflete sobre o seu lugar social no mundo. Nesse processo, encontra nas suas raízes e na força de sua ancestralidade a base para construir uma estética pessoal, marcada por pluralidades. A partir de si mesma e das suas relações de amizade, ela reconhece a importância das referências culturais, das culturas populares e urbanas, ativadas pelos jovens.


Referências culturais

A noção de referências culturais surge de um diálogo entre a antropologia e o patrimônio cultural, especialmente o Patrimônio Cultural Imaterial. É por meio dessas referências que o povo, as comunidades, os mestres da cultura, os moradores de um bairro ou integrantes de movimentos sociais podem atribuir seus próprios valores culturais, identificar seus patrimônios, musealizar seus acervos e nomear suas culturas, saberes e fazeres: festas, celebrações, lugares, objetos e artes.


Ao observar as pessoas ao redor, construindo laços de amizade e escutando atentamente as referências culturais, Juliana monta um inventário de memórias. Ela registra os modos de viver e os estilos de sua comunidade de afetos.


Em sua pintura, é possível perceber questões relacionadas a movimentos sociais, como LGBTQIA+, movimento negro, causas antirracistas, feministas e trabalhistas, todas presentes nos traços que revelam os laços afetivos e as referências culturais apresentadas pelas pessoas que ela retrata.


Qual é a contribuição da pintura contemporânea para as pautas dos movimentos sociais? Hoje, os manifestos dos artistas se refletem em suas atitudes, assim como em sua voz política. Quando um artista se une aos movimentos e reivindica, luta e resiste junto com as suas comunidades, ele traz à tona os valores do povo para o povo, dos jovens para os jovens, de toda gente para todo mundo, o universal pelo regional. Isso também se aplica às minhas próprias referências culturais cearenses, que contribuem à construção de um texto crítico a partir de uma leitura de mundo à Nordeste.


Sistema hegemônico

O julianismo é, portanto, um ato político de crítica ao cânone da história da arte. Juliana cria para si um movimento artístico próprio, desafiando a ideia preconceituosa que nomeou artistas fora da Europa de: primitivos, naifs, ingênuos, artesãos ou artistas populares, tratando-os como se não fossem artistas. Ela critica o sistema hegemônico e afirma que as referências de vida encontradas em sua vivência, e nas vidas de suas amizades, são parte de uma estética universal da arte.


Juliana amplia rostos, nomes, sorrisos, gestos, gostos e estilos de pessoas que historicamente não tiveram direito à exposição. Como uma jovem do povo, ela pinta para retratar as memórias das vivências das pessoas, de si e de seus amigos no mundo, dando-lhes elevação, grandeza, integridade, respeitabilidade e honestidade e, assim, valoriza cada ser humano com dignidade.


Juliana afirma que seu povo tem história, tem arte, tem estilo e estética própria. Talvez a artista Juliana Sousa de Oliveira só se torne julianismo em comunidade, junto dos seus parentes, como os povos indígenas se reconhecem. As pessoas do seu povo, a vida coletiva de afetos, são todos parentes; seu povo também faz parte dessa rede, as relações se afirmam pela vida cultural compartilhada. 


*Doutora em história da arte pela Universidade de Paris 1 Panthéon-Sorbonne e professora de teoria, crítica e história da arte na Escola de Belas Artes da UFMG.

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