
Beatriz Myrrha homenageia Marina Colasanti em 'Duas palavras'
Narradora de histórias vai ler contos da escritora, morta recentemente, e poemas de Affonso Romano de Sant'Anna, nesta quinta (13/2), em BH
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Siga noAinda no período da pandemia, a contadora de histórias, atriz e musicista Beatriz Myrrha concebeu, incitada pela professora Antonieta Cunha, um espetáculo de narração a partir dos contos de Marina Colasanti (1937-2025), que agora volta à baila como homenagem póstuma à escritora.
A apresentação será nesta quinta-feira (13/2), às 19h, na biblioteca do Centro Cultural Unimed-BH Minas, como parte da programação da Nona Noite Mineira de Museus e Bibliotecas.
A narração “Palavras a dois” cruza contos de Marina com poemas de Affonso Romano de Sant'Anna, seu companheiro de vida por mais de 50 anos. Beatriz conta que o espetáculo nasceu quando esteve pessoalmente com Marina, a quem admirava. “Ela já estava adoecendo, foi uma responsabilidade enorme emprestar minha voz para seus textos naquele momento. Antonieta me deu essa coragem”, recorda.
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“Palavras a dois” abarca três contos de Marina, que sofria de doença de Parkinson e morreu em decorrência de pneumonia no último dia 28. Um deles é sobre o rei que ordena que sons e palavras do palácio sejam trancados, pois deseja viver em absoluto silêncio. O outro, “A mulher ramada”, é sobre o jardineiro solitário que planta uma roseira para que tenha com quem compartilhar suas vivências. O terceiro focaliza o imperador Kublai Khan, que nunca saiu de sua fortaleza e vivia de escutar as histórias que o vento lhe trazia.
Beatriz explica que os contos têm em comum a abordagem sobre a palavra. Observa que os três se passam em ambientes palacianos, mas sem foco na fortaleza ou na riqueza, mas em pequenas vidas que também habitam esses lugares e passam despercebidas diante da grandiosidade do poder.
O projeto também tem a leitura de crônica de Marina. A interação entre os textos do casal se dá, de acordo com Beatriz, na conexão que estabeleceram na vida e na arte.
“Duas pessoas, para construírem uma vida como a que construíram, têm de ter muito a ver. A obra de ambos reflete isso. Os poemas do Affonso dialogam com os contos da Marina”, diz. “Tem o poema dele que versa sobre o amor vegetal, entre árvores que se amam de noite, e tem o conto 'A mulher ramada', sobre a flor que se enamora do jardineiro que a plantou.”
Para Beatriz, a principal característica da obra de Marina é a extrema sensibilidade, advinda de uma inteligência rara. “A gente se envolve com a trama, com o enredo, mas quando você parte para um estudo mais profundo, entende que é preciso incluir em uma narração palavra por palavra, porque não tem como mexer, sob risco de comprometer a tessitura e a musicalidade do texto”, ressalta.
Pioneira do feminismo
Ela chama a atenção para o fato de Marina ter sido mulher à frente de seu tempo, uma das pioneiras do feminismo no Brasil. “Ela propôs uma profunda reflexão sobre tudo, o mundo, o ser humano, o tempo atual e o tempo passado”, diz, destacando o requinte da obra da autora, “valendo-se de imagens poéticas para conduzir temas às vezes sensíveis, como a solidão, a desigualdade social e de gênero, tudo de forma muito sutil.”
Beatriz observa que “Palavras a dois” não tem nada de teatral e se ancora nas técnicas de narração. “Ali sou eu, Beatriz, contando histórias. Claro que a gente vivifica o personagem que está no texto, mas a cena tem que se passar é na cabeça de quem está ouvindo”, diz.
A música estará presente. “Vou levar meu piano e tocar Chopin para iniciar um dos contos, porque tem a ver. E também vou contar com a companhia de uma grande amiga, Cláudia Nicodemo, que é harpista e, com seu instrumento, vai propor um diálogo a mais”, informa.
“PALAVRAS A DOIS”
Espetáculo de Beatriz Myrrha, a partir de contos de Marina Colasanti e poemas de Affonso Romano de Sant'Anna. Nesta quinta-feira (13/2), às 19h, na biblioteca do Centro Cultural Unimed-BH Minas (Rua da Bahia, 2.244, Lourdes). Classificação: 15 anos. Entrada franca, com retirada de ingressos na plataforma Sympla.