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CINEMA

"Sing Sing" é drama sobre teatro na prisão com atuações soberbas

Baseado em história real, o longa que concorre a três estatuetas no Oscar, incluindo melhor ator para Colman Domingo, estreia nesta quinta (13/2) no Brasil

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Divine Eye é um caso difícil. Anda carregando uma faca, achaca outros homens, principalmente os brancos, e vende drogas para quem oferecer mais. Mas ele desarma não só Divine G e Mike Mike quanto o próprio espectador, ao recitar “Rei Lear”. “Assim que nascemos, choramos por nos vermos neste imenso palco de loucos.”


Uma das falas mais célebres da tragédia shakespeareana foi descoberta por Divine Eye após um período na solitária. Sim, ele é um dos detentos de Sing Sing, penitenciária de segurança máxima no estado de Nova York. Não, não sabemos exatamente o que ele fez para estar ali – certamente algo muito grave. Mas isto não importa, pois “Sing Sing”, que chega nesta quinta-feira (13/2) aos cinemas, conta outra história.


Com três indicações ao Oscar – Melhor Ator (Colman Domingo), Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Canção (“Like a bird”) –, o longa escrito (com Clint Bentley) e dirigido por Greg Kwedar nasceu a partir da reportagem “The Sing Sing follies”, publicada em 2005, na revista “Esquire”.


Ali, o jornalista John H. Richardson revelava o programa de teatro da prisão, naquela altura uma das três iniciativas do gênero que existiam nos EUA. Havia atraído o apoio da comunidade e de atores da Broadway.


Também “desencadeou um estudo do John Jay College for Criminal Justice (instituição de ensino em Nova York), que descobriu que atores presidiários têm melhores habilidades sociais e menos conflitos. A maioria dos atores está presa por assassinatos. A maioria está presa para o resto da vida”, escreveu Richardson.


Reabilitação

Programa que teve início em 1996, por meio de um workshop em Sing Sing, o Rehabilitation Through the Arts (Reabilitação por meio das artes) é o cerne do filme. Mas “Sing Sing” não é um melodrama edificante nem tampouco semelhante a qualquer outra produção sobre vida na prisão.


Kwedar e Bentley se valeram não só da reportagem de 20 anos atrás. Foram atrás das pessoas que viveram aquela história. E mais: escalaram para o elenco muitos homens egressos do sistema prisional que participaram do programa. Todos representam uma versão de si próprios.


Um deles é justamente Clarence “Divine Eye” Maclin, que também está creditado como corroteirista. Não só no momento “Rei Lear”, como em outras sequências do longa, o grandalhão rouba a cena, inclusive do próprio Colman Domingo, luminoso como o detento John “Divine G” Whitfield.


Divine G é o veterano do grupo. Autor de boa parte dos textos que os presos montam, semestralmente, na penitenciária, é ainda o braço direito de Brent Buell (Paul Raci, o mentor do protagonista de “O som do silêncio”, de 2019), um diretor de teatro, voluntário do programa, que se sente “muito mais em casa dentro da prisão do que em um palco em Nova York”. Mike Mike (Sean San Jose) é o melhor amigo de Divine G – vivendo por muitos anos em celas contíguas, eles costumam ter conversas densas por entre paredes.


Premissas

É Divine G quem vai atrás de Divine Eye para ver se ele tem interesse – e capacidade – de integrar o grupo teatral. Se surpreende com o grandalhão. A entrada dele no programa, que exige uma série de requisitos de seus participantes – bom comportamento é, obviamente, a premissa inicial –, vai impactar a todos.

No início, a trama nos leva a pensar em uma possível rivalidade entre os dois Divines. Bobagem, a história é maior que isto. Divine G, o personagem de Domingo, é estiloso e elegante como uma boa estrela teatral. Mas também carrega inseguranças como qualquer um. Está em Sing Sing há anos a perder de vista, por um crime que não cometeu.


A vida na prisão lhe deu confiança para ver além. A cada provocação de Divine Eye, ele responde com a outra face. O relacionamento entre estes dois homens – e as performances arrebatadoras de seus intérpretes – acabam se tornando a razão de ser de “Sing Sing”.


Na direção, Kwedar também fugiu ao lugar comum. As cenas são apresentadas de uma maneira muito próxima da vida real, em especial nas reuniões dos presidiários no clube de teatro. Vemos os personagens ensaiando suas falas, analisando o significado do texto, as performances uns dos outros e ainda comentando como a arte interfere em suas vidas. É como diz um deles: "Estamos aqui para ser humanos novamente".


Equidade de pagamento

Nos EUA, “Sing Sing”, o filme, foi lançado simultaneamente no circuito comercial e em prisões. O longa é também um dos mais baixos orçamentos nesta disputa pelo Oscar. Custou US$ 2 milhões. Todas as pessoas envolvidas na produção tiveram o mesmo salário.


“SING SING”
(EUA, 2023, 107min.). Direção: Greg Kwedar. Com Colman Domingo, Clarence Maclin e Sean San Jose. O filme estreia nesta quinta-feira (13/2), no Centro Cultural Unimed-BH Minas 2 (18h); Pátio 3 (13h30, 16h20, 19h40 [exceto sab e dom], 12h10, 15h, 17h30, 20h15 [somente sab e dom]; Ponteio 4 (16h15, 21h05); UNA Cine Belas Artes 2 (18h50).

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