Juraciara Vieira Cardoso
Juraciara Vieira Cardoso
Professora da UFMG, graduada em Direito, mestre em Direito Constitucional e doutora em Filosofia do Direito
COLUNA VITALidade

O amor na poesia: Fernando Pessoa e Vinicius de Moraes

No final de tudo, os dois nos ensinam como o amor pode transformar, enlevar ou consumir a alma humana

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E para prosseguir com nosso Elogio ao Amor, nada melhor que poesia. É nessa arte que o amor se mostra de modo mais pungente, revelando suas nuances de maneira única. Escolhi, por predileção, dois grandes poetas da língua portuguesa para tentar esboçar o que eu acredito que cada um deles escreveu sobre o amor. Primeiro, Pessoa, que ao invés de um, são vários; e depois, Moraes, que já é plural no próprio nome.


Creio que Fernando Pessoa, o poeta filósofo, com sua alma dividida em múltiplos heterônimos, enxerga o amor como uma experiência paradoxal. Em suas obras, o amor aparece tanto como uma força unificadora quanto uma fonte de angústia. No poema Todas as Cartas de Amor São Ridículas, Pessoa destaca a inevitável ridicularidade dos gestos amorosos, mas também a sinceridade profunda que eles carregam. Para ele, ao que parece, o amor é, ao mesmo tempo, sublime e prosaico, uma fusão de idealização e realidade.

 


Se analisarmos, cada um de seus heterônimos vivenciam o amor de maneira distinta: Álvaro de Campos parece experimentar o amor com uma intensidade desesperada; Ricardo Reis parece o contemplar com serenidade e resignação; enquanto Alberto Caeiro parece o tratar com simplicidade e naturalidade. Entendo que para Pessoa, o amor não é apenas um tema literário, mas um caminho para explorar e compreender a própria existência: um sentimento que, embora possa parecer ridículo, carrega em si a profundidade de toda a experiência humana.


Por outro lado, Vinicius de Moraes, mais conhecido por suas músicas, mas dono de lindos sonetos e versos sobre o amor, parece entender o amor como uma força vital e transformadora. Em suas obras, o amor é exaltado como uma experiência total, que deve ser vivida em sua plenitude. No Soneto de Fidelidade, meu predileto, ele promete viver o amor de modo intenso e verdadeiro: “Que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure”. Essa visão do amor como uma chama que arde, mesmo que temporariamente, sugere que a intensidade e a verdade do sentimento podem ser muito mais importantes que sua duração.


Para Vinicius, o amor parece ser a maior expressão da beleza e do sentido da vida, uma força que traz alegria, mas também tristeza. E amar, ao que parece, é aceitar o amor em todas as suas nuances, vivê-lo como eterno, mesmo sabendo de sua transitoriedade. Em sua obra o amor parece ser, ao mesmo tempo, doce e melancólico, uma força que enleva a alma, mas que também a consome em saudade e dor. Vinicius é visceral e nos convida a sermos também.


Não é possível fazer uma comparação entre os dois, pois, de um lado temos Fernando Pessoa que, por meio de seus diversos heterônimos, expressa o amor de maneira a refletir suas próprias contradições, colocando na boca de cada um de seus falantes uma concepção diversa sobre o amor. E de outro lado, temos Vinicius de Moraes, que vê o amor como uma experiência intensa, bela e transformadora, que deve ser vivida com toda a sua intensidade.


Ambos, de maneira distinta, capturaram a essência do amor, tanto em sua beleza quanto em sua complexidade. O poema sobre as ridículas Cartas de Amor, de Pessoa, nos mostra a inevitável dualidade entre a sublime sinceridade e a aparente banalidade dos gestos amorosos; enquanto a crença de Moraes de que o amor só deve ser eterno enquanto durar, nos mostra que o amor romântico é sublime, no entanto, transitório. No final de tudo, os dois nos ensinam como o amor pode transformar, enlevar ou consumir a alma humana, tudo a depender das circunstâncias.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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