Túlio D'angelo
Túlio D'angelo
Túlio D’angelo é advogado e empresário. Já ocupou relevantes cargos na administração pública e privada. Optou pelo ramo da coquetelaria e alimentação e hoje está à frente do Bar Palito e do Chopp Bolacha. Também é o curador da Galeria São Vicente, na Praç
PAPO DE BALCÃO

Vermute: quando a moda finalmente encontra verdade

O consumidor atual busca bebidas com menos teor alcoólico, mais frescas, mais gastronômicas

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O vermute está vivendo seu momento de glória. Pelo menos é o que dizem as redes sociais, os bartenders da moda e os cardápios recém-atualizados que pipocam pela cidade. A Europa já vive essa onda há alguns anos, especialmente Espanha e Itália, onde o vermute não é tendência: é rotina, é mesa de domingo, é costume de família. Por lá, ele nunca saiu de moda para poder “voltar”. Faz parte da paisagem cultural tanto quanto o café da tarde ou o vinho barato da esquina.

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Aqui no Brasil, como sempre, importamos a novidade depois, embalamos com hashtags e chamamos de trend. O problema não é copiar; é copiar sem alma. Temos uma certa vocação para abraçar modas gastronômicas que, ao atravessarem o Atlântico, perdem justamente o ingrediente essencial: a verdade. Muitos bares colocam uma taça de vermute no cardápio só porque o algoritmo pediu, não porque entendem a bebida, sua história ou sua função dentro da coquetelaria.


E aí entra a parte boa da história: algumas casas fogem completamente dessa regra.


O Fuga (@fuga.bh), recém-aberto em Belo Horizonte, é uma delas. O bar é comandado por um argentino que não “surfou” na moda do vermute, ele trouxe a própria memória líquida. Para quem cresceu bebendo “vermú” desde cedo, não tem nada de tendência nisso: é parte da identidade. E identidade, ao contrário de modas, não se fabrica com pressa nem com fotos de referência no Pinterest.


O Fuga não serve vermute para agradar um ciclo de consumo, serve porque faz sentido, porque pertence à vida do dono, porque existe fundamento. É um exemplo raro de quando o Brasil recebe uma moda e, finalmente, devolve algo verdadeiro.


E por que essa história importa? Porque o vermute sempre foi uma peça central da coquetelaria clássica. É base de drinks históricos, do Manhattan ao Negroni, e é um dos poucos ingredientes capazes de transitar entre o aperitivo leve, o drink seco e a mistura mais complexa, sem nunca perder o charme. O vermute é versátil, elegante, democrático. Funciona puro com gelo, com água tônica, com uma casca de laranja, em alta coquetelaria ou no bar da esquina, se o bar da esquina souber o que está fazendo.


Além disso, o momento é perfeito. O consumidor atual busca bebidas com menos teor alcoólico, mais frescas, mais gastronômicas. A onda de aperitivos globais Spritz, Americanos, highballs aromáticos abriu espaço para essa redescoberta. O vermute, com seus botânicos e sua delicadeza, fala diretamente com essa nova cabeça. Ele entrega experiência sem precisar derrubar ninguém.


O que falta, no Brasil, é justamente reconhecer que moda não é um problema, o problema é a ausência de verdade por trás dela. O vermute merece mais do que uma febre passageira; ele merece contexto, história, entendimento. E quando encontra isso mostra sua força real.


Talvez essa seja a melhor definição possível: vermute é um clássico que nunca fez questão de aparecer, mas, quando volta à superfície, volta com graça. Como toda boa tradição europeia, só precisa de honestidade para funcionar.


E, por aqui, quando esse ingrediente aparece, a gente percebe: a moda finalmente faz sentido.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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