Vitamina D e saúde musculoesquelética: mito, moda ou necessidade real?
Apesar de o Brasil ser um país tropical, a deficiência de vitamina D é surpreendentemente comum
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Nos últimos anos, poucos temas geraram tanta polêmica na medicina quanto a vitamina D. De um lado, ela foi alçada ao status de “vitamina milagrosa”, capaz de prevenir desde osteoporose até depressão e câncer. De outro, surgiram alertas sobre suplementações excessivas, exames desnecessários e promessas sem base científica.
Entre modismos, redes sociais e interpretações equivocadas de estudos, o paciente fica perdido: afinal, a vitamina D é mesmo essencial? E, mais importante, quando ela realmente precisa ser reposta?
O que é, afinal, a vitamina D?
Apesar do nome, a vitamina D não é exatamente uma vitamina. Tecnicamente, ela funciona como um hormônio, produzido na pele a partir da exposição solar.
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Quando a luz ultravioleta B (UVB) atinge a pele, o corpo converte o colesterol em vitamina D3 (colecalciferol), que depois é transformada no fígado e nos rins em sua forma ativa — o calcitriol. É essa molécula que regula uma série de funções metabólicas, principalmente relacionadas ao cálcio e fósforo, fundamentais para a saúde dos ossos e músculos.
A vitamina D é essencial para:
• A absorção de cálcio no intestino — sem ela, o cálcio da dieta não é aproveitado adequadamente.
• A mineralização óssea — garantindo que os ossos mantenham força e densidade.
• A função muscular — influência direta sobre força e contração.
• O sistema imunológico — modulação de células de defesa e resposta inflamatória.
Ou seja, sem níveis adequados de vitamina D, o corpo entra em desequilíbrio.
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Ossos e músculos formam um sistema interdependente. A deficiência de vitamina D enfraquece ambos. Em crianças, causa o raquitismo, caracterizado por deformidades ósseas e atraso no crescimento. Em adultos, leva à osteomalácia, com ossos frágeis e dolorosos. E em idosos, está associada ao aumento do risco de osteoporose, quedas e fraturas.
Além disso, baixos níveis de vitamina D prejudicam o desempenho muscular e a coordenação motora. Diversos estudos demonstram que idosos com deficiência têm menor força nas pernas e maior instabilidade ao caminhar.
Apesar de o Brasil ser um país tropical, a deficiência de vitamina D é surpreendentemente comum. Isso se explica por uma combinação de fatores:
• Menor exposição solar real
• Uso excessivo de protetor solar
• Envelhecimento
• Obesidade
• Alterações renais ou hepáticas
Ou seja, o problema não é a falta de sol no país, mas o estilo de vida moderno que nos afastou do sol.
A literatura médica é clara em alguns pontos — e controversa em outros.
O que é consenso:
- A vitamina D é essencial para a saúde óssea e muscular.
- Pacientes com deficiência comprovada se beneficiam da reposição.
- A suplementação reduz o risco de fraturas e quedas em idosos com níveis baixos.
O que é controverso:
- O uso de vitamina D em pessoas saudáveis e com níveis normais não mostra benefício comprovado para prevenção de doenças crônicas, como câncer, diabetes, depressão ou COVID-19.
- Doses muito altas, usadas sem acompanhamento médico, podem causar intoxicação, com aumento perigoso de cálcio no sangue, levando a lesão renal e arritmias cardíacas.
- Em outras palavras: suplementar sem necessidade pode fazer mal.
A armadilha da “vitamina milagrosa”
Nos últimos anos, o marketing de suplementos transformou a vitamina D em um produto de consumo cotidiano. Passou a ser vista como solução genérica para cansaço, dor muscular, imunidade e até estética.
O problema é que essa popularização veio acompanhada de automedicação.
Milhares de pessoas passaram a usar altas doses sem qualquer exame laboratorial, muitas vezes influenciadas por vídeos na internet.
Mas, como em quase tudo na medicina, mais não é melhor. A vitamina D tem uma faixa ótima — tanto a deficiência quanto o excesso trazem prejuízos.
Qual é o nível ideal?
Os valores considerados adequados variam um pouco entre sociedades médicas, mas, de forma geral:
• Acima de 30 ng/mL: considerado suficiente para a maioria das pessoas.
• Entre 20 e 30 ng/mL: zona intermediária, onde a suplementação pode ou não ser necessária, dependendo do contexto clínico.
• Abaixo de 20 ng/mL: deficiência que justifica tratamento.
Para idosos, pacientes com osteoporose, doenças inflamatórias crônicas ou obesidade, o ideal é manter os níveis entre 30 e 50 ng/mL.
Acima de 100 ng/mL, há risco de toxicidade.
Vitamina D e performance física
Nos últimos anos, também cresceu o interesse da medicina esportiva pela vitamina D.
Atletas com níveis adequados apresentam melhor força e recuperação muscular, além de menor risco de lesões por estresse.
Já níveis muito baixos estão ligados à fadiga precoce e à diminuição do rendimento. Ainda assim, suplementar sem comprovação de deficiência não aumenta a performance. O efeito máximo é o de normalizar o metabolismo — e não de “turbinar” o atleta.
O papel do estilo de vida
Nenhum suplemento substitui o básico: alimentação equilibrada, exposição solar e movimento. O exercício físico estimula a remodelação óssea e o fortalecimento muscular — mecanismos que atuam em sinergia com a vitamina D.
O corpo precisa de sol, mas também de carga, impacto e estímulo. Ossos fortes não se fazem apenas de cálcio e hormônio, mas de vida ativa.
Mensagem final ao leitor: se você desconfia de deficiência de vitamina D, procure orientação e faça o exame. Mas lembre-se: o corpo foi feito para produzir essa vitamina naturalmente. Talvez o melhor suplemento esteja a poucos passos da sua casa — sob a luz do sol, enquanto você caminha, se movimenta e vive.
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As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.
