Tiago Baumfeld
Tiago Baumfeld
Ortopedista Especialista em Pé e Tornozelo. Doutor em Ortopedia pela UFMG.
PÉ & TORNOZELO

Mais movimento, menos remédio

O exercício como o tratamento mais subutilizado da medicina

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Vivemos em uma era de avanços tecnológicos impressionantes na medicina. Cirurgias robóticas, 
terapias biológicas, medicamentos cada vez mais específicos — tudo isso tem transformado o cuidado
com a saúde. No entanto, entre tantas inovações, um dos tratamentos mais eficazes, acessíveis e
universais continua subutilizado: o exercício físico.

O paradoxo da inatividade

A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera o sedentarismo o quarto principal fator de risco de mortalidade global, atrás apenas de hipertensão, tabagismo e hiperglicemia. Mesmo assim, estima-se que mais de 40% da população adulta brasileira não atinge o mínimo recomendado de atividade física semanal.

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É um paradoxo curioso: vivemos mais, mas nos movemos menos. Trabalhamos sentados, deslocamo-nos de carro, pedimos comida por aplicativo e passamos horas diante de telas. Nosso corpo, projetado pela evolução para o movimento, passou a ser tratado como um mero suporte para a mente.

E o preço é alto: aumento de doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, obesidade, depressão e dores crônicas.

O exercício como remédio

O exercício físico é um dos poucos “fármacos” capazes de agir em praticamente todos os sistemas do corpo humano — e o faz sem bula complicada.

Estudos robustos mostram que a prática regular de atividade física reduz em até 50% o risco de doenças cardíacas, em 40% o risco de câncer de cólon, em 30% o risco de depressão e em até 68% o risco de morte precoce.

O segredo está na abrangência: o movimento não trata apenas um órgão, mas atua como um modulador sistêmico da saúde.

Benefícios por sistemas

Sistema cardiovascular

O exercício melhora o condicionamento cardiorrespiratório, reduz a pressão arterial e favorece o equilíbrio do colesterol. O coração, como qualquer músculo, responde ao treino — fica mais eficiente e resistente.

Sistema musculoesquelético

A atividade física fortalece ossos, articulações e músculos, prevenindo osteoporose, sarcopenia e quedas. A força não é apenas estética; é um marcador direto de longevidade.

Sistema nervoso e mental

Durante o exercício, o cérebro libera endorfinas, dopamina e serotonina, neurotransmissores associados ao prazer e ao bem-estar. O movimento é uma das intervenções mais eficazes contra depressão leve e moderada, ansiedade e declínio cognitivo.

Metabolismo e controle de peso

Treinar regularmente melhora a sensibilidade à insulina, reduz gordura visceral e aumenta o gasto energético de repouso. O corpo se torna metabolicamente mais eficiente.

Sistema imunológico

Atividades moderadas estimulam células de defesa e reduzem marcadores inflamatórios. Pessoas ativas adoecem menos e se recuperam mais rápido.

Se os benefícios são tão claros, por que o movimento ainda é tão negligenciado?
A resposta é multifatorial.

  1. Cultura médica centrada no remédio

  2. Falta de tempo (ou de prioridade)

  3. Sedentarismo aprendido

  4. Dor e medo

Em vários países, já existem programas de “Exercise is Medicine”, uma iniciativa global que propõe a inclusão do exercício como parte formal da receita médica.
Nela, o médico não apenas recomenda “fazer atividade física”, mas prescreve tipo, frequência, intensidade e duração, de acordo com a condição clínica do paciente.

No Brasil, essa prática ainda engatinha, mas cresce a cada ano, especialmente em especialidades como cardiologia, ortopedia e endocrinologia.

A dose certa: o exercício como fármaco

Assim como um medicamento, o exercício precisa de dose, frequência e forma de administração adequadas.
A OMS recomenda, para adultos, pelo menos 150 minutos de atividade física moderada por semana, ou 75 minutos de atividade vigorosa — o equivalente a 30 minutos de caminhada rápida cinco vezes por semana.

Mas há nuances:

  • Para ganho de força e massa muscular, o ideal é incluir treinamento resistido (musculação, pilates, elásticos) de 2 a 3 vezes por semana.

  • Para saúde cardiovascular, caminhadas, corridas leves, ciclismo e natação são excelentes opções.

  • Para equilíbrio e coordenação, práticas como yoga e tai chi chuan são ideais, especialmente em idosos.

O segredo está em variedade e regularidade — mais importante do que intensidade extrema é a constância.

O movimento como política pública

Promover a atividade física não é apenas um ato individual, mas uma estratégia de saúde pública. Cidades com ciclovias, praças bem cuidadas e espaços para caminhada estimulam a população a se movimentar mais. Ambientes urbanos que favorecem o sedentarismo, por outro lado, perpetuam o ciclo da doença.

O investimento em programas de atividade física comunitária tem retorno econômico comprovado mundialmente: para cada dólar investido em promoção de movimento, economizam-se quatro em tratamento de doenças crônicas.

Mensagem final ao leitor: antes de buscar o próximo remédio, pergunte-se se já está usando aquele que o corpo oferece de graça — o movimento. Caminhar, subir escadas, pedalar, nadar, dançar: não importa o formato. O que importa é que o corpo humano foi feito para se mover, e cada vez que ele se move, se cura um pouco mais.

Quer mais dicas sobre esse assunto? Acesse: www.tiagobaumfeld.com.br ou siga @tiagobaumfeld.

As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.

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