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Até que ponto ele ajuda de fato? E, principalmente, pode trazer algum risco de lesões?
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              Nos últimos anos, uma verdadeira revolução tomou conta das corridas de rua. Não foi apenas a popularização das provas longas, como as maratonas, nem o crescimento exponencial do número de corredores amadores no Brasil e no mundo. O grande divisor de águas atende por um nome simples: tênis com placa de carbono.
Desde 2016, quando um modelo de uma grande marca esportiva apareceu nos pés de atletas profissionais em provas de alto nível, o mercado nunca mais foi o mesmo. Recordes caíram em sequência, as principais maratonas passaram a ser dominadas por corredores usando o novo recurso e a tecnologia se disseminou rapidamente. Hoje, praticamente todas as grandes marcas oferecem sua versão de tênis com placa de carbono.
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Mas será que esse recurso, que revolucionou a elite do atletismo, é também uma boa escolha para os corredores amadores? Até que ponto ele ajuda de fato? E, principalmente, pode trazer algum risco de lesões?
A ciência por trás da placa de carbono
O segredo desse tipo de calçado está na combinação de dois elementos:
• Espuma de alta responsividade – extremamente leve, capaz de absorver impacto e devolver energia de forma eficiente.
• Placa rígida de carbono – inserida entre as camadas de espuma, funciona como uma mola, favorecendo o efeito de alavanca e impulsionando a passada.
O resultado é um tênis que reduz o gasto energético em 3% a 4% em comparação aos modelos tradicionais. Pode parecer pouco, mas em corridas de alto rendimento essa economia é suficiente para a quebra de recordes.
Benefícios para amadores
Se a elite mundial ganha segundos preciosos com a placa de carbono, o que acontece com quem corre em ritmos mais lentos?
1 - Economia de energia
Mesmo corredores recreativos podem se beneficiar da melhora na eficiência. A sensação de “correr mais fácil” aparece com frequência nos relatos. Para quem busca completar uma meia maratona ou maratona, qualquer ajuda na economia energética faz diferença.
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2 - Redução de impacto percebido
A espuma de última geração combinada à placa oferece maior absorção. Muitos corredores relatam menos dor após treinos longos, principalmente em joelhos e quadris.
3- Melhora psicológica
Existe também o efeito placebo positivo: ao calçar o mesmo modelo usado por atletas de elite, o corredor se sente mais confiante, motivado e capaz. Essa confiança, por si só, pode melhorar a performance.
4 - Prevenção de fadiga muscular
A propulsão adicional da placa pode reduzir a exaustão de músculos da panturrilha e do quadríceps em provas longas. Isso pode ser um fator protetor contra lesões de sobrecarga.
Os riscos potenciais
Nem tudo, porém, é vantagem. O uso indiscriminado dos tênis com placa de carbono pode trazer problemas, especialmente para quem ainda está construindo base de corrida.
1 - Alteração na mecânica da passada
2 - Aumento do risco de lesões por uso excessivo
3 - Dependência do calçado
4 - Custo elevado
O que dizem os estudos científicos
Pesquisas recentes confirmam a economia de energia nos corredores de elite, mas os resultados para amadores ainda são variáveis. Um estudo publicado no Journal of Sports Science mostrou que corredores recreativos também apresentaram melhora na economia de corrida, mas com grande variação individual. Em alguns, o benefício foi claro; em outros, quase inexistente.
Outro ponto importante: não há evidência de que o uso frequente reduza risco de lesão. Pelo contrário, em corredores mal preparados, a alteração na mecânica pode ser fator predisponente.
Para quem vale a pena?
De forma geral, podemos pensar em três perfis:
• Corredores de elite ou sub-elite: o uso é praticamente obrigatório. Em provas decisivas, qualquer ganho de eficiência pode ser determinante.
• Amadores experientes, com bom preparo: podem se beneficiar em treinos específicos e provas-alvo. O tênis funciona como um recurso estratégico, não como calçado de uso diário.
• Iniciantes ou corredores em fase de construção: não é prioridade. Antes de investir em tecnologia, é mais importante desenvolver técnica, fortalecimento muscular e progressão gradual.
Para que o tênis com placa de carbono seja aliado, e não vilão, algumas recomendações são fundamentais:
•Não usar em todos os treinos – reserve para treinos de ritmo, intervalados e provas. No dia a dia, mantenha modelos tradicionais.
• Fortalecer a musculatura da panturrilha e do quadril – reduz risco de sobrecarga ao adaptar-se ao novo padrão de passada.
• Introduzir de forma progressiva – comece com treinos curtos, observe como seu corpo responde e aumente gradualmente.
• Avaliar individualmente – não há regra universal. Alguns corredores respondem muito bem, outros sentem desconforto. Escute o corpo.
• Consultar profissionais – acompanhamento de treinador, fisioterapeuta ou médico do esporte é essencial, principalmente se houver histórico de lesões.
Mensagem final para o leitor: antes de investir em um tênis de carbono, avalie seu momento na corrida. Se já treina com regularidade, busca performance em provas específicas e tem boa base de fortalecimento, o modelo pode ser um grande aliado. Mas se ainda está iniciando, concentre-se no mais importante: constância, técnica e saúde. A tecnologia pode esperar.
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As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.
