Tiago Baumfeld
Tiago Baumfeld
Ortopedista Especialista em Pé e Tornozelo. Doutor em Ortopedia pela UFMG.
PÉ & TORNOZELO

Tênis minimalista ou maximalista: o que realmente muda para pés e tornozelo

Entender essas diferenças é fundamental não só para a performance, mas também para a prevenção de lesões

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Nos últimos anos, o mercado de calçados esportivos passou por uma verdadeira revolução. Se antes o corredor tinha que escolher basicamente entre um tênis mais macio ou mais rígido, hoje se vê diante de uma prateleira que parece falar uma nova língua: “minimalista”, “maximalista”, “com placa de carbono”, “super foam”, “drop zero”. Essa multiplicidade de opções não é apenas uma jogada de marketing — cada tipo de calçado altera de forma concreta a mecânica da corrida e, consequentemente, a forma como pés e tornozelos suportam e transmitem carga. Entender essas diferenças é fundamental não só para a performance, mas também para a prevenção de lesões.


O que é um tênis minimalista?


O minimalismo nos calçados esportivos nasceu inspirado na ideia de correr de forma mais natural, simulando o movimento do pé descalço. O tênis minimalista apresenta sola fina, pouco ou nenhum amortecimento e, muitas vezes, drop reduzido (diferença de altura entre calcanhar e antepé de 0 a 4mm). A proposta é fazer com que os músculos intrínsecos do pé, a fáscia plantar e os tendões — especialmente o tendão de Aquiles — trabalhem mais ativamente, absorvendo impacto e gerando propulsão.


Do ponto de vista biomecânico, isso implica maior exigência da musculatura da panturrilha e maior flexão de tornozelo na aterrissagem. Para corredores experientes e adaptados, isso pode trazer sensação de leveza e até redução de impacto no joelho. Porém, para quem não está condicionado, o risco é alto: sobrecarga no tendão de Aquiles, fascite plantar e fraturas por estresse nos ossos do pé, especialmente no metatarso.


O maximalismo e a febre do amortecimento


Na direção oposta, os tênis maximalistas chegaram com a promessa de amortecimento extremo. São calçados com entressola alta, espessa, feita de materiais ultraleves e responsivos. O drop costuma ser variado, mas o ponto central é a absorção de impacto: cada passada parece “afundar” em uma nuvem. Para quem tem histórico de dor no joelho, sensibilidade articular ou deseja mais conforto em treinos longos, eles podem ser um alívio.


No entanto, mais amortecimento não significa ausência de risco. Um calçado muito alto eleva o centro de gravidade e pode comprometer a estabilidade, especialmente em terrenos irregulares, aumentando a chance de entorse de tornozelo. Além disso, o excesso de absorção pode reduzir o estímulo aos músculos e tendões do pé, levando a perda de força e controle motor ao longo do tempo.


Placa de carbono: performance ou risco?

 

O grande protagonista das maratonas recentes é o tênis com placa de carbono. Desenvolvidos inicialmente para quebrar barreiras de tempo em longas distâncias, esses calçados unem espumas super responsivas a uma placa rígida de carbono inserida na entressola. O efeito é uma corrida com mais propulsão e economia de energia, permitindo manter ritmos mais rápidos com menor desgaste percebido.


Do ponto de vista da biomecânica, a placa de carbono reduz a flexão do pé durante a passada e desloca parte da força para a fase de propulsão. Isso pode melhorar a eficiência, mas também aumenta a carga sobre estruturas específicas, como o antepé e os músculos da panturrilha. Há relatos de aumento de lesões como metatarsalgia, tendinopatias e até fraturas por estresse em atletas que adotam o modelo sem período adequado de adaptação.


O papel do pé e do tornozelo na corrida


Independentemente do calçado, é preciso lembrar que pés e tornozelos funcionam como o primeiro sistema de amortecimento do corpo. O arco plantar, os músculos intrínsecos do pé e o complexo articular do tornozelo são responsáveis por absorver e transferir forças a cada passo. Alterar o calçado significa alterar a forma como essas forças chegam às estruturas — e isso demanda adaptação.


Minimalistas: aumentam a exigência muscular e tendínea, fortalecendo, mas também sobrecarregando estruturas se usados de forma abrupta.


Maximalistas: reduzem o impacto imediato, mas podem diminuir o estímulo proprioceptivo e a força de controle.


Placa de carbono: auentam a eficiência mecânica, mas concentram cargas em áreas específicas.


Como escolher e se adaptar


A escolha deve considerar o histórico de lesões, o tipo de treino, o nível de condicionamento e as preferências pessoais. Mais importante que escolher é saber como se adaptar.
»Transição gradual: mudar do maximalista para o minimalista (ou vice-versa) exige tempo. Comece com treinos curtos e aumente progressivamente a distância.
»Fortalecimento: trabalhar a musculatura de pé, tornozelo e panturrilha para suportar novas demandas.
»Variedade: alternar entre modelos pode reduzir sobrecarga repetitiva e manter diferentes capacidades musculares ativas.
»Superfície: terrenos irregulares exigem mais estabilidade; cuidado com calçados muito altos.
»Feedback corporal: dor persistente não é “sinal de adaptação” — é sinal de sobrecarga.


Minimalista, maximalista ou com placa de carbono — cada um desses modelos tem vantagens e desvantagens. Não existe escolha “certa” universal, mas sim aquela que se encaixa na sua história de treino, no seu corpo e nos seus objetivos. O mais importante é respeitar a adaptação e lembrar que, na corrida, quem dita as regras não é o tênis, mas o corredor que sabe ouvir o próprio corpo.


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