
Tênis minimalista ou maximalista: o que realmente muda para pés e tornozelo
Entender essas diferenças é fundamental não só para a performance, mas também para a prevenção de lesões
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Nos últimos anos, o mercado de calçados esportivos passou por uma verdadeira revolução. Se antes o corredor tinha que escolher basicamente entre um tênis mais macio ou mais rígido, hoje se vê diante de uma prateleira que parece falar uma nova língua: “minimalista”, “maximalista”, “com placa de carbono”, “super foam”, “drop zero”. Essa multiplicidade de opções não é apenas uma jogada de marketing — cada tipo de calçado altera de forma concreta a mecânica da corrida e, consequentemente, a forma como pés e tornozelos suportam e transmitem carga. Entender essas diferenças é fundamental não só para a performance, mas também para a prevenção de lesões.
O que é um tênis minimalista?
O minimalismo nos calçados esportivos nasceu inspirado na ideia de correr de forma mais natural, simulando o movimento do pé descalço. O tênis minimalista apresenta sola fina, pouco ou nenhum amortecimento e, muitas vezes, drop reduzido (diferença de altura entre calcanhar e antepé de 0 a 4mm). A proposta é fazer com que os músculos intrínsecos do pé, a fáscia plantar e os tendões — especialmente o tendão de Aquiles — trabalhem mais ativamente, absorvendo impacto e gerando propulsão.
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Do ponto de vista biomecânico, isso implica maior exigência da musculatura da panturrilha e maior flexão de tornozelo na aterrissagem. Para corredores experientes e adaptados, isso pode trazer sensação de leveza e até redução de impacto no joelho. Porém, para quem não está condicionado, o risco é alto: sobrecarga no tendão de Aquiles, fascite plantar e fraturas por estresse nos ossos do pé, especialmente no metatarso.
O maximalismo e a febre do amortecimento
Na direção oposta, os tênis maximalistas chegaram com a promessa de amortecimento extremo. São calçados com entressola alta, espessa, feita de materiais ultraleves e responsivos. O drop costuma ser variado, mas o ponto central é a absorção de impacto: cada passada parece “afundar” em uma nuvem. Para quem tem histórico de dor no joelho, sensibilidade articular ou deseja mais conforto em treinos longos, eles podem ser um alívio.
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No entanto, mais amortecimento não significa ausência de risco. Um calçado muito alto eleva o centro de gravidade e pode comprometer a estabilidade, especialmente em terrenos irregulares, aumentando a chance de entorse de tornozelo. Além disso, o excesso de absorção pode reduzir o estímulo aos músculos e tendões do pé, levando a perda de força e controle motor ao longo do tempo.
Placa de carbono: performance ou risco?
O grande protagonista das maratonas recentes é o tênis com placa de carbono. Desenvolvidos inicialmente para quebrar barreiras de tempo em longas distâncias, esses calçados unem espumas super responsivas a uma placa rígida de carbono inserida na entressola. O efeito é uma corrida com mais propulsão e economia de energia, permitindo manter ritmos mais rápidos com menor desgaste percebido.
Do ponto de vista da biomecânica, a placa de carbono reduz a flexão do pé durante a passada e desloca parte da força para a fase de propulsão. Isso pode melhorar a eficiência, mas também aumenta a carga sobre estruturas específicas, como o antepé e os músculos da panturrilha. Há relatos de aumento de lesões como metatarsalgia, tendinopatias e até fraturas por estresse em atletas que adotam o modelo sem período adequado de adaptação.
O papel do pé e do tornozelo na corrida
Independentemente do calçado, é preciso lembrar que pés e tornozelos funcionam como o primeiro sistema de amortecimento do corpo. O arco plantar, os músculos intrínsecos do pé e o complexo articular do tornozelo são responsáveis por absorver e transferir forças a cada passo. Alterar o calçado significa alterar a forma como essas forças chegam às estruturas — e isso demanda adaptação.
Minimalistas: aumentam a exigência muscular e tendínea, fortalecendo, mas também sobrecarregando estruturas se usados de forma abrupta.
Maximalistas: reduzem o impacto imediato, mas podem diminuir o estímulo proprioceptivo e a força de controle.
Placa de carbono: auentam a eficiência mecânica, mas concentram cargas em áreas específicas.
Como escolher e se adaptar
A escolha deve considerar o histórico de lesões, o tipo de treino, o nível de condicionamento e as preferências pessoais. Mais importante que escolher é saber como se adaptar.
»Transição gradual: mudar do maximalista para o minimalista (ou vice-versa) exige tempo. Comece com treinos curtos e aumente progressivamente a distância.
»Fortalecimento: trabalhar a musculatura de pé, tornozelo e panturrilha para suportar novas demandas.
»Variedade: alternar entre modelos pode reduzir sobrecarga repetitiva e manter diferentes capacidades musculares ativas.
»Superfície: terrenos irregulares exigem mais estabilidade; cuidado com calçados muito altos.
»Feedback corporal: dor persistente não é “sinal de adaptação” — é sinal de sobrecarga.
Minimalista, maximalista ou com placa de carbono — cada um desses modelos tem vantagens e desvantagens. Não existe escolha “certa” universal, mas sim aquela que se encaixa na sua história de treino, no seu corpo e nos seus objetivos. O mais importante é respeitar a adaptação e lembrar que, na corrida, quem dita as regras não é o tênis, mas o corredor que sabe ouvir o próprio corpo.
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